A 31 de outubro de 2014, o ex-Presidente do Burkina Faso, Blaise Compaoré, foi forçado a deixar o poder, depois de protestos. Cinco anos depois, a situação de segurança no país piora cada vez mais.
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Em 2014, o povo do Burkina Faso foi às ruas para impedir que o então Presidente Blaise Compaoré mudasse a Constituição e se candidatasse a um novo mandato. A mobilização, que levou à queda de Compaoré, foi a 31 de outubro de 2014, há precisamente cinco anos.
Desde então, a situação de segurança tem piorado, especialmente no norte do país, com a proliferação de ataques extremistas. Oficialmente, os extremistas islâmicos mataram mais de 600 civis e militares e obrigaram 500 mil pessoas a fugir de suas casas.
Blaise Compaoré esteve 27 anos no poder e conseguia manter uma certa tranquilidade no norte do país, enquanto o vizinho Mali sofria sucessivos ataques de movimentos jihadistas. Entre Compaoré e os extremistas, havia uma espécie de pacto de não-agressão, segundo Laurent Kibora, analista em segurança e desenvolvimento.
5 anos depois de Compaoré: Extremismo cresce no Burkina Faso
"Blaise Compaoré desempenhou um papel de mediador, que atraiu a simpatia de vários beligerantes na região do Sahel, e também estava cercado por bons conselheiros e estrategistas. Devemos acrescentar que ele tinha uma unidade de elite, a RSP, na qual havia uma unidade especial, o denominado grupo de intervenção antiterrorista, um grupo bem treinado. Mas tudo isso foi dissolvido durante a transição", afirma o especialista.
Combate ao terrorismo
Kibora acrescenta que o Burkina Faso tenta agora combater o problema por meio da capacitação das suas forças de defesa e segurança. Para isso, o país conta com o apoio internacional de países como a França, os Estados Unidos da América e a Alemanha.
Entre os grupos jihadistas ativos no Burkina Faso estão a "Frente de Libertação de Macina", liderada por Amadou Kufa, e a "Al-Mourabitoune", de Mokhtar Belmokhtar.
Mas não são apenas os ataques jihadistas que proliferam no Burkina Faso desde a queda de Compaoré. São também cada vez mais frequentes os conflitos comunitários: "É uma dimensão extra de insegurança", explica o analista Siaka Coulibaly.
"As autoridades estatais têm muitas dificuldades em afirmar-se em determinadas áreas, o que abre caminho à lógica da violência em caso de conflitos entre comunidades", diz.
Em 2020, o Burkina Faso irá às urnas para escolher o seu próximo Presidente. Teme-se que uma crise pós-eleitoral enfraqueça ainda mais o país.
Presidentes africanos para sempre
Vários presidentes africanos governam há tanto tempo, que muitos cidadãos não conhecem outro líder do seu país. Teodoro Obiang Nguema é o líder africano há mais tempo no poder: governa a Guiné Equatorial desde 1979.
Foto: picture-alliance/AP Photo/S. Alamba
Guiné Equatorial: Teodoro Obiang Nguema
Teodoro Obiang Nguema Mbasogo é atualmente o líder africano há mais tempo no poder, depois de, em 2017, José Eduardo dos Santos ter deixado o cargo de Presidente de Angola, que ocupava também desde 1979. Neste ano, Obiang chegou ao poder através de um golpe de estado contra o seu tio, Francisco Macías. Nas últimas eleições no país, em 2016, Obiang afirmou que não voltaria a concorrer em 2020.
Foto: picture-alliance/dpa/S. Lecocq
Camarões: Paul Biya
Com o seu nascimento no ano de 1933, Paul Biya é o Presidente mais idoso do continente africano e apenas ultrapassado em anos no poder pelo líder da vizinha Guiné Equatorial. Biya chegou ao poder em 1982. Em 2008, uma revisão à Constituição retirou os limites aos mandatos. Em 2018, Biya, foi declarado vencedor das eleições. Os Camarões atravessam uma crise com a rebelião na parte anglófona.
Foto: picture-alliance/AA/J.-P. Kepseu
Uganda: Yoweri Museveni
Com mais de 30 anos no poder, Yoweri Museveni é, para uma grande parte dos ugandeses, o único Presidente que conhecem. 75% dos atuais 35 milhões de habitantes nasceram depois de Museveni ter subido ao poder em 1986. Em 2017, foi aprovada a lei que retira o limite de idade (75 anos) para concorrer à Presidência. Assim sendo, Museveni já pode concorrer ao sexto mandado, nas eleições de 2021.
Foto: picture alliance/AP Photo/B. Chol
República do Congo: Denis Sassou Nguesso
Foi também uma alteração à Constituição que permitiu que Denis Sassou Nguesso voltasse a candidatar-se e a vencer as eleições em 2016 na República do Congo (Brazzaville). Já são mais de 30 anos à frente do país, com uma pequena interrupção entre 1992 e 1997. Denis Sassou Nguesso nasceu no ano de 1943.
Foto: picture-alliance/AA/A. Landoulsi
Ruanda: Paul Kagame
Paul Kagame lidera o Ruanda desde 2000. Antes, já teve outros cargos influentes e foi líder da Frente Patrifótica Ruandesa (FPR), a força que venceu a guerra civil no Ruanda. Em 2017, Kagame ganhou as eleições com 98,8% dos votos. Assim poderá continuar no poder até, pelo menos, 2034. Assim ditou a consulta popular realizada em 2015 que acabou com o limite de dois mandatos presidenciais.
Foto: Imago/Zumapress/M. Brochstein
Burundi: Pierre Nkurunziza
Em 2005, Pierre Nkurunziza chegou ao poder no Burundi. Em 2015, o terceiro mandato de Nkurunziza gerou uma onda de protestos entre a população que, de acordo com o Tribunal Penal Internacional, terá causado cerca de 1.200 mortos e 400.000 refugiados. Em maio de 2018, teve lugar um referendo para alterar a Constituição, que permitiu ao Presidente continuar no cargo até 2034.
Foto: Reuters/E. Ngendakumana
Gabão: Ali Bongo Ondimba
Ali Bongo ainda está longe de quebrar o recorde do pai, que esteve 41 anos no poder, mas já vai no terceiro mandato, ganho em 2017, no meio de muita contestação. Em 2018, a Constituição do Gabão foi revista para acabar com o limite de mandatos. A nova versão da Constituição também aumentou os poderes do Presidente para tomar decisões unilateralmente.
Foto: Reuters/Reuters TV
Togo: Faure Gnassingbé
Em 2005, Faure Gnassingbé substituiu o pai, que liderou o país durante 38 anos. Ao contrário de outros países, o Togo não impunha um limite aos mandatos. Em 2017, após protestos da população contra a "dinastia" Gnassingbé, foi aprovada a lei que impõe um limite de mandatos. No entanto, a lei não tem efeitos retroativos, pelo que o ainda Presidente poderá disputar as próximas eleições, em 2020.
Foto: DW/N. Tadegnon
Argélia: Abdelaziz Bouteflika
Abdelaziz Bouteflika esteve 20 anos no poder na Argélia (1999-2019). Em 2013, sofreu um acidente vascular cerebral (AVC), mas nem a idade, nem o estado de saúde travaram o Presidente de anunciar que iria procurar um quinto mandato em 2019. Em abril de 2019, face a protestos públicos, anunciou a sua renúncia ao cargo. Nesta altura, já teve 82 anos de idade.