60 anos após a independência, que liberdade existe no Chade?
Fred Muvunyi | kg
11 de agosto de 2020
O Chade tornou-se independente da França a 11 de agosto de 1960. Mas 60 anos depois, muitos chadianos dizem estar a sufocar sob o domínio do Presidente Idris Deby, no poder há 30 anos, enquanto Paris olha para o lado.
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O Chade conquistou a independência a 11 de agosto de 1960, dois anos depois de se ter tornado uma República. Na altura, o primeiro-ministro chadiano, François Tombalbaye, foi nomeado primeiro Presidente de um país que cedo entrou numa guerra civil - com os muçulmanos a norte e a maioria cristã a sul.
Tombalbaye governou com punho de ferro até ao seu assassinato, em 1975, por membros do Exército do Chade. Desde então, o país do Sahel vive em situação de conflito.
Nunca houve uma transição suave de poder. "Hoje, o Chade encontra-se num estado de desespero", diz o jornalista chadiano Eric Topona, que lamenta que a insegurança e a impunidade tenham aumentado no país.
Chadianos vivem na pobreza, apesar dos recursos
O Chade tem uma das maiores reservas de petróleo em África. No entanto, está classificado em último lugar entre 157 países no Índice de Desenvolvimento Humano do Banco Mundial.
Cerca de 40% da população vive abaixo da linha da pobreza e mais de quatro milhões de chadianos não têm uma refeição decente por dia.
A desnutrição, a morte neonatal e a fome prosperam numa nação dotada de recursos naturais, sublinha Ndolembai Sadé Njesada, político da oposição e vice-presidente do partido "Les Transformateurs" (os transformadores).
"Ser independente dá a uma nação a capacidade de governar livremente e de orientar-se para a prosperidade, saúde e riqueza. O Chade tem o potencial para tornar-se uma nação próspera e desenvolvida. O futuro do Chade está nas mãos dos chadianos", afirma.
Presidente com punho de ferro
Os críticos do atual Presidente do Chade descrevem-no como um autocrata. Apesar da disputa de poder entre vários grupos étnicos, Idriss Deby está no poder há 30 anos. Segundo analistas, isto deve-se sobretudo à sua astúcia como estrategista militar.
Ativistas denunciam que o Presidente chadiano usa as receitas do petróleo para construir redes de patrocínio e reprimir os dissidentes. Abdelkérim Yacoub Koundougoumi, um ativista político chadiano que vive no exílio na França, é um deles. "Ele faz tudo para eliminar todos aqueles que se opõem ao seu regime. E desmantelou os grupos da sociedade civil", conta Koundougoumi à DW.
O Presidente chadiano ganhou a confiança da Europa com a sua tentativa de liderar a luta contra o terrorismo na região do Sahel. No Chade, Deby Itno beneficia das lutas entre os grupos étnicos. Analistas explicam que o regime precisa de instabilidade interna para justificar a sua permanência no poder.
Desde a independência, a França já interveio militarmente em África mais de 50 vezes, sobretudo no Chade. A maioria dos chadianos acredita que é possível estabilizar o país sem a ajuda da França. Mas também sabem que é quase impossível livrarem-se do antigo colonizador, especialmente com o atual regime no poder.
Os chefes de Estado há mais tempo no poder
São presidentes, príncipes, reis ou sultões, de África, da Ásia ou da Europa. Estes são os dez chefes de Estado há mais tempo no poder.
Foto: Jack Taylor/Getty Images
Do golpe de Estado até hoje - Teodoro Obiang Nguema
Teodoro Obiang Nguema Mbasogo assumiu a Presidência da Guiné Equatorial em 1979, ainda antes de José Eduardo dos Santos. Teodoro Obiang Nguema derrubou o seu tio do poder: Francisco Macías Nguema foi executado em setembro de 1979. A Guiné Equatorial é um dos países mais ricos de África devido às receitas do petróleo e do gás, mas a maioria dos cidadãos não beneficia dessa riqueza.
Foto: DW/R. Graça
O Presidente que adora luxo - Paul Biya
Paul Biya é chefe de Estado dos Camarões desde novembro de 1982. Muitos dos camaroneses que falam inglês sentem-se excluídos pelo francófono Biya. E o Presidente também tem sido alvo de críticas pelas despesas que faz. Durante as férias, terá pago alegadamente 25 mil euros por dia pelo aluguer de uma vivenda. Na foto, está acompanhado da mulher Chantal Biya.
