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História

27 de maio, as verdades que nunca mais chegam

Anselmo Vieira (Huíla)26 de maio de 2014

As verdadeiras causas pelo 27 de Maio de 1977 ainda não foram dadas a conhecer aos angolanos. Os familiares das vítimas dizem que é necessário que a sociedade perceba a historia e que ela seja escrita com coerência.

Agostinho Neto, primeiro Presidente de Angola independenteFoto: casacomum.org/Documentos Dalila Mateus

Foi a 27 de maio de 1977 que Angola assistiu a uma tragédia sem igual na sua história. Embora não se saiba o número exato de pessoas mortas, é estimado que foram assassinadas mais de trinta mil pessoas.

Muitas delas foram acusadas de terem planeado um golpe contra a liderança do Movimento Popular de Libertação de Angola, o MPLA, partido no poder – que na altura era dirigido por António Agostinho Neto.

Aos alegados rebeldes foi dado o rótulo de “fracionistas”. Passados vários anos, a verdadeira história parece ainda não ter sido revelada. Muitos dos que perderam os seus entes queridos ainda esperam explicações sobre o que aconteceu.

Até hoje, famílias inteiras aguardam a possibilidade de poderem sepultar os seus "entes queridos" de forma digna.

O professor, Domingos Fingo, de 52 anos, é um dos vários angolanos que perdeu um dos membros da sua família. Natural de Cabinda, Fingo se emociona ao lembrar o seu irmão mais velho: “Nós sabemos que houve uma morte extrema, uma morte de um inocente. Muita gente foi caluniada. Eu, que estou aqui a falar, perdi um irmão."

Domingos Fingo aguarda por uma explicação. Até hoje: "O que gostariamos é que houvesse alguma atividade concreta para explicar o que efetivamente aconteceu. Porque é que houve esta chacina?”

Vários livros sobre o 27 de maio já foram publicados

O silêncio do MPLA

O MPLA nega falar sobre o assunto. Apesar de passarem 36 anos, as marcas na cidade do Lubango, capital da provincia da Huíla, no Sul de Angola, são indeléveis - como narra José Nguelleca, um dos vários órfãos deste acontecimento.

Ele lembra que algumas pessoas foram chamadas do exterior, onde se encontravam a estudar, para serem mortas:

Segundo José Nguelleca “as pessoas saiam de casa, às vezes a noite, às vezes à luz do dia, e eram como que apagadas da história, indo para o buraco da Fenda (Fenda da Tundavala, situada na cidade do Lubango), porque a perseguição que se decretou se estendeu por todo o território."

Ele lembra que algumas pessoas foram chamadas do exterior, onde se encontravam a estudar, para serem mortas: "As pessoas que tinham bolsa de estudo tiveram ordens expressas para que retornassem ao país, para serem mortas simplesmente."

José Nguelleca acrescenta que "para além do caso da Tundavala há inúmeros outros casos”.

O advogado António Filipe, diz que “muitas famílias foram destruídas e irmãos separados. Até hoje, muitos buscam na justiça, pelo menos, as certidões de óbito para que, de facto, os culpados do genocídio sejam encontrados.

António Filipe lembra que "são milhares de angolanos que morreram de forma injusta. Tinha de haver sensibilidade no sentido de haver uma conversa, já que foi uma reivindicação pacífica”.

Presidente de Angola, José Eduardo dos SantosFoto: picture-alliance/dpa

Para quando a palavra do Presidente angolano?

O advogado diz que não existem motivos para o MPLA se manter calado e desafia o Presidente da República de Angola, José Eduardo dos Santos, e outros integrantes do MPLA, a esclarecerem a situação.

O atual chefe de Estado, na época, encabeçou a Comissão denominada "de lágrimas", que tinha a missão de clarificar o assunto aos angolanos.

O número de pessoas mortas nesta chacina também é deveria ser avançado segundo advoga Filipe: “Não há motivo para se continuar a escamotear a verdade, porque acredito que as pessoas que cometeram as atrocidades ainda estão vivas e há toda uma necessidade do MPLA, não só de assumir a culpa, mas também de apresentar dados sobre quantas pessoas realmente morreram."

Uma destas pessoas é o proprio Presidente da República e outras e há toda uma necessidade de dizerem o que realmente se passou e como resolver a questão ”.

O Arcebispo da Arquidiocese do Huambo, Dom Francisco Viti, apela à pacificação dos angolanos: “Angola precisa de aprender a crítica construtiva, mas na verdade o bem é sempre bem e merece o louvor, seja por aqueles que estão no poder, ou por aqueles que estão na oposição. Este é o espírito que levantará Angola e tornará o país grande."


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