Assinala-se esta segunda-feira o início da Luta de Libertação Nacional em Angola. FNLA diz que a História tem sido mal contada. Segundo o investigador Cláudio Fortuna, a História é ensinada favorecendo o MPLA.
Publicidade
Pedro Gomes, da Frente Nacional de Libertação de Angola (FNLA), diz que a História do país tem sido mal contada e é preciso corrigir os manuais escolares - a começar pela data de 4 de fevereiro.
Segundo Gomes, este não foi o verdadeiro dia do início da Luta de Libertação Nacional, que culminou com a proclamação da independência, a 11 de novembro de 1975.
"O 4 de fevereiro não é a verdadeira data de início da luta armada em Angola. Para confirmar esse facto, há uma declaração do ex-Presidente da República Portuguesa, [Aníbal] Cavaco Silva, que diz que a data do início da luta armada em Angola foi 15 de março de 1961", afirma o também professor universitário.
"Foi com Portugal com quem nós lutamos. Não pode haver informações que não se compaginam com aquilo que foi a informação de Cavaco Silva", acrescenta.
O dia e o mês em que começou a luta pelo alcance da independência dividem há muito tempo as opiniões entre o Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA) e a FNLA. Enquanto o partido no poder fala em 4 de fevereiro, a formação política fundada por Holden Roberto aponta 15 de março como a real data do início da luta.
"É difícil para os estudantes conhecerem a História"
Mas, para Pedro Gomes, este não é o único erro histórico nos manuais escolares. O professor diz que "falta alguma seriedade" no ensino da História de Angola.
"O que se tem ensinado às nossas crianças é totalmente falso, não condiz com a verdade", comenta. "Esses manuais deviam ser corrigidos para, de facto, ensinar aos nossos jovens a verdadeira História de Angola, e essa História não se fará sem a participação da UPA [União dos Povos de Angola]/FNLA."
Ensino da História de Angola "favorece" o MPLA
A forma como a História angolana tem sido contada impede que os estudantes a conheçam verdadeiramente, afirma Cláudio Fortuna, do Centro de Estudos Africanos da Universidade Católica de Angola.
"O MPLA impingiu-nos ao longo deste tempo que o 4 de fevereiro foi o dia do início da luta armada. Há um exercício de disputa da hegemonia histórica, que as duas [MPLA e FNLA] e outras forças políticas têm estado a desenvolver no sentido de se repor a verdade. O que é facto é que acreditamos que, perante esse ambiente nebuloso, é difícil para os estudantes conhecerem a História."
O investigador não tem dúvidas de que a História de Angola que tem sido ensinada nas escolas favorece o MPLA, partido no poder, em detrimento de outras formações políticas e "daquilo que seria a verdade histórica".
Cláudio Fortuna acredita, no entanto, que a História real do país começará a ser bem contada nos próximos tempos: "A médio ou longo prazo, esse cenário poderá mudar na medida em que há algumas iniciativas peregrinas de investigadores, historiadores e nacionalistas no sentido de repor a verdade."
Mas "ainda há um pendor maior para o lado do MPLA", conclui.
De fortalezas a cinemas: o património colonial português em África
A colonização portuguesa nos países africanos deixou edificações históricas, que vão desde fortificações militares, igrejas, estações de comboio, até cinemas. Boa parte deste património ainda resiste.
Foto: DW/J.Beck
Calçada portuguesa
Na Ilha de Moçambique, antiga capital moçambicana, na província de Nampula, a calçada portuguesa estende-se à beira mar. A herança colonial que Portugal deixou aqui é imensa e está presente num conjunto de edificações históricas, entre fortalezas, palácios, igrejas e casas. Em 1991, este conjunto foi reconhecido como Património Mundial da UNESCO.
Foto: DW/J.Beck
Fortaleza de São Sebastião
A Fortaleza de São Sebastião, na Ilha de Moçambique, começou a ser erguida pelos portugueses em 1554. O motivo: a localização estratégica para os navegadores. Ao fundo, vê-se a Capela de Nossa Senhora do Baluarte, de 1522, que é considerada a mais antiga estrutura colonial sobrevivente no sul de África.
Foto: DW/J.Beck
Hospital de Moçambique
O Hospital de Moçambique, na Ilha de Moçambique, data de 1877. O edifício de estilo neoclássico foi durante muito tempo a maior estrutura hospitalar da África Austral. Atualmente, compõe o património de construções históricas da antiga capital moçambicana.
