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História

9 de novembro de 1989: fim do Muro de Berlim

Helena Ferro de Gouveia9 de novembro de 2013

No dia 9 de novembro de 1989, caiu o Muro de Berlim. O símbolo da Guerra Fria desmoronou-se. Acabou a separação de Berlim e da Alemanha em leste e oeste. Acompanhe a história do muro com este Contraste histórico.

Foto: picture-alliance/ dpa/dpaweb

9 de novembro de 1989: fim do Muro de Berlim

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O ano de 1989 começou de forma rotineira. Em Janeiro de 1989, referindo-se ao Muro de Berlim, Erich Honecker disse “esse dique de defesa antifascista ficará de pé até que se alterem as condições que levaram à sua construção. Se for preciso ainda estará de pé daqui a cinquenta ou cem anos”.

Nenhum político ocidental ou analista esperava uma mudança dramática. Ainda no ano de 1989, Willy Brandt, chanceler alemão de 1969 a 1974, diria mesmo que o desejo de reunificação da Alemanha era “uma mentira viva”.

Mas os sinais de mudança avolumavam-se. A visita de Mikhail Gorbachev, o líder da União Soviética, a Berlim Leste, a 7 de Outubro de 1989, para comemorar os 40 anos da fundação da RDA e pelo caminho incitar Honecker a enveredar pelas reformas, acabaria por agravar a tensão interna no estado satélite.

Os dissidentes estavam dispostos a tirar ilações da "Perestróica", a reestruturação económica de Moscovo e, nas manifestações organizadas em torno do Marx-Engels-Forum em Berlim Leste, escutavam-se gritos de "Gorbi! Gorbi! Ajuda-nos! Liberdade! Liberdade!" a solicitar a intervenção direta do líder soviético.

Perestróica e Glasnost - o fim dos dinossauros do comunismo

Erich Honecker (à direita) e Mikhail Gorbachev (à esquerda) em BerlimFoto: picture-alliance/ Sven Simon

Líderes como Honecker, nomeados na época de Leonid Brejnev começavam a ser vistos como dinossauros. A juventude do líder soviético, Gorbachev, contrastava com a média de idades do "Politburo" do SED, partido comunista da República Democrática da Alemanha (RDA).

O desconforto de Honecker com as fases iniciais da "Perestróica" – reestruturação económica – e da "Glasnost" – liberalização política – evoluíram para hostilidade. Para Honecker a liberalização era incompatível com o socialismo e ele estava determinado a evitar o alastramento do vírus da reforma na RDA.

A emigração, por um lado, e manifestações nas principais cidades por outro eram uma pedra no sapato do SED. O partido não podia ficar imune à crise na sociedade apesar de Honecker afirmar em Outubro que "o socialismo continuaria a brilhar nas cores da RDA".

Abertura da fronteira entre a Áustria e a Hungria

O descontentamento popular tornou-se mais concreto com a abertura gradual da fronteira austro-húngara a partir de maio de 1989, o que tornou permeável a fronteira entre o Bloco Ocidental e o Bloco Oriental.

Devido à aberta simpatia dos líderes da RDA com a repressão sangrenta do movimento estudantil em Pequim os membros do "Politburo" fazem visitas de solidariedade à China, visitas que deviam ser lidas como um aviso aos dissidentes da RDA.

Cidadãos da RDA fogem através da fronteira recém aberta entre a Áustria e a HungriaFoto: picture-alliance/AP

Protestos em Leipzig não reprimidos pelas autoridades

Todavia um ponto de viragem aconteceu em Leipzig, a 9 de outubro de 1989, quando uma versão alemã dos acontecimentos da Praça de Tiananmen foi evitada. Mais tarde meio milhão de pessoas sairia à rua a exigir reformas. A "Wende" ("mudança") tornava imperativo o derrube de Honecker aos olhos do SED.

No dia 9 de outubro de 1989, 70.000 pessoas participaram na manifestação em LeipzigFoto: AP

Mesmo quando o monólito SED começou a dar sinais de erosão, Bona movimentou-se com cautela, ansiosa por evitar exacerbar a situação. Na sua carta a Honecker, em agosto de 1989, Helmut Kohl assegurava que tencionava manter as relações de uma "forma racional e sensível."

Kohl e o ministro dos Negócios Estrangeiros, Hans-Dietrich Genscher, não estavam interessados em precipitar uma crise que podia por em causa a estabilidade europeia, hostilizar a União Soviética e reverter o processo de reforma na Europa de

Queda do muro depois de lapso em conferência de imprensa

Na noite de 9 de novembro de 1989, o Muro de Berlim caiu. Uma cicatriz de betão de 155 quilómetros de comprimento com 28 anos, 2 meses e 27 dias de vida desmorona-se, pondo fim à divisão da Alemanha e da Europa.

Foi uma entrevista coletiva de imprensa de Günter Schabowski, porta-voz do governo da RDA, que acabou com a separação de Berlim pelo Muro. Günter Schabowski anunciou a nova legislação sobre viagens ao estrangeiro de cidadãos da RDA. Á pergunta do jornalista italiano Riccardo Ehrman, a respeito do momento em que a lei entraria em vigor, respondeu sem pensar nas consequências: "Pelo que sei, ela entra já, imediatamente".

Logo a seguir, como a entrevista era transmitida ao vivo na RDA, muitos cidadãos peregrinaram até a fronteira interna em Berlim. Durante três horas, os guardas de fronteira, sem informações detalhadas do novo regulamento, contiveram o afluxo humano. A seguir, as autoridades da RDA decidiram abrir o Muro de Berlim.

A festa de rua dos berlinenses naquela noite gélida foi seguida com estupefação nas televisões de todo o mundo. Ninguém previu que de 1989 a 1991 a revolução se espalharia como uma labareda com o efeito de desmantelar o socialismo soviético. Como a tomada da Bastilha, dois séculos antes, a queda do Muro mudaria a face do mundo.

Carro do tipo "Trabi" passa a fronteira na noite da queda do Muro de Berlim e é saudado por cidadãos alemães de Berlim OcidentalFoto: Imago/Sven Simon

A reunificação alemã

Pouco depois da queda do Muro, nas ruas da RDA ao "Wir sind das Volk", "nós somos o povo", sucedeu-se o "Wir sind ein Volk", "nós somos um povo". A 21 de Novembro de 1989, o membro do Comité Central do PCUS, Nikolai Portugalov, informava Bona, que a União Soviética poderia estar disposta dar luz verde a médio termo a uma confederação alemã.

A reunificação alemã aconteceria no dia 3 de outubro de 1990, mais depressa do que alguém na Alemanha ou no estrangeiro pudesse imaginar. O momento em que acabou o século XX e começou o século XXI e em que nasceu uma nova Europa.

O Muro de Berlim no ano de 1986Foto: picture alliance/Roland Holschneider
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