Segundo o Fórum Mulher, falta de documento de identificação é um dos principais problemas enfrentados pelas mulheres que vivem no campo. Muitas veem-se obrigadas a migrar para as cidades em busca de sustento.
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São muitas as desigualdades entre as mulheres das zonas rurais e as que vivem em zonas urbanas na província moçambicana de Inhambane, no sul de Moçambique.
As mulheres das zonas rurais têm dificuldades de desenvolvimento, sobretudo devido à falta de documentos de identificação. A explicação é de Hortência da Conceição, presidente do Fórum Mulher em Inhambane, uma organização da sociedade civil que trabalha com mulheres que vivem no campo.
"Esta mulher não pode entrar no banco, por exemplo, para pedir empréstimo, porque ela nem Bilhete de Identidade tem - e nós sabemos que para poder ter empréstimo bancário é preciso que tenha a identificação," explica.
Margaret Ekpo: Exemplo da luta pelos direitos das mulheres
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"Esta mulher não pode concorrer para lugares de tomada de decisão, porque ela não tem documentos, também não tem conhecimento, não tem voz ativa," descreve.
"Para em algum momento ela tomar lugares de tomada de decisão, depende mais da decisão do marido," acrescenta Hortência da Conceição.
Desvantagem no casamento
Muitas vezes, as mulheres das zonas rurais também não têm o direito do uso e aproveitamento de terras - principalmente aquelas que casaram de forma tradicional - conta Luciana Arnaldo, residente no distrito de Zavala, em Inhambane.
"Acontece. A mulher trabalha, vive anos e anos, mas não tem um pedaço de terra. Quando morre o marido, tudo o que ela trabalhou, pertence à família do marido," afirma Luciana.
Adelaide Nhapossa deixou o distrito de Jangamo para viver na cidade de Maxixe há seis anos, em busca de melhores condições de vida. Trabalhou como doméstica numa residência durante quatro anos, mas hoje em dia prefere comercializar pequenos produtos.
"Trabalhar não é só fazer negócio. Mesmo ir trabalhar no quintal, aqui o dinheiro é pouco. Não tem como. Eu trabalhei quatro anos numa casa, deixei por causa de doenças," lamenta.
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Informação e direitos
As mulheres das zonas rurais estão presas aos fatores culturais e tradicionais, enquanto as mulheres que vivem nas cidades têm mais acesso à informação, lembra a ativista Rosalina Renalda, do Movimento Feminista em Moçambique.
"Elas ainda estão muito presas a essa esfera tradicional e cultural, da qual é muito difícil fazer questionamentos ou qualquer tipo de revolução, digamos assim. As mulheres do contexto urbano estão numa situação um pouquinho mais diferente, porque têm bastante informação e serviços disponíveis que facilitam um pouco - relativamente aos direitos humanos e direitos das mulheres," avalia a ativista.
Raquel Domingos, residente em Inhambane, lamenta que a mulher do campo não tenha outras oportunidades para além de cultivar a terra. Por isso, pede mais igualdade de direitos.
"Quem tem mais oportunidades é a mulher da cidade do que a do campo. Acontece porque as mulheres do campo vão só à machamba, não têm oportunidades como as mulheres da cidade. Elas têm o direito também a ter os direitos que as mulheres da cidade têm," defende.
Fazer as unhas nas ruas de Moçambique
Em Inhambane, fazer as unhas às mulheres nas ruas já se tornou um negócio. Jovens sem emprego percorrem a província com tábuas de vernizes. Outros têm "salões" nos quais oferecem os serviços de manicure e pedicure.
Foto: DW/L. da Conceicao
Caminhar todos dias
O negócio de pintar unhas não é fácil para os jovens que realizam esta atividade, é preciso caminhar pelas ruas das cidades com uma tábua de vernizes, além de ser necessário conquistar a clientela. Valdimiro Chapuana conseguiu lobolar (ter um casamento tradicional) a sua esposa e tem dois filhos graças aos rendimentos deste negócio.
