65 anos depois como estão as ex-colónias francesas?
30 de agosto de 2025
"65 anos é uma idade da maturidade". Com estas palavras, Alassane Ouattara, presidente da Costa do Marfim, assinalou o sexagésimo quinto aniversário da independência francesa.
"É um momento de consciência coletiva sobre o quanto avançámos. Um convite para consolidar o que aprendemos e olhar para o futuro", acrescentou.
Em África celebra-se este ano muitos 65.º aniversários: a Nigéria, Somália e a República Democrática do Congo tornaram-se independentes em 1960. Além disso, a França concedeu a independência a 14 antigas colónias.
Hoje, a relação do atual presidente francês Emmanuel Macron com as ex-colónias africanas é marcada por tensão.
Países da África francófona entre os mais pobres do mundo
Oito desses 14 países – entre eles o Mali, Burkina Faso, Níger e Chade – estão no fim da lista do Índice de Desenvolvimento Humano (IDH). No Mali, Burkina Faso e Níger, militares tomaram o poder nos últimos anos.
Os golpes de Estado a África francófona são frequentes e as transições pacíficas, como a que aconteceu no Senegal, são raras.
Por outro lado, muitos líderes mantêm-se no poder por várias décadas, como são exemplo a Costa do Marfim, os Camarões e o Togo.
A promessa de uma "era de instituições fortes" da década de 1990 foi por água abaixo, analisa Tumba Alfred Shango Lokoho, historiador da Universidade Sorbonne Nouvelle, em Paris.
"Na maioria dos países africanos, hoje em dia, são homens fortes que se agarram ao poder, desrespeitando até as Constituições e virando-as de cabeça para baixo de todas as formas possíveis para se manterem no poder", diz Shango Lokoho à DW. "É precisamente aí que reside uma das maiores fraquezas de África. Precisamos de instituições fortes", acrescenta.
Influência política da França está a diminuir
Muitas dessas instituições foram criadas em 1960 seguindo o modelo francês, explica Matthias Basedau, diretor do Instituto GIGA de Estudos Africanos, em Hamburgo, na Alemanha.
"Há sempre esse presidencialismo, que é, no entanto, significativamente mais presidencial e autoritário do que na França, com um sistema semipresidencial. E muitas das Constituições também são elaboradas — com diferenças, é claro — seguindo o modelo francês. Talvez uma particularidade aqui seja o laicismo, ou seja, a separação estrita entre religião e Estado. Pode-se até dizer que isso contribuiu para reduzir a discriminação religiosa na região.”
Ao mesmo tempo, alguns Governos continuam a promover o distanciamento da França. Isso é mais evidente no Sahel, onde o desenvolvimento começou após os golpes de Estado, acompanhado em parte por uma retórica bastante contundente em relação à antiga potência colonial. Todas as três juntas expulsaram as tropas francesas estacionadas no país e, desde então, têm apostado principalmente na Rússia como parceiro de segurança.
Consequentemente, o exército francês também abandonou as suas bases no Chade, no Senegal e na Costa do Marfim, e a base no Gabão serve agora apenas para treinar soldados locais. O único país africano com presença militar francesa é agora o Djibuti.
Um objetivo essencial da política francesa para África sempre foi manter no poder Governos favoráveis à França, afirma Matthias Basedau. Atualmente, Camarões é um dos últimos bastiões. "Mas temos de ver o que acontecerá quando Paul Biya deixar o poder", alerta.
Estreitas relações económicas com a França permanecem
Enquanto a influência política da França e do Ocidente em geral diminui, as relações económicas entre a França e muitos países africanos continuam a existir, por exemplo, no setor da extração de matérias-primas. Algumas cadeias de supermercados, postos de abastecimento e operadores de telemóveis também continuam a ser total ou parcialmente detidos por franceses.
Isso é ainda mais evidente nas duas moedas comuns da África Ocidental e Central, frequentemente referidas como franco CFA. São regularmente criticadas como colonialistas, porque se orientam pelo euro com uma taxa de câmbio fixa, em vez de permitirem uma política monetária própria.
Sessenta e cinco anos após a independência, os países francófonos da África seguiram os seus próprios caminhos, o que se aplica especialmente a muitos dos seus cidadãos: os dados relativos às remessas de dinheiro mostram a importância da diáspora para alguns países.
Por exemplo, cerca de 110.000 senegaleses vivem em França. No Senegal, as remessas de dinheiro para familiares no país natal representaram recentemente mais de 10% do produto interno bruto (PIB). Estima-se que metade do dinheiro enviado em todo o mundo chega diretamente à população rural e, portanto, frequentemente aos mais pobres entre os pobres.
Ao longo dos últimos 65 anos, muitas coisas mudaram para melhor na África francófona, pelo menos em termos relativos: na maioria dos países, a percentagem de pessoas em situação de pobreza extrema diminuiu, a esperança de vida aumentou e a mortalidade infantil diminuiu.