Racismo aumenta 30 anos após a queda do Muro de Berlim
Cristiane Vieira Teixeira (Berlim)
6 de novembro de 2019
Africanos na Alemanha atravessaram várias fases de racismo na Alemanha: Uma mais contida na ex-RDA, uma abertamente violenta nos anos 90 e versão sofisticada atual.
Publicidade
O angolano Inocêncio Chari veio para a Alemanha em 1988, como trabalhador contratado da extinta República Democrática da Alemanha (RDA). Recorda-se de uma vida tranquila, sem medo do racismo.
"Na época da RDA, foi uma coisa que nós praticamente não vivemos, porque o cidadão era controlado pelo Estado," lembra.
"Era difícil eles [os racistas] mostrarem-se como se mostram hoje e, depois da reunificação, aquilo foi como se fosse uma manada de vacas que está solta e não sabe qual o caminho a seguir," avalia.
Ataques nos anos 90
Mas quem estava na Alemanha nos anos 90, carrega consigo uma parte pesada da história do país. Logo após a queda do Muro de Berlim, começou uma época em que as residências de ex-trabalhadores convidados da extinta RDA sofreram ataques racistas. Algo que o moçambicano Bartolomeu Suela também viveu.
"Eu tinha amigos diretos cujas residências foram invadidas na primeira vez em Hoyerswerda. Tinha cerca de oito ou mais amigos que viviam naquele lar que foi invadido. Aconteceu também em Berlim Hellersdorf, onde eu estive," conta.
"Quiseram-nos invadir, mas já tivemos um cuidado, avisámos a polícia antes e foram travados antes de chegar ao lar," descreve o moçambicano.
Robert Lüdecke, porta-voz da Fundação Amadeu António, em Berlim, que tem o combate ao racismo em foco, explica o que se passava neste período:
"Os neonazis e extremistas de direita tinham uma imagem clara sobre onde queriam chegar com a nova sociedade alemã – nomeadamente um Estado nacionalista, etnicamente branco e autoritário. Encontraram no leste um solo fértil e esta é a razão pela qual houve, logo nos primeiros anos após a reunificação, distúrbios massivos e violentos em muitas partes da antiga RDA," afirma.
Houve então reações por parte do Governo que estabeleceu limites claros. A esta fase seguiu-se um período mais calmo.
Muro de Berlim caiu há 30 anos
04:20
Racismo sofisticado
Entretanto, observa-se um novo aumento do racismo nos últimos anos. Bartolomeu está preocupado.
"O racismo de hoje é mais perigoso porque, antigamente, eles tentavam manifestar abertamente e era fácil também para combater. Mas agora, o racismo de hoje é mais diplomático e ao nível político," diz.
O apoio por parte de partidos políticos alemães, que colocam a presença dos estrangeiros como a causa de um problema social a ser resolvido, só piora a situação, considera Inocêncio.
"Quando aparece algum político que quer usar aquela possibilidade daquela pessoa o seguir, aquilo fica mais grave porque ele sente-se protegido também. Fazem o racismo a contar com a proteção política, a bem dizer," avalia.
Por este motivo, a organização de Robert Lüdecke luta contra a ideologia do partido de extrema-direita do partido Alternativa para a Alemanha (AfD).
"O racismo sempre existiu. A radicalização individual não mudou, mas sim a social. Temos agora uma sociedade na qual essas opiniões podem novamente ser expressadas, na qual o limite não está mais claro," diz Lüdecke.
30 anos depois da queda do Muro de Berlim aumenta mais uma vez o racismo na Alemanha
This browser does not support the audio element.
Mais benefícios que problemas
A situação faz com que os estrangeiros se voltem a sentir ameaçados. Bartolomeu descreve esse sentimento.
"Estou com medo e estou assustado porque tenho um filho que tem raça mista e, para o futuro dele, não estou a ver bem, se chegar esse tipo de partido no poder. O meu medo não é pessoal. O meu medo é geral de que o país em si venha a cair num sistema descontrolado," diz.
Ainda assim, o moçambicano e o angolano consideram que a queda do Muro de Berlim trouxe benefícios que o racismo não é capaz de ofuscar, defende Inocêncio.
"Tenho direito de expressão. Aqui na Alemanha, tenho mais direitos que no meu país de origem. Pela forma como vim para a Alemanha, se não fosse a reunificação, eu nem sequer teria uma profissão," conclui o angolano.
Dez razões para amar Berlim
A capital alemã é muitas coisas: sede do Governo, metrópole cultural, centro de vida noturna. Mas, acima de tudo, ela é eletrizante, uma cidade em constante mutação. Talvez, por isso, os turistas gostem tanto dela.
