Ações humanas continuam a ameaçar tartarugas em Angola
Ângelo Semedo
31 de janeiro de 2018
Esta quarta-feira, 31 de janeiro, é Dia Nacional do Ambiente em Angola. No país, a pesca artesanal e a falta de fiscalização continuam a ameaçar a sobrevivência das tartarugas marinhas, segundo ambientalistas.
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Angola é signatária de várias convenções internacionais para a proteção das espécies marinhas ameaçadas de extinção, em particular as tartarugas. Mesmo assim, estes animais correm sérios perigos. Para o ambientalista Miguel Morais, a pesca artesanal é a principal ameaça a esta espécie marinha no país.
"Apesar de termos áreas de conservação e legislação para a conservação das tartarugas marinhas, temos muita pesca não controlada, e isto, de certa forma, tem influenciado negativamente a dinâmica da população das tartarugas ao longo da costa", afirma o coordenador do projeto "Kitabanga”, que significa "tartaruga gigante" na língua nacional "quimbundo".
Em Angola, há cinco espécies de tartarugas marinhas: "verde", "de couro", "careta careta", "oliva" e "imbricata". A tartaruga de couro é considerada a mais rara do mundo e está em risco de desaparecer do país. Este animal marinho chega a pesar 900 quilogramas.
"Kitabanga": A salvação das tartarugas angolanas?
O projeto "Kitabanga", do Departamento de Biologia da Faculdade de Ciências da Universidade Agostinho Neto, foi implementado em 2003 e trabalha em sintonia com o Ministério do Ambiente angolano, investigando os vários tipos de tartarugas marinhas presentes na costa.
Até 2017, o "Kitabanga" já salvou a vida de milhares de tartarugas nos cinquenta e cinco quilómetros de praias que estão sob a sua tutela. Conforme avançou Miguel Morais à DW África, o projeto conseguiu encaminhar para o mar cerca de "dois milhões" de tartarugas, protegendo da ameaça humana cerca de "vinte mil", durante a fase de desova.
Ações humanas continuam a ameaçar tartarugas em Angola
O "Kitabanga" tem também realizado campanhas de educação ambiental, o que, para o seu coordenador, tem contribuído para a "mudança da mentalidade" das pessoas. Ainda assim, continua a haver registo de vários casos de tartarugas mortas em redes de pesca e em capturas nas praias durante a desova.
"Isto é um cenário que ainda se vê. É um cenário realista que implica que, todos os anos, haja uma mortandade grande desses animais", afirma Miguel Morais.
O responsável acrescenta que casos como o da detenção de três cidadãos chineses, a 20 de janeiro em Luanda, por alegado tráfico e comercialização de tartarugas protegidas por convenções internacionais, podem servir de exemplo e impedir a continuação da prática.
"Situação controlada"
O diretor nacional da Biodiversidade do Ministério do Ambiente de Angola, Nascimento António, diz que as autoridades não podem "baixar a guarda", embora a situação das tartarugas no país "não seja preocupante".
Segundo Nascimento António, muitas comunidades ainda consomem carne de tartarugas: "As tartarugas são vítimas de muitas intervenções: em termos de poluição e perturbação dos ninhos. Mas [...] as comunidades estão avisadas. Consideramos que a situação da tartarugas marinhas em Angola é estável", afirma.
Para reforçar a proteção das tartarugas marinhas em Angola, o Governo pretende identificar potenciais áreas de conservação marinha que incluiriam, principalmente, as zonas de nidificação das tartarugas marinhas. Com isto, "sim, vamos poder conservar melhor as tartarugas marinhas, porque uma vez que a zona é declarada uma área de conservação, terá um outro estatuto em termos de acesso ao público", garante Nascimento António.
Estrangeiros na caça de tartarugas
Sobre os estrangeiros que caçam e comercializam tartarugas, o diretor nacional da Biodiversidade do Ministério do Ambiente angolano garante que "são sempre detetados" e que as autoridades estão a trabalhar para agravar as penas para quem comete estes crimes.
Nascimento António assegura ainda que não existe em Angola nenhuma rede de tráfico de tartarugas para fora do país, explicando que todos os animais que saem para fora são controlados.
Lista Vermelha: Atividade humana ameaça milhares de espécies de extinção
A Lista Vermelha da União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN) apresenta 25 mil espécies sob risco de extinção. A pesca, o tráfico de animais e as mudanças climáticas são algumas das causas deste problema.
Foto: Imago/imagebroker
Alimentado por turistas
A população de keas, eleito pássaro do ano de 2017 na Nova Zelândia, está diminuindo rapidamente. O motivo? Os turistas que alimentam estes papagaios com comidas nada saudáveis. Como resultado, os pássaros acostumam-se a experimentar alimentos novos e acabam comendo iscas venenosas para controlar pragas, como ratos ou gambás, que destroem até 60% dos ninhos de pássaros a cada ano naquela região.
