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27 de Maio: "Testes a ossadas foram simulação"

28 de março de 2023

Associação 27 de Maio diz que a Comissão em Memória das Vítimas dos Conflitos Políticos foi um órgão de "faz de conta". Ossadas das vítimas entregues pelo Governo não correspondiam ao ADN dos familiares.

Governo angolano prestou homenagem às vítimas do 27 de Maio, em 2021Foto: Borralho Ndomba/DW

José Fuso, da Associação 27 de Maio, diz que o pedido de desculpas e perdão do Presidente João Lourenço pelas execuções sumárias fica descredibilizado com a conclusão do relatório sobre a veracidade das ossadas entregues pelo Governo

A associação refere que o trabalho da Comissão para a Implementação do Plano de Reconciliação em Memória das Vítimas dos Conflitos Políticos (CIVICOP) foi aparentemente um "simulacro"

"Foi uma comissão de faz de conta", diz José Fuso, membro da direção da associação.

A Associação 27 de Maio lamenta a forma supostamente incorreta como foram recolhidas as ossadas por equipas que não eram reconhecidas internacionalmente, quando se iniciaram as perícias no terreno. Estas falhas "também vieram a determinar esses falsos resultados", adianta José Fuso.

José Fuso pretende "desmascarar o simulacro que a CIVICOP montou de uma reconciliação inexistente"Foto: DW/J. Carlos

Fuso acrescenta que "a questão de não haver por parte da CIVICOP o envolvimento das pessoas que participaram no passado nessas matanças também veio a determinar que, sem sombra de dúvida, não se chegasse a qualquer conclusão".

Ossadas não correspondem ao ADN

Familiares das vítimas dos acontecimentos em torno da alegada tentativa de golpe de 27 de maio de 1977 reuniram-se na segunda-feira (27.03) em Lisboa após a revelação feita na semana passada por Duarte Nuno Vieira, professor catedrático da Faculdade de Medicina da Universidade de Coimbra, segundo o qual nenhum dos corpos coincide com as amostras de ADN dos parentes. 

Em relação às ossadas, faz-se alusão a Nito Alves, Sita Valles, José Van-Dunem, David Zé e Monstro Imortal. 

De acordo com o médico forense, o relato apresentado aos familiares resulta de um estudo efetuado em parceria com o Instituto de Medicina Legal e a Polícia Judiciária de Portugal, iniciado em julho do ano passado em Angola.

"Como sabem, a equipa não participou na recuperação dos corpos", lembrou Nuno Vieira. "Quando chegámos, os corpos já estavam todos recolhidos, devidamente acondicionados em sacos próprios de cadáveres", relatou.

Francisco Rasgado jamais esquecerá o 27 de maio de 1977

02:14

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Seriedade do processo

O analista Manuel Dias dos Santos questiona "a seriedade deste processo" de entrega dos corpos às respetivas famílias pelo Estado angolano, que não permitiu uma segunda opinião sobre este caso.

Tal situação, acrescenta, levantou à partida um conjunto de suspeições sobre a origem das ossadas dos seus parentes.

O historiador angolano diz, em declarações à DW, que este é mais um escândalo "a juntar aos imensos tiros que sucessivamente o titular do poder executivo vai dando nos seus próprios pés, convocando, com isso, todos os auxiliares que o acompanham nessa senda".

Na opinião de Manuel Dias dos Santos, o Governo angolano "pouco ou nada faz para trazer alguma verdade histórica e real para que a reconciliação, que está ainda por fazer, possa acontecer de facto". 

27 de maio de 1977: Memórias de Carlos Taveira

02:39

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"Carta a Angola"

Na esteira das conclusões do relatório, a Associação 27 de Maio manifesta a sua solidariedade e concordância com uma carta recente, endereçada ao povo angolano. 

"Vamos juntar as nossas vozes com as deles, sem qualquer reserva, em todos os fóruns nacionais e internacionais, para condenar e desmascarar este simulacro que a CIVICOP montou de uma reconciliação inexistente", defende José Fuso.

A referida "Carta a Angola", assumida pelos filhos de vítimas do 27 de maio de 1977, insiste no apelo à "verdade" não só como um direito das famílias, mas também como "um imperativo nacional". 

"Não conseguiremos ultrapassar esta tragédia e aprender com ela se continuarmos a recusar-nos a enfrentar verdadeiramente os factos", sublinha o documento a que a DW teve acesso. 

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