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"A CAD traz a ideologia de Dhlakama desprezada pela RENAMO"

Sitoi Lutxeque (Nampula)
25 de julho de 2024

À DW, Raúl Novinte diz que saiu da RENAMO porque já não se revia no partido. Mostra-se ainda orgulhoso na sua nova formação política, a CAD, e confia que o Conselho Constitucional viabilizará a participação nas eleições.

Raúl Novinte, candidato a governador de Nampula pela Coligação Aliança Democrática (CAD)
Raúl Novinte, candidato a governador de Nampula pela Coligação Aliança Democrática (CAD)Foto: Sitoi Lutxeque/DW

Raúl Novinte, o candidato a governador de Nampula pela Coligação Aliança Democrática (CAD), está confiante numa decisão favorável do Conselho Constitucional ao recurso apresentado pela coligação contra a Comissão Nacional de Eleições (CNE) que a excluiu de concorrer às eleições de outubro.

Em entrevista à DW, Raúl Novinte, dissidente da Resistência Nacional Moçambicana (RENAMO), acusa a CNE de ser "partidária" e deixa fortes críticas a um partido em que diz já não se rever. Novinte frisa ainda que a "CAD traz a ideologia de Dhlakama que foi desprezada e negligenciada pela RENAMO" e que foi Dhlakama que viu, em 2017, "as capacidades" de Venâncio Mondlane.

DW África: Como vê a exclusão da CAD pela CNE?

Raúl Novinte (RN): O ato da CNE é um ato meramente político. É um ato vergonhoso para um país que diz que está a almejar implementar a democracia. Nós estamos aqui, neste momento, a lutar para implementar a democracia, e quando estamos quase a meio [do processo eleitoral], vem uma Comissão Nacional de Eleições que diz abertamente: "nós somos uma Comissão Nacional partidarizada".  

DW África: A CAD em Nampula foi também desqualificada por não ter cumprido os processos legais. O que tem a dizer?

RN: Todas as normas foram cumpridas. O problema não são as listas. O problema é da RENAMO e da Frente de Libertação de Moçambique (FRELIMO, no poder) em Nampula. Eles sabem muito bem que a CAD, como uma coligação partidária que sobressaiu agora e com o engenheiro Venâncio Mondlane como candidato, tem muita apreciação e apoio. Quando viram aquela multidão em Nampula, ficaram assustados. Eu tenho a certeza que as listas de Nampula foram entregues à Comissão Provincial de Eleições, que as recebeu e conferiu.

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DW África: A CAD submeteu um recurso ao Conselho Constitucional. Que decisão espera?

RN: A minha fé é que o Conselho Constitucional saia a contrariar a decisão de uma Comissão Nacional de Eleições partidarizada, porque o Conselho Constitucional é composto por um grupo de juízes com sabedoria e discernimento, de forma que não podem tomar uma decisão que envergonhe e sufoque o povo moçambicano, que vá contra o seu desejo. Por isso, a minha esperança é de que, sim, o Conselho Constitucional vai dar uma resposta a favor do povo.

DW África: A CAD anunciou manifestações em repúdio da decisão da Comissão Nacional de Eleições. Concorda com estas marchas?

RN: A CAD vai marchar para repudiar um ato antidemocrático, um ato cometido ilegalmente, um rasgar de uma democracia em pleno dia. Por isso, a direção nacional da CAD convocou a marcha a nível nacional para demonstrar o desagrado que a Comissão Nacional promoveu contra o povo moçambicano.

DW África: No caso do Conselho Constitucional decidir concordar com a decisão da  CNE, qual será o seu futuro político?

RN: Eu não fui para a CAD simplesmente para as eleições. Fui por sentir que não estava no lugar certo. A RENAMO não é aquilo que eu estava à espera. A RENAMO já perdeu o selo de partido democrático.

Raúl Novinte lembra que foi Dhlakama que viu, em 2017, "as capacidades" de Venâncio Mondlane (na foto)Foto: R. da Silva/DW

DW África: Na CAD, segue Venâncio ou a estratégia política da coligação?

RN: Nós, na CAD, estamos a trazer a ideologia de [Afonso] Dhlakama [líder histórico da RENAMO] que foi desprezada e negligenciada pela RENAMO. O saudoso Dhlakama viu as capacidades do engenheiro Venâncio Mondlane em 2017. Chamou-o e deu-lhe essa honra de servir o povo de Maputo, colocando-o como cabeça de lista. Foi Dhlakama.

DW África: Tendo em conta que a CAD é uma coligação, em caso de dissolução, o que fará?

RN: Enquanto essa associação não é dissolvida, eu sou membro da CAD. Neste momento, não me preocupo.

DW África: Já pensou em criar um partido?

RN: Não, nunca pensei em criar um partido. A razão pela qual nós, eu e o engenheiro Venâncio Mondlane, fomos à última hora ao Alto Molócuè, querendo participar no congresso [da RENAMO], é porque somos verdadeiros democráticos. Aprendemos do saudoso Dhlakama. A democracia é isto. Nós esperávamos que o presidente da RENAMO [Ossufo Momade] fosse, na verdade, um democrata, mas não é.

DW África: Se Venâncio Mondlane decidir fundar um partido, estaria com ele ou iria manter-se na CAD?

RN: Vai depender da ideologia e das intenções do partido.

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