A Alemanha arma Angola
13 de julho de 2011O reforço das relações deverá passar por um uma “parceria política”, na qual serão incluídos aspetos comerciais, especificou Merkel. A chanceler avançou propostas concretas, incluindo uma parceria na área da política de energia e de matérias-primas: “Estamos interessados em investimentos nas infraestruturas, na industrialização, no ensino e noutras áreas” como forma de ajudar a aumentar o nível de vida em Angola, disse Merkel.
A chanceler realçou o “muito que Angola já conseguiu” desde o final da guerra civil. A Constituição promulgada no ano passado foi “um passo importante”, mas agora falta “preenchê-la com vida”. Numa referência às eleições presidenciais marcadas para 2012, a chanceler considerou que “elas vão tornar claro o caminho já percorrido por Angola na via para a democracia e a liberdade de expressão”. O seu interlocutor em Luanda, o Presidente José Eduardo dos Santos, governa o país há perto de 32 anos, sem nunca se ter submetido a uma votação. Todas as eleições presidenciais marcadas no passado acabaram por ser canceladas por um ou outro motivo
Venda de material bélico alemão a Angola
Prosseguindo com uma análise da relevância geoestratégica de Angola, Merkel considerou que o país é essencial para a estabilidade da região: “É o nosso objetivo que os conflitos regionais sejam solucionados por tropas da região”, explicou a chanceler, mencionando, como exemplos, o Sudão e a Somália. A Alemanha, acrescentou Merkel, “também está na disposição de ajudar na formação dos soldados”, caso a sua assistência seja requerida.
Merkel anunciou ainda a venda de barcos de patrulha para a segurança das fronteiras à marinha de guerra angolana. O valor da transação poderá ascender a várias centenas de milhões de euros. O armador alemão, Friedrich Lürßen, membro da comitiva de empresários que acompanha Merkel nesta primeira deslocação de um chefe de governo alemão a Angola, cifrou o valor de cada um dos seis a oito barcos de patrulha que deverão ser entregues pela sua empresa em entre dez e 25 milhões de euros.
Na Alemanha, o maior partido da oposição, o SPD, respondeu de imediato à proposta da chanceler. Rolf Mützenich, porta-voz para a política externa do grupo parlamentar social-democrata, disse ao jornal Kölner Stadt-Anzeiger que esta é uma proposta "inaceitável" e que "viola as diretivas quanto à exportação de armamento".
Ao jornal, Mützenich referiu ainda que o Ministério dos Negócios Estrangeiros alemão, na sua avaliação política sobre Angola, classifica como "má" a situação dos direitos humanos no país. Segundo Rolf Mützenich, Angola "não é um modelo de democracia, e além disso o clã do Presidente parece ser vulnerável à corrupção".
O social-democrata conclui dizendo que, no contexto da recente polémica sobre a venda de tanques alemães à Arábia Saudita, a proposta de Merkel é "totalmente incompreensível".
José Eduardo dos Santos vê “novos impulsos” nas relações bilaterais
Na conferência de imprensa que se seguiu ao encontro no Palácio Presidencial, o Chefe de Estado angolano, José Eduardo dos Santos, declarou que as forças armadas do seu país necessitam de novos equipamentos. Angola ainda não recuperou completamente das consequências de uma guerra civil longa de 27 anos, que só terminou em 2002.
No que toca à visita inédita da chanceler alemã, que se deslocou a Angola na sequência de um convite que lhe foi feito pelo Presidente aquando da sua estada em Berlim, em 2009, José Eduardo dos Santos disse saudar as “propostas de cooperação” avançadas por Merkel, considerando a sua deslocação um “impulso importante para o desenvolvimento das relações económicas e financeiras”.
Autora: Cristina Krippahl / Guilherme Correia da Silva
Edição: António Rocha