Foto: DW/L. da Conceicao
“Estou feliz com o meu trabalho”
Lourenço Zacarias concluiu o nível médio na escola secundária e não teve oportunidade para entrar na faculdade nem conseguir emprego. Pediu dinheiro ao irmão mais velho para começar o negócio e abriu uma banca de pintar unhas em frente à escola que frequentou na cidade de Maxixe. “Estou feliz com o meu trabalho”, diz.
Foto: DW/L. da Conceicao
Colocar e pintar unhas para lobolar
Antunes Costa e a noiva, que estão a preparar-se para lobolar (casamento tradicional), decidiram tratar das unhas por uma questão de elegância e beleza. Recorreram a uma banca onde colocam e pintam unhas. Questionados sobre a escolha deste local, disseram que o trabalho é de qualidade e os preços razoáveis.
Foto: DW/L. da Conceicao
Salões de unhas nas ruas
Os salões que pintam unhas estão espalhados pelas cidades e vilas da província de Inhambane. O negócio começou a fazer sucesso na África do Sul e em Maputo, de onde vieram empreendedores que passaram os seus conhecimentos aos jovens locais. Nos últimos três anos, o negócio ganhou espaço nas ruas da província. Muitas mulheres que procuram realçar a sua beleza recorrem estes locais.
Foto: DW/L. da Conceicao
Detalhe da pedicure
A manicure e a pedicure podem ser realizadas nas ruas, nos locais de trabalho ou nas residências das clientes. Os jovens que exercem a atividade deixam o seu contacto com os clientes. A clientela acredita no trabalho de qualidade. O preço varia entre 100 e 450 meticais (um e seis euros).
Foto: DW/L. da Conceicao
Perigos para a saúde
Esta atividade requer cuidados com a saúde, tanto para quem faz o trabalho, como para as clientes. Nem todos usam proteção, como luvas e máscaras, e o material nem sempre é esterilizado. Muitas vezes os equipamentos são conservados em condições precárias.
Foto: DW/L. da Conceicao
Trabalho infantil
Matias Pedro é um adolescente de 15 anos que abandonou a família no distrito de Funhalouro e veio para a cidade de Maxixe em busca de melhores condições de vida. Não teve escolha quando lhe ofereceram este trabalho para pintar unhas nas ruas. Ganha cerca de 1.500 meticais (20 euros).
Foto: DW/L. da Conceicao
“Faço o trabalho há 15 anos”
Nido Zaqueu conseguiu empregar-se depois de aprender a atividade na África do Sul em 2003. Seis anos depois, voltou a Moçambique e começou a fazer negócio na cidade de Maputo. Devido à procura de novos mercados, fixou-se na cidade de Maxixe. É casado e pai de três filhos. Diz que o negócio vale a pena e emprega temporariamente três jovens, entre eles o irmão.
Foto: DW/L. da Conceicao
Cliente satisfeita
O trabalho requer muita atenção, pois um pequeno erro pode estragar a beleza das unhas. Ainda assim, os jovens pouco experientes conseguem deixar as suas clientes satisfeitas. Os modelos disponíveis encontram-se nos cartazes. “Cada mulher quer um modelo diferente e que combine com o seu vestuário, mas também com a época do ano”, explicam os jovens.
Foto: DW/L. da Conceicao
Quem procura este serviço?
Mulheres trabalhadoras, estudantes universitárias e turistas estão entre os grupos que procuram este serviço. Muitas delas contam que não têm material nas suas casas ou não sabem fazer melhor. Falta de tempo, paciência e criatividade são outros motivos que as levam a pagar por serviços de manicure e pedicure.
Foto: DW/L. da Conceicao
À espera de melhores oportunidades
Delercio Arnaldo, adolescente natural do distrito de Massinga, conseguiu emprego a pintar unhas em Inhambane. Conta que deixou a família e abandonou os estudos por falta de condições há cerca de dois anos. Espera um dia ter outras oportunidades na sua vida.
Foto: DW/L. da Conceicao
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O serviço de pintar unhas tem publicidade espalhada em todas as avenidas. Os panfletos incluem o nome de quem pratica a atividade e os contactos. Algumas mulheres recorrem aos salões ou mesmo a jovens na rua por terem confiança neles. Outras solicitam serviços ao domicílio. “Às vezes viajamos para outras províncias, distritos ou mesmo residências aqui dentro da cidade”, dizem muitos jovens.