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"A China em Moçambique" chega a Colónia

27 de setembro de 2012

Documentário "Subverses", da austríaca Ella Raidel, marcou presença na 12 edição do festival Novos filmes de África. O filme mostra o dia-a-dia dos trabalhadores moçambicanos em empresas chinesas a operar em Maputo.

Blick auf den Hafen von Maputo, Hauptstadt von Mosambik. Aufnahme vom 09.11.2010. Foto: Lazlo Trankovits dpa Schlagworte Geografie, Häfen, Städte, Stadtansicht, Hochhäuser, Verladekräne
Maputo Mosambik Hauptstadt Panorama Stadt StadtansichtFoto: picture-alliance/dpa

Ella Raidel ficou a conhecer a realidade dos trabalhadores moçambicanos contratados por construtoras chinesas a partir de uma carta. Um funcionário de uma das inúmeras empresas que se instalaram em Moçambique contou à realizadora a verdade sobre as estruturas hierárquicas e a discriminação que os cidadãos nacionais têm de enfrentar quando aceitam trabalhar para os investidores chineses.

Da observação até à realização do documentário Subverses: a China em Moçambique, foi apenas um passo.

Raidel quis perceber presença da China em Moçambique

"Sou uma artista, olho à minha volta e tento perceber o mundo", afirma a realizadora, explicando: "A minha formação não é a gestão, não faço idéia de como os países fazem negócios com outros países. O documentário baseou-se mesmo em observação, porque para mim era importante não fazer um filme em que a minha voz se sobrepõe, para mostrar ao espectador o que pode ver ali."

O novo aeroporto de Maputo e o Estádio Nacional são apenas dois exemplos do trabalho das construtoras chinesas na capital moçambicana.Foto: Ismael Miquidade

Ella Raidel acrescenta: "Tenho também um chinês que me deu uma carta que escreveu, que vejo como outra voz neste filme. Alguém do lado chinês, que diz ‘isto é assim’.”

A esta voz, junta-se a dos poetas de rua moçambicanos, que a realizadora incluiu no seu filme. “Quero deixar as pessoas falar por elas próprias", adianta. "Primeiro fiz entrevistas, elas falam, mas também tenho poetas de rua, que dizem os seus poemas. Claro que isto não está directamente relacionado com os chineses em África mas dá outro sub-texto, por isso é que o documentário se chama ‘Subverses’, este sub-texto dá-lhe outro tom, outra voz.”, conclui Raidel.

Moçambicanos sofrem discriminação nas empresas chinesas

Os poetas de rua expressam, muitas vezes, ao longo do filme, o sentimento dos trabalhadores moçambicanos que Ella Raidel encontrou. As verdadeiras vítimas da corrupção que se entranhou na rotina da sociedade moçambicana, para a qual contribui a presença chinesa no país.

O trabalho dos funcionários na construção do Estádio Nacional e do novo aeroporto, em Maputo, é pago com cerca de 40 euros por mês. Para além disso, