25 anos após apartheid, sonho de Mandela ainda é "miragem"
Silja Fröhlich | ac
26 de abril de 2019
Um quarto de século após o fim do "apartheid", a corrupção, a desigualdade social e o racismo ainda caracterizam a África do Sul. O sonho de igualdade de Nelson Mandela continua por cumprir.
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Completam-se neste sábado (27.04) 25 anos desde o nascimento da nova África do Sul, a denominada "nação arco-íris", após meio século de "apartheid", o sistema de segregação racial.
As primeiras eleições da África do Sul verdadeiramente democráticas realizaram-se a 27 de abril de 1994. Todos os sul-africanos, registados numa lista eleitoral comum, puderam votar. Isso marcou o fim de uma longa e dura luta pela liberdade, assim como a separação entre brancos e negros. Como Presidente, o objetivo de Nelson Mandela era reconciliar a minoria branca com a maioria negra no país. A entrada para a democracia foi celebrada em todo o mundo.
Hoje, os desafios políticos e económicos são enormes. O sonho de Nelson Mandela mantém-se vivo? A bandeira colorida da África do Sul, içada há 25 anos, continua a ser um símbolo do momento da partida para uma nova era, o momento em que o então Presidente sul-africano Frederik Willem de Klerk e o lutador pela liberdade Nelson Mandela concordaram em acabar com o "apartheid".
Um quarto de século depois, a euforia diminuiu e os problemas são muitos, começando pelos altos índices de desemprego, criminalidade e iliteracia, a África do Sul está a lutar politica e economicamente em várias frentes.
Racismo em primeiro plano
Shenilla Mohamed, diretora executiva da Amnistia Internacional na África do Sul, recorda que "Mandela tinha um sonho muito romântico de uma nação onde todos são iguais, onde as pessoas têm acesso aos seus direitos básicos, económicos, sociais e culturais. Mas a África do Sul é um país onde a qualidade de vida não melhorou para a maioria da população em 25 anos, com questões como racismo ainda em primeiro plano."
"As pessoas ficaram dececionadas com um sistema que prometeu que tudo era possível", acrescenta.
De facto, o país é abalado pela corrupção dentro do próprio Governo. Milhões de rands sul-africanos terão sido desviados por funcionários do Executivo para uso privado, afirma o analista político Nickson Katembo em entrevista à DW África.
"A África do Sul atualmente ocupa o lugar 73 entre os 180 [países] do Índice de Percepção da Corrupção, publicado anualmente pela ONG Transparency International, mas a pobreza continua a ser o maior obstáculo do país. Um em cada quatro sul-africanos está desempregado e o número estimado de pessoas desalojadas é de cerca 200.000. O acesso à saúde e o fornecimento de eletricidade ainda não são assegurados a todos", refere.
Garantir justiça económica
A razão está na persistente desigualdade entre ricos e pobres, negros e brancos, indica ainda o analista Katembo. "Há uma lacuna entre os que têm e os que não têm. Cerca de 20% da população da economia sul-africana vive bem, enquanto 79% está abaixo do limiar da pobreza, o que representa um desafio à distribuição de recursos", afirma.
Sonho de Mandela ainda é "miragem"
"O maior desafio para o Governo é garantir a justiça económica para a maioria das pessoas neste país", defende o analista.
"Alguns dizem que a ideia de Mandela de uma nação arco-íris deixou de ser um sonho para se transformar numa miragem", lembra Katembo. O problema decorre da falta de assertividade do Governo, segundo o analista. "Os líderes políticos esqueceram-se da sua missão principal: cuidar do povo. Agora, o Governo deve lembrar a ideia fundadora de Nelson Mandela e as propostas da Comissão de Verdade e Reconciliação", sugere.
A comissão, que pretendia rever os crimes do "apartheid" em numerosas audiências, apresentou ao Governo um relatório com propostas para melhorar a democracia jovem. Mas muitos consideraram as propostas insuficientes para se obter progressos concretos.
Nova etapa?
A 8 de maio haverá novas eleições na África do Sul. Será eleito um novo Parlamento e, por conseguinte, um novo Presidente.
A má-gestão dos sucessivos governos do Congresso Nacional Africano (ANC) nos últimos 25 anos é apontada por muitos como razão para o mau estado da economia.
O desemprego ainda é superior a 20%. Muitas pessoas vivem na pobreza e partes do país continuam sem eletricidade. Há 25 anos atrás, as expetativas eram muito maiores.
Nelson Mandela: Uma vida pela liberdade
Sorridente: assim a maior parte dos sul-africanos pensa em Mandela. Carinhosamente apelidado de "Madiba" (seu nome xhosa), foi símbolo da nova África do Sul, de paz e tolerância. No dia 18/7/2018 teria cumprido 100 anos.
Foto: Getty Images
Primeiro escritório de advocacia para negros
Nelson Rolihlahla Mandela nasceu em 18 de julho de 1918 na província do Cabo Oriental, na África do Sul. Já durante os estudos de Direito, mostrava-se politicamente ativo, lutando contra o sistema de segregação racial apartheid. Em 1952, passou a trabalhar no primeiro escritório de advocacia do país dirigido por negros – que oito anos mais tarde seria consumido por um incêndio.