Foto: DW/J.Beck
Fortaleza de Maputo
A Fortaleza de Maputo situa-se na baixa da capital moçambicana e é um dos principais monumentos históricos da colonização portuguesa no país. O espaço foi ocupado no início do século XVIII, mas a atual edificação data do século XX.
Foto: DW/J.Beck
Estação Central de Maputo
Desde a construção da Estação Central dos Caminhos-de-Ferro (foto) na capital moçambicana, no início do século XX, o ato de apanhar um comboio ganhou um certo charme. O edifício, que pode ser comparado a algumas estações da Europa, ostenta a uma fachada de estilo francês. O projeto foi do engenheiro militar português Alfredo Augusto Lisboa de Lima.
Foto: picture-alliance / dpa
Administração colonial portuguesa em Sofala
Na cidade de Inhaminga, na província de Sofala, centro de Moçambique, a arquitetura colonial portuguesa está em ruínas. O antigo edifício da administração colonial, com traços neoclássicos, foi tomado pela vegetação e dominado pelo desgaste do tempo.
Foto: Gerald Henzinger
"O orgulho de África"
Em Moçambique, outro de património colonial moderno: o Grande Hotel da Beira, que foi inaugurado em 1954 como uma das acomodações mais luxuosas do país. O empreedimento português era intitulado o "orgulho de África". Após a independência, em 1975, o hotel passou a ser refúgio para pessoas pobres. Desde então, o hotel nunca mais abriu para o turismo.
Foto: Oliver Ramme
Cidade Velha e Fortaleza Real de São Filipe
Em Cabo Verde, os vestígios da colonização portuguesa espalham-se pela Cidade Velha, na Ilha de Santiago. Entre estas construções está a Fortaleza Real de São Filipe. A fortificação data do século XVI, período em que os portugueses queriam desenvolver o tráfico de escravos. Devido à sua importância histórica, a Cidade Velha e o seu conjunto foram consagrados em 2009 Património Mundial da UNESCO.
Foto: DW/J. Beck
Património religioso
No complexo da Cidade Velha está a Igreja de Nossa Senhora do Rosário, conhecida por ser um dos patrimónios arquitetónicos mais antigos de Cabo Verde, com mais de 500 anos. Assim como em Cabo Verde, o período colonial português deixou outros edifícios ligados à Igreja Católica em praticamente todos os PALOP.
Foto: DW/J. Beck
Palácio da Presidência
Na cidade da Praia, em Cabo Verde, a residência presidencial é uma herança do período colonial português no país. Construído no século XIX, o palácio abrigou o governador da colónia até a independência cabo-verdiana, em 1975.
Foto: Presidência da República de Cabo Verde
Casa Grande
Em São Tomé e Príncipe, é impossível não reconhecer os traços da colonização portuguesa nas roças. Estas estruturas agrícolas concentram a maioria das edificações históricas do país. A imagem mostra a Casa Grande, local onde vivia o patrão da Roça Uba Budo, no distrito de Cantagalo, a leste de São Tomé. As roças são-tomenses foram a base económica do país até a indepência em 1975.
Foto: DW/R. Graça
Palácio reconstruído em Bissau
Assim como em Cabo Verde, na Guiné-Bissau o palácio presidencial também remonta o período em que o país esteve sob o domínio de Portugal. Com arquitetura menos rebuscada, o palácio presidencial em Bissau foi parcialmente destruído entre 1998 e 1999, mas foi reconstruído num estilo mais moderno em 2013 (foto de 2012). O edifício, no centro da capital guineense, destaca-se pela sua imponência.
Foto: DW/Ferro de Gouveia
Teatro Elinga
O Teatro Elinga, no centro de Luanda, é um dos mais importantes edifícios históricos da capital angolana. O prédio de dois andares da era colonial portuguesa (século XIX) sobreviveu ao "boom" da construção civil das últimas décadas. Em 2012, no entanto, foram anunciados planos para demolir o teatro. Como resultado, houve fortes protestos exigindo que o centro cultural fosse preservado.
Foto: DW
Arquitetura colonial moderna
O período colonial também deixou traços arquitetónicos modernos em alguns países. Em Angola, muitos cinemas foram erguidos nos anos 40 com a influência do regime ditatorial português, o chamado Estado Novo. Na foto, o Cine-Teatro Namibe (antigo Moçâmedes), um dos mais antigos do país, é um exemplo. Foi o primeiro edifício de arquitetura "art déco" na cidade de Namibe.