Foto: picture-alliance/R. Schlesinger
1. Museus e galerias
Rodeada pelo rio Spree, a Ilha dos Museus de Berlim foi nomeada Património Mundial pela UNESCO em 1999. Lá, é possível admirar tesouros artístico de todo o mundo, como um busto da rainha egípcia Nefertiti e o Altar de Pérgamo, construído entre 160 e 180 a.C. em homenagem a Zeus, o reio do Olimpo. Berlim tem ainda outros 175 museus e cerca de 300 galerias de arte.
Foto: Fotolia/fhmedien_de
2. Diversidade cultural
Cosmopolita, ricamente colorida e com um entusiasmo pela vida — assim Berlim apresenta-se durante o festival Carnaval das Culturas. Cerca de 180 nacionalidades chamam a cidade de casa. E todo o mês de maio eles — recém-chegados e berlinenses estabelecidos — celebram o que é, provavelmente, a melhor festa de rua da cidade.
Foto: picture-alliance/dpa/R. Jensen
3. Vista do alto
A torre "Fernsehturm" (torre de televisão), com seus 368 metros de altura é a estrutura mais alta da Alemanha. Num dia claro, a plataforma de observação oferece visibilidade de até 40 quilómetros. Acima da plataforma, fica um restaurante numa placa giratória, que realiza uma rotação a cada 30 minutos.
Foto: picture-alliance/dpa/K. Nietfeld
4. Memória preservada
O Memorial do Holocausto, composto por 2.711 placas de concreto para lembrar os seis milhões de judeus mortos pela Alemanha nazista, é o memorial mais visitado de Berlim. Outros monumentos incluem os dedicados às Forças Aliadas (EUA, Rússia, Inglaterra e França) que libertaram Berlim na Segunda Guerra Mundial, aos que morreram tentando escapar pelo muro e aos heróis da força aérea de Berlim.
Foto: picture-alliance/dpa/S. Stache
5. Um lugar feliz
Em 1989, quando o Muro de Berlim caiu, artistas de todo o mundo pintaram sobre a brarreira de concreto que dividia as duas partes de Berlim (Leste e Oeste). A East Side Gallery é até hoje a mais longa galeria ao ar livre do mundo. A arte criada espontaneamente ainda reflete a alegria que se espalhou por toda a Berlim com a queda do Muro e o fim da Guerra Fria entre comunismo e economia de mercado.
Foto: picture-alliance/dpa/K. Nietfeld
6. Em constante mutação
Desde a Reunificação, em 1990, os guindastes não param: a Potsdamer Platz foi reconstruída, o Reichstag (prédio do Parlamento alemão) ganhou uma cúpula e o quarteirão do governo foi construído. O Palácio de Berlim ("Stadtschloss"), que deverá ser concluído em 2019. Mas ninguém sabe ainda, porém, quando o novo e muito atrasado aeroporto de Berlim (BER) em Schönefeld estará pronto.
Foto: picture-alliance/dpa/R. Hirschberger
7. Vida noturna
A vida noturna de Berlim, conhecida como uma das mais excitantes do mundo, oferece diversão para todos os gostos, do indie rock ao hip hop e house. Alguns dos melhores DJs do mundo tocam em clubes como o famoso Berghain. Muitas pessoas vão a Berlim só para isso — elas chegam à cidade na sexta-feira à noite e passam o fim de semana inteiro na balada antes de voltarem para casa.
Foto: picture-alliance/schroewig
8. Tapete vermelho
Em fevereiro, Berlim coloca tapetes vermelhos para receber estrelas do cinema. Desde 1951, o Festival Internacional de Cinema de Berlim, conhecido como Berlinale, é um dos principais do mundo. Muitas estrelas do cinema amam a cidade.
Foto: DW/A. Parvez
9. Capital canina
Cerca de 100 mil cães vivem na cidade. Mas quando os berlinenses dizem que "ladram, mas não mordem", eles estão se referindo a eles próprios. Os moradores são conhecidos por não serem muito simpáticos: "Berliner Schnauze", o termo em alemão para focinho, é usado para caracterizar a rispidez no trato considerada típica do berlinense.
Foto: picture-alliance/dpa
10. Berlim verde
Há mais de 2.500 jardins e parques em Berlim, como o pequeno "Prinzessinnengarten". Esse antigo terreno baldio no bairro de Kreuzberg foi transformado em um jardim orgânico, em que mais de 500 tipos de vegetais são cultivados por centenas de voluntários locais.