Foto: AP
Apartheid
O apartheid – a separação estrita entre negros e brancos na África do Sul, na época governada pela minoria branca – marcou a infância e juventude de Nelson Mandela. Seu pai lhe deu o nome Rolihlahla, que na língua xhosa significa "o que quebra ramos", ou, figurativamente, "agitador". A placa mostra uma "área branca" numa praia sul-africana.
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O boxeador
Na juventude, Mandela foi um entusiasta do boxe. "No ringue, classe, idade, cor da pele e prosperidade não representam nada" – assim ele explicava o seu amor pelo esporte. Mesmo durante os anos de prisão, ele se manteve em boa forma física. Treinamento com pesos, abdominais e flexões faziam parte de seu programa diário.
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Prisão perpétua
A polícia contém uma multidão reunida diante do tribunal onde se realizam as audiências contra Mandela e outros ativistas anti-apartheid, em 1964. No chamado Processo Rivonia, Nelson Mandela é condenado à prisão perpétua por suas atividades políticas.
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Décadas de confinamento
A vida em cinco metros quadrados: nesta pequena cela na Ilha de Robben, Mandela passa 18 de um total de 27 anos de pena. Ele é o detento número 46664. "Lá, eu só era conhecido como um número", comentou, após sua libertação em 1990.
Foto: cc-by-sa- Paul Mannix
A luta continua
Enquanto Nelson Mandela estava na prisão, outros faziam avançar a luta contra o apartheid, sobretudo a sua então mulher, Winnie Mandela (c.). Ela se tornou líder ativista contra o governo minoritário branco.
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Apoio mundial
No Estádio de Wembley, em Londres, promove-se em julho de 1988 um concerto beneficente por Mandela. Músicos de renome internacional celebram seu 70º aniversário e protestam contra a segregação racial. Cerca de 70 mil espectadores assistem no estádio às dez horas de show, outras centenas de milhares acompanham pela televisão o evento transmitido para 60 países.
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Enfim, livre
Após 27 anos de prisão, Nelson Mandela é libertado em 11 de fevereiro de 1990. Ele e a esposa Winnie erguem os punhos em sinal de orgulho pela luta de libertação negra contra o regime de minoria branca do apartheid.
Foto: AP
Retorno à política
De volta à liderança do Congresso Nacional Africano (CNA), em maio de 1990 Mandela inicia as primeiras conversas com o então presidente sul-africano, Frederik Willem de Klerk (e.). Juntos, eles preparam o caminho para uma África do Sul sem apartheid. Por esses esforços, ambos são laureados com o Prêmio Nobel da Paz em 1993.
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Companheiros de luta
Oliver Tambo (e) und Walter Sisulu (d) contam entre os companheiros mais próximos de Mandela. Em 1944, fundaram a ala jovem do CNA e organizaram manifestações contra o regime racista. Sisulu foi condenado à prisão perpétua, juntamente com Mandela; Tambo passou 30 anos no exílio, principalmente em Londres. Após 1990, todos os três ocuparam cargos de liderança no CNA.
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Posse como presidente
Em 10 de maio de 1994, a África do Sul escreve história: após as primeiras eleições livres e democráticas, Nelson Mandela é eleito primeiro chefe de Estado negro do país. Ele permanece no cargo até 1999, quando passa a presidência ao seu herdeiro político, Thabo Mbeki.
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Reconciliação em vez de vingança
Para esclarecer os crimes do apartheid, Mandela cria a Comissão da Verdade e Reconciliação em 1996. O arcebispo sul-africano e futuro Prêmio Nobel da Paz Desmond Tutu é indicado para presidi-la. A atuação da comissão não fica livre de críticas: muitas vítimas não conseguem aceitar que basta os criminosos admitirem seus atos publicamente para ficarem impunes.
Foto: picture-alliance/dpa
A caminho da Copa 2010
Em 15 de maio de 2004, a África do Sul é escolhida como sede da Copa do Mundo de Futebol de 2010. Orgulhoso, Nelson Mandela ergue a taça. O país inteiro o aclama, em júbilo, como aquele que abriu os caminhos para o grande evento esportivo. Tratou-se do primeiro Mundial de futebol realizado em solo africano.
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Sombras sobre a Nação do Arco-Íris
Em 2008, a xenofobia e a violência eclodem em diversos bairros pobres das metrópoles sul-africanas. A brutal caça aos imigrantes leva à morte de várias pessoas. Muitos se perguntam: terá fracassado a "Nação do Arco-Íris" fundada por Mandela, em que todos deveriam conviver em paz?
Foto: AP
Da política à família
Nos últimos anos de vida, Nelson Mandela ficou mais afastado dos palcos públicos, recolhendo-se cada vez mais ao círculo familiar. Aqui, em 2011, ele festeja seus 93 anos, ao lado dos netos e bisnetos.
Foto: dapd
Funeral de Nelson Mandela
A 5 de dezembro de 2013, "Madiba" morreu em Joanesburgo. Dez dias mais tarde, teve lugar a cerimónia de despedida de Mandela na localidade de Qunu onde passou a sua juventude. Velas iluminaram um perfil do líder sul-africano. O luto foi universal: nos EUA, o então Presidente Barack Obama mandou hastear as bandeiras a meio mastro. Em 18 de julho de 2018, teria festejado o seu 100° aniversário.