Foto: Imago/imagebroker
Sem enguias, sem kittiwake
A alimentação dos kittiwakes de pernas pretas depende de determinadas presas, como as enguias. À falta de comida, as colónias de reprodução deste pássaro no Atlântico Norte e no Pacífico estão lutando para alimentar seus filhotes. Globalmente, pensa-se que a espécie diminuiu cerca de 40% desde a década de 1970. A principal causa é a sobrepesca e as alterações no oceano devido à mudança climática.
O bunting de peito amarelo – que já foi abundante na Ásia – é a prova de que a sobrevivência pode ser uma luta. Em 2004, o pássaro estava listado como "menos preocupante" na Lista Vermelha. Este ano, o seu status de risco aparece como "criticamente em perigo". A população desta espécie está diminuindo rapidamente devido à captura em redes, principalmente na China, ao longo de sua rota migratória.
Foto: picture-alliance/Mary Evans Picture Library
Vaquita: extinção em tempo real
O golfinho vaquita é um dos muitos mamíferos marinhos ameaçados pela pesca – está sob risco de extinção devido a captura acidental em redes de pesca para o totoaba, um peixe traficado por causa da sua bexiga de ar. O status da vaquita "deve ser um alerta para que as ameaças aos cetáceos continuem, exigindo nossa vigilância contínua", disse Thomas Lacher, do Comité da Lista Vermelha da IUCN.
Foto: picture-alliance/dpa/WWF/Tom Jefferson
Perto das margens, os golfinhos sofrem
O golfinho do Irrawaddy foi reclassificado de vulnerável para "ameaçado de extinção" – sua população diminuiu pela metade nos últimos 60 anos. Este golfinho também é alvo das redes de pesca, de acordo com o especialista em cetáceos Randall Reeves da UICN. "Sem soluções práticas para este problema, as redução de golfinhos e botos devem continuar no futuro previsível".
Foto: picture-alliance/dpa/WWF/Roland Seitre
Agricultura insustentável
A desflorestação e os herbicidas, entre outros, representam uma ameaça para espécies de safras selvagens, ressalta a atualização da Lista Vermelha. Vários parentes de culturas básicas, incluindo arroz, trigo e inhame, foram incluídos na lista pela primeira vez este ano. "Ignoramos o destino dessas espécies sob nosso próprio risco", disse Nigel Maxted, especialista em agricultura da UICN.
Foto: Imago/blickwinkel
Menos coruja-das-neves
A coruja-das-neves atingiu o status "vulnerável", com estimativas populacionais recentes muito menores do que se pensava anteriormente. As mudanças climáticas atingiram em cheio o icónico pássaro do Ártico, aumentando o derretimento da neve e reduzindo a disponibilidade de presas. Um quarto das espécies de aves reavaliadas na Lista Vermelha, incluindo a coruja-das-neves, estão mais ameaçadas.
Foto: Imago/CTK Photo
Espécies africanas
Cinco espécies de antílopes africanos – das quais quatro foram listadas anteriormente como "menos preocupantes" – estão diminuindo drasticamente devido à caça furtiva. Outros problemas são a degradação do seu habitat natural e a criação de gado doméstico.
Foto: UltimateUngulate/Brent Huffman
O maior antílope do mundo
O maior antílope do mundo, o elande gigante – anteriormente avaliado como "menos preocupante" – agora está classificado como "vulnerável". Sua população global estimada é entre 12 mil e 14 mil no máximo, sendo que menos de 10 mil são animais maduros. Esta espécie está em declínio devido à caça furtiva, invasão em áreas protegidas e expansão da agricultura e pecuária.
Foto: UltimateUngulate/Brent Huffman
Macado-da-noite
O macaco-da-noite também entrou para as espécies "vulneráveis". A principal ameaça para este primata da floresta amazônica é o comércio ilegal de animais do Peru para o Brasil, onde são usados para pesquisa contra a malária. A conversão do habitat para a agricultura (arroz, óleo de palma e cultivo de soja, bem como pastagens) também está a afetar essa espécie.
Foto: Ben Lybarger
Boa notícia para a raposa-voadora
Algumas espécies dão esperança para o futuro. É o caso da raposa-voadora, que passou da categoria "criticamente em perigo de extinção" para "perigo de extinção" – graças à melhoria da proteção do habitat, projetos de reflorestação, melhor proteção legal e combate à caça. A menor incidência de ciclones, possivelmente o resultado das mudanças climáticas, também ajudou a população a aumentar.