Foto: Reuters
Mudou a Constituição para viabilizar a reeleição - Yoweri Museveni
Yoweri Museveni já foi confirmado seis vezes como Presidente do Uganda. Para poder concorrer às eleições de 2021, Museveni mudou a Constituição e retirou o limite de idade de 75 anos. Venceu o pleito com 58,6% dos votos, reafirmando-se como um dos líderes autoritários mais antigos do mundo. O candidato da oposição, Bobi Wine, alegou fraude generalizada na votação e rejeitou os resultados oficiais.
Foto: Getty Images/AFP/I. Kasamani
"O Leão de Eswatini" - Mswati III
Mswati III é o último governante absolutista de África. Desde 1986, dirige o reino de Eswatini, a antiga Suazilândia. Acredita-se que tem 210 irmãos; o seu pai Sobhuza II teve 70 mulheres. A tradição da poligamia continua no seu reinado: até 2020, Mswati III teve 15 esposas. O seu estilo de vida luxuoso causou protestos no país, mas a polícia costuma reprimir as manifestações no reino.
Foto: Getty Images/AFP/J. Jackson
O sultão acima de tudo - Haji Hassanal Bolkiah
Há quase cinco décadas que o sultão Haji Hassanal Bolkiah é chefe de Estado e Governo e ministro dos Negócios Estrangeiros, do Comércio, das Finanças e da Defesa do Brunei. Há mais de 600 anos que a política do país é dirigida por sultões. Hassanal Bolkiah, de 74 anos, é um dos últimos manarcas absolutos no mundo.
Foto: Imago/Xinhua/J. Wong
Monarca bilionário - Hans-Adam II
Desde 1989, Hans-Adam II (esq.) é chefe de Estado do Liechtenstein, um pequeno principado situado entre a Áustria e a Suiça. Em 2004, nomeou o filho Aloísio (dir.) como seu representante, embora continue a chefiar o país. Hans-Adam II é dono do grupo bancário LGT. Com uma fortuna pessoal estimada em mais de 3 mil milhões de euros é considerado o soberano europeu mais rico.
Foto: picture-alliance/dpa/A. Nieboer
De pastor a parceiro do Ocidente - Idriss Déby
Idriss Déby (à esq.) foi Presidente do Chade de 1990 a 2021. Filho de pastores, Déby formou-se em França como piloto de combate. Apesar do seu autoritarismo, Déby foi um parceiro do Ocidente na luta contra o extremismo islâmico (na foto com o Presidente francês Macron). Em abril de 2021, um apenas dia após após a confirmação da sua sexta vitória eleitoral, Déby foi morto num combate com rebeldes.
Foto: Eliot Blondet/abaca/picture alliance
Procurado por genocídio - Omar al-Bashir
Omar al-Bashir foi Presidente do Sudão entre 1993 e 2019. Chegou ao poder em 1989 depois de um golpe de Estado sangrento. O Tribunal Penal Internacional (TPI) emitiu em 2009 um mandado de captura contra al-Bashir por alegada implicação em crimes de genocídio e de guerra no Darfur. Em 2019, foi deposto e preso após uma onda de protestos no país.
Foto: Getty Images/AFP/A. Shazly
O adeus - José Eduardo dos Santos
José Eduardo dos Santos foi, durante 38 anos (de 1979 a 2017), chefe de Estado de Angola. Mas não se recandidatou nas eleições de 2017. Apesar do boom económico durante o seu mandato, grande parte da população continua a viver na pobreza. José Eduardo dos Santos tem sido frequentemente acusado de corrupção e de desvio das receitas da venda do petróleo. A sua família é uma das mais ricas de África.
Foto: picture-alliance/dpa/P.Novais
Fã de si próprio - Robert Mugabe
Robert Mugabe chegou a ser o mais velho chefe de Estado do mundo (com uma idade de 93 anos). O Presidente do Zimbabué esteve quase 30 anos na Presidência. Antes foi o primeiro-ministro. Naquela época, aconteceram vários massacres que vitimaram milhares de pessoas. Também foi criticado por alegada corrupção. Após um levantamento militar, renunciou à Presidência em 2017. Morreu dois anos mais tarde.