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27 de maio: Manifestação em Luanda é reprimida pela polícia

27 de maio de 2018

Marcha pretendia pedir justiça pela morte de milhares de angolanos que foram perseguidos há 41 anos. Ativistas denunciam violência policial.

Polícia agrediu fisicamente alguns manifestantesFoto: DW/B. Ndomba

A polícia angolana reprimiu neste domingo (27.05), em Luanda, a manifestação pacífica em alusão ao 27 de maio, data em que se recorda os milhares de angolanos que em 1977 foram torturados, mandados para campos de concentração e fuzilados sem julgamento naquilo que é considerado período negro da história angolana.

As três dezenas de pessoas, na sua maioria jovens, pretendiam chegar ao Largo da Independência, local onde exigiriam justiça pela morte dos seus co-cidadãos e também a construção de um memorial em homenagem às vitimas.

O protesto, no entanto, encontrou obstáculos devido aos efetivos da Polícia Nacional, que desde o ponto de partida montaram barricadas com as suas viaturas, impedindo que os manifestantes avançassem. Entretanto, os jovens continuaram com a marcha, até que a manifestação foi reprimida nas imediações do Comité Provincial do Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA), a poucos metros do Largo da Independência.

Naquele espaço, a DW África constatou os polícias a soltarem os seus cães contra os manifestantes. Manuel Ramalhete, homem de 59 anos, disse à reportagem que é um dos sobreviventes do 27 de maio. O senhor participou da manifestação deste domingo e foi agredido fisicamente.

"Cães em cima de mim, rasgaram-me a calça. Bateram-me com porrete. O MPLA já não muda. Tenho 59 anos e mesmo assim apanhei uma surra, olha aqui a mordedura de um cão", lamentou o manifestante.

Cães e gás pimenta foram usados pela polícia contra os manifestantes, dizem os ativistasFoto: DW/B. Ndomba

Outro manifestante também criticou a ação policial. Segundo Pedro Bartolomeu José, os polícias usaram gás pimenta contra um dos participantes do protesto. "A manifestação está totalmente reprimida. Não sabemos o que fazer, enviamos carta ao Governo Provincial, mas a polícia veio aqui nos bater. Queremos justiça e se continuarem assim, vai haver aqui um outro caso idêntico ao de 27 de maio. Puseram gás pimenta nos olhos daquele jovem que está ali", apontou.

"A polícia é do povo não é do MPLA" foi uma das palavras de ordem que se ouvia enquanto a manifestação era brutalmente reprimida. Para o estudante Augusto Madureira, ao invés de reprimir, a polícia deve proteger os cidadãos.

"Queremos exercer o nosso direito tal como está escrito na Constituição da República. Mas aqui vimos uma posição diferente da polícia. Ao invés de estarem do lado do povo, estão do lado do MPLA. Eles também [os polícias] não têm nada. Nós reivindicamos também para o bem deles e das suas famílias", reiterou.

David Salei, ativistaFoto: DW/B. Ndomba

Durante a sua investidura em setembro do ano passado, o atual chefe de Estado angolano aconselhou os gestores públicos a saber conviver com a diferença de opinião. João Lourenço assumiu o compromisso de "tratar" dos "problemas da nação" ao longo do mandato de cinco anos com uma "governação inclusiva". Mas apesar do discurso, as manifestações dos críticos do Governo do MPLA continuam a ser alvos de repressões em vários pontos do país.

Por seu turno o ativista David Salei atribui a responsabilidade da repressão ao Presidente angolano. "Vimos o comportamento da governação de João Lourenço. Ele torna-se nesse momento a terceira máscara por ordenar a repressão da nossa manifestação. É uma manifestação pacifica, não viemos com nenhum objetos contundentes", disse o ativista sobre a manifestação, a primeira em alusão ao 27 de maio, desde que João Lourenço assumiu o cargo de Presidente da República.  

Luanda: Violência policial marca o 27 de maio

01:05

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"Fracionistas"

No dia 27 de maio de 1977 houve manifestações em Luanda a favor de Nito Alves, na altura ministro da Administração Interna e membro do Comité Central do partido no Governo, o MPLA. Após esta data, os apoiantes de Nito Alves, os chamados "fracionistas", foram acusados de tentar um golpe de Estado e passaram a ser perseguidos pelo próprio partido, que na altura era liderado por Agostinho Neto, primeiro Presidente de Angola.

A manifestação deste domingo foi convocada para um dia sensível em Angola, já que se cumprem hoje 41 anos sobre o 27 de maio de 1977. Segundo vários relatos, milhares terão morrido naquele dia e seguintes na resposta do regime angolano contra a alegada tentativa de golpe de Estado. A Amnistia Internacional estimou em cerca de 30 mil as vítimas mortais na repressão que se seguiu contra os chamados "fracionistas".

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