Madagáscar celebra hoje 60 anos de independência da França. Mas as razões para celebrar são poucas, dizem os especialistas. Desde a autonomia do poder colonial, em 1960, o país ainda não conseguiu libertar-se da pobreza.
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"A independência de Madagáscar não é certamente uma história de sucesso", afirma Constantin Grund, diretor da Fundação alemã Friedrich-Ebert em Antananarivo, capital malgaxe. "60 anos após a independência, o país regista uma extrema probreza em vastos setores da população, existe uma grande desigualdade social entre ricos e pobres, o nível de educação é baixo, assim como o valor económico acrescentado", observa.
Para o analista, a situação é "trágica", uma vez que o país não só não evoluiu como recuou. "Há seis décadas o país estava mais avançado. E o declínio ocorreu sem qualquer crise externa, tal como uma crise económica mundial, uma guerra com um país vizinho ou uma guerra civil, como outros países africanos tiveram de atravessar. A este respeito, 60 anos de independência para grande parte da população equivalem também a 60 anos de esperanças falhadas", diz Constantin Grund.
Quando pensamos na riqueza do país, este balanço dos 60 anos de independência parece não encaixar. Afinal, Madagáscar é rico em matérias-primas, tais como ouro, safiras, minérios e terrenos agrícolas, e não é um país seco. Como explicar então esta história de insucesso?
Dinheiro "nas mãos erradas"
Constantin Grund considera que o problema não está na "falta de dinheiro", mas sim no facto deste dinheiro "estar nas mãos erradas". Uma opinião que é partilhada por Paul Melly, do instituto britânico Chatam House.
"Parece ter havido durante muito tempo uma falta de foco estratégico no país, especialmente no que concerne ao desenvolvimento e acessos às zonas rurais, onde vive a maioria das pessoas", considera.
Esta é a minha cidade: Antananarivo
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Outro fator que piora a situação, segundo Paul Melly, "é o facto de Madagáscar ser uma ilha. Está muito longe dos mercados vizinhos e tem pouco envolvimento com a África continental, eles estão isolados."
Para além destas questões, o país continua a sofrer com aquilo a que os especialistas chamam ”colonização contínua" e que está relacionado com a ainda dependência de França em alguns setores.
Corrupção e dependência
Os elevados níveis de corrupção e a falta de um plano de políticas sólidas a longo prazo são outros fatores que, na opinião destes analistas, também não ajudam ao progresso do país.
A tudo isto, diz Paul Melly, juntam-se as consequênias do golpe militar de 2009 que fez com que a ilha fosse governada durante quatro anos por um regime transitório não reconhecido.
"De 2009 a 2013, Madagáscar foi governado por um regime de transição inconstitucional após um golpe militar. E durante esses quatro anos o país foi excluído da maior parte dos apoios dos doadores internacionais e perdeu o acesso aos privilégios comerciais dos EUA, o que causou graves danos à indústria de exportação de têxteis", recorda.
Para além dos problemas relacionados com a pobreza e governação, Madagáscar continua, 60 anos depois, a reclamar a "soberania exclusiva" das "Illes Eparses" - cinco ilhas ricas em gás que França separou de Madgáscar, antes da independência.
Madagáscar - Pobre ilha rica
A ilha de Madagáscar é famosa pela biodiversidade, fertilidade e riqueza em matérias primas. Mas a perene crise política paralisa a economia e agrava a pobreza da população.
Foto: DW/F.Müller
Recuo económico no país em crise
O país no Oceano Índico é rico em matérias primas, incluindo enormes reservas de titânio, níquel e petróleo no chão e ao largo da costa. Não obstante, uma grande parte da população vive na pobreza. Há quatro anos que uma crise política assola o país, que paralisa também a economia nacional. Os malgaxes vivem na incerteza, no medo e com grandes problemas financeiros.
Foto: DW/F.Müller
Isolado e empobrecido
Sob a politica económica liberal do Presidente Marc Ravalomanana, e graças a investimentos e assistência ao desenvolvimento, a economia malgaxe recuperou um pouco entre 2002 e 2008. Andry Rajoelina, encontra-se no poder desde o seu golpe de Estado em 2009, à frente de um controverso Governo de transição. Os países doadores congelaram a assistência e os preços dos alimentos básicos subiram.
Foto: DW/F.Müller
O dinheiro não chega para uma refeição quente
Nas ruas da capital, Antananarivo, um prato com arroz com um pouco de carne e legumes custa cerca de 500 ariary, o que equivale a 17 cents do euro. O que é muito dinheiro no Madagáscar. Segundo o Banco Mundial, 92% da população vive do equivalente a menos de 1,50 euros por dia. Muitas famílias passam fome.
Foto: DW/F.Müller
Colheitas pobres
Não obstante do cultivo extensivo de arroz, o principal alimento malgaxe também tem que ser importado. Mesmo havendo solos férteis e água abundante. Mas a agricultura não desenvolveu o seu potencial. Apesar de quase 90% da população trabalhar na agricultura, o sector só gera um quarto do Produto Interno Bruto, diz o Banco Mundial.
Foto: DW/F.Müller
Natureza perigosa
Partes da ilha são regularmente assoladas por ciclones, cheias e secas extremas, ameaçando as colheitas. Ainda não existe um sistema eficiente de alerta e protecção. Acresce a invasão de uma praga de gafanhotos desde a primavera de 2012. A produção de arroz arrisca-se a perdas enormes de até 630 000 toneladas por ano, estima a Organização das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura, FAO.
Foto: DW/F.Müller
Ajuda inicial para agricultores
Desde que começou a crise política e económica em 2009, muitas pessoas procuram o seu ganha pão na agricultura. É frequente não terem a formação necessária, só conhecerem técnicas antiquadas e não terem dinheiro para comprar maquinaria, diz a organização não-governamental CITE. Esta ONG ajuda os jovens agricultores a levarem os seus produtos para o mercado.
Foto: DW/F.Müller
À espera de clientes
A agricultura representa a única esperança também para Jean-Noël und Erick Régis. Por enquanto ainda se esforçam por alimentar a família trabalhando como condutores de riquixás na cidade de Antsirabe, no centro do país. Mas nem todos os dias conseguem pagar a renda equivalente a dois euros para o “pousse-pousse”. Antes da crise tinham 20 clientes nos dias bons, hoje são apenas quatro ou cinco.
Foto: DW/F.Müller
Receio pelos zebus
Para muitas famílias, os zebus são animais de trabalho, alimento e investimento e cruciais à sobrevivência. Mas com a crise aumentou a criminalidade. Quase diariamente os jornais relatam assaltos de ladrões de gado a aldeias, das quais roubam centenas de cabeças. A esta prática deu-se o nome de “dahalo”. Os conflitos com os habitantes e as forças de ordem muitas vezes resultam e mortos e feridos.
Foto: DW/F.Müller
Viver na insegurança
Eliane (atrás, à direita) perdeu o seu irmão num desses assaltos. Os “dahalo” mataram-no, diz. Juntamente com os seus familiares, Eliane colhe algodão num campo no sul seco do Madagáscar. A família vive, sobretudo, do cultivo de mandioca e milho. Mas no ano passado um ciclone destruiu grande parte da colheita. Eliane tem à sua disposição por ano mais ou menos o equivalente a 100 euros.
Foto: DW/F.Müller
Eleições para sair da crise?
Antananarivo, a capital, é o centro político do Madagáscar. Os observadores são unânimes: para que o país se liberte da crise e da pobreza é necessário pôr termo à situação de transição política. Mas as eleições já foram adiadas por várias vezes. De qualquer modo, muitos malgaxes dizem que não importa quem governa o país. Importa ter o que comer no dia seguinte.