700 crianças morreram na travessia do Mediterrâneo em 2016
Lusa
28 de fevereiro de 2017
Estudo da UNICEF revela que mais de 4.500 pessoas perderem a vida a tentar chegar à Europa pelo Mediterrâneo o ano passado. Só em janeiro de 2017, morreram já 40 crianças.
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O relatório "Uma Jornada Fatal para as Crianças: A Rota Migratória do Mediterrâneo Central", divulgado esta terça-feira (28.02) pelo Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF) revela que pelo menos 700 crianças morreram em 2016 na rota migratória do Mediterrâneo Central, quando tentavam sair da Líbia com destino à Europa.
Segundo o documento, no ano que passou, "pelo menos 4.579 pessoas perderam a vida quando tentavam atravessar o Mar Mediterrâneo a partir da Líbia", ou seja, uma em cada 40 pessoas, sendo que 700 eram crianças.
O estudo faz uma análise detalhada sobre os enormes riscos que as crianças refugiadas e migrantes enfrentam quando fazem a perigosa viagem da África subsariana através da Líbia e por mar até Itália.
181 mil migrantes tentaram a travessia só em 2016
A Líbia vive, desde a queda do Presidente Muammar Kadhafi, em 2011, um verdadeiro caos político, económico e social. Só em 2016, mais de 181.000 migrantes - incluindo mais de 25.800 crianças desacompanhadas - colocaram as suas vidas nas mãos de traficantes para chegar à Itália por esta rota.
Três quartos das crianças refugiadas e migrantes entrevistadas no âmbito de um inquérito - realizado nos fins de 2016 - relataram ter sido vítimas de violência, assédio ou agressão às mãos de adultos em algum ponto da viagem.
Cerca de metade das mulheres e crianças entrevistadas reportaram abusos sexuais durante o percurso, na maior parte dos casos várias vezes e em vários locais. A maioria referiu também ter pago a contrabandistas no início da viagem, o que as deixou extremamente vulneráveis a abusos, rapto e tráfico devido ao sistema de "pay as you go" (pagamento por etapas). As péssimas condições e a sobrelotação, incluindo a falta de alimentos e abrigo adequados nos centros de detenção líbios geridos pelo Governo e por milícias armadas, foram outras realidades reportadas.
Na altura em que foi feito o inquérito, foram registados 256.000 migrantes na Líbia, entre os quais 30.803 mulheres e 23.102 crianças, um terço das quais não acompanhadas. No entanto, segundo o documento, é de prever que os números reais sejam pelo menos o triplo.
Tendência manteve-se em janeiro
Já em janeiro deste ano, no auge do inverno, 4.463 pessoas fizeram a travessia até Itália. Segundo a UNICEF, só na última semana do primeiro mês do ano, 1.852 pessoas fizeram o trajeto, um número oito vezes superior à mesma semana do ano anterior.
Estima-se que 228 mortes tenham ocorrido já este ano nesta rota e que pelo menos 40 crianças tenham já perdido a vida.
Crianças desenraizadas na agenda da UNICEF
A organização da ONU desenvolveu uma agenda específica composta por seis pontos para as crianças desenraizadas, nomeadamente proteger as crianças refugiadas e migrantes da exploração e da violência, em especial as crianças não acompanhadas.
O Fundo quer manter as famílias juntas como a melhor forma de proteger as crianças e de lhes atribuir um estatuto legal e ainda acabar com a detenção de crianças requerentes do estatuto de refugiadas ou migrantes através da introdução de uma série de alternativas de caráter prático.
A UNICEF pretende ainda manter a aprendizagem de todas as crianças refugiadas e o acesso a serviços de saúde e ainda pressionar para que sejam tomadas medidas para combater as causas dos movimentos de refugiados e migrantes em larga escala.
O relatório dá conta ainda que a organização pretende promover medidas para combater a xenofobia, a discriminação e a marginalização em países de trânsito ou de destino.
A UNICEF pediu aos Governos e à União Europeia que apoiem e adotem esta agenda de ação.
A bordo de um navio militar alemão no Mediterrâneo
O "Frankfurt am Main" navega nas águas do Mar Mediterrâneo desde janeiro. Auxilia no resgate de refugiados a caminho da Europa e serve de apoio a outros navios. A DW África viajou na embarcação.
Foto: DW/D. Pelz
Missão delicada
O maior navio da Marinha alemã, o "Frankfurt am Main", prepara-se para levantar âncora. Os militares têm em mãos uma missão delicada no Mar Mediterrâneo, no âmbito da operação naval europeia "Sofia": travar a migração ilegal para a Europa, apanhar os "passadores" e resgatar os refugiados que naufragam.
Foto: DW/D. Pelz
Visão periférica
O navio funciona 24 sobre 24 horas. Os militares revezam-se nos turnos. Na ponte de comando, monitorizam o mar envolvente com a ajuda do radar. Os objetos que aparecem no monitor não são só embarcações de refugiados. Há muitos navios comerciais e de cruzeiro que navegam no Mediterrâneo. O "Frankfurt am Main" cruza-se também frequentemente com outras embarcações da operação "Sofia".
Foto: DW/D. Pelz
Saúde a bordo
O mar está demasiado agitado - os refugiados não se costumam fazer ao Mediterrâneo com este tempo. A tripulação dedica-se, por isso, a outras tarefas. A paramédica Shanice S. conduz um teste auditivo de rotina a um soldado. Os tripulantes fazem exames médicos regularmente. É possível inclusive realizar operações no hospital de bordo. Também há um dentista no navio.
Foto: DW/D. Pelz
Médicos, padeiros e padre a bordo…
Andreas Schmekel (à dir.) comanda mais de 200 pessoas no navio. A bordo seguem marinheiros, médicos, cozinheiros, padeiros e um padre. A maioria dos tripulantes passa vários meses no navio.
Foto: DW/D. Pelz
Sempre alerta
Os tripulantes têm de estar preparados para resgatar refugiados que entrem em apuros. Por isso, o técnico Jan S. testa as lâmpadas num dos contentores na proa. É para aqui que os refugiados são levados inicialmente. É aqui que são revistados pelos militares e que se avalia o seu estado de saúde. Quando centenas de refugiados sobem a bordo ao mesmo tempo, o processo pode demorar um dia inteiro.
Foto: DW/D. Pelz
Dia-a-dia dos militares
Se não há náufragos a bordo, os militares continuam os seus treinos regulares, incluindo de tiro, mesmo que a missão no Mediterrâneo não preveja o uso de armas de fogo. Também são testados o combate a incêndios ou a prontidão da resposta face a possíveis vazamentos no navio. Em caso de emergência, cada decisão e gesto é crucial.
Foto: DW/D. Pelz
Tudo em ordem e pratos limpos
Além dos turnos de vigia e dos treinos também é preciso limpar o navio e preparar a comida. Todos os dias, durante uma hora, os militares limpam todos os quatro cantos do navio - desde a bússola aos corrimões. Sobra pouco tempo livre.
Foto: DW/D. Pelz
Visita de vizinhos
Os vizinhos também fazem visitas no Mar Mediterrâneo. A fragata alemã "Karlsruhe" e o porta-aviões italiano "Cavour" realizam um exercício em conjunto com o navio "Frankfurt am Main". É preciso concentração máxima ao leme. Esta é uma manobra difícil.
Foto: DW/D. Pelz
Um armazém flutuante
O "Frankfurt am Main" costuma servir de apoio a embarcações mais pequenas, fornecendo combustível e água. Feridos podem ser tratados no hospital de bordo. Agora, uma parte do navio é utilizada para acolher refugiados que naufragam e que são, depois, transportados para o porto mais próximo ou transferidos para outro navio.
Foto: DW/D. Pelz
Posto de gasolina em alto mar
A fragata espanhola "Numancia" abastece no "Frankfurt am Main". É uma manobra complicada pois as embarcações navegam a uma velocidade de 20 km/h. Os navios têm de se manter à mesma distância durante a operação. Abastecer em alto mar chega a durar mais de uma hora.
Foto: DW/D. Pelz
Saudades
Este placard serve de motivação aos marinheiros, indicando os dias que faltam para o regresso a casa. Em alto mar os telemóveis não têm rede. Mas, a cada duas semanas, o navio atraca num porto do Mediterrâneo – é uma oportunidade para reabastecer a embarcação e dar aos militares a oportunidade de se recuperarem da vida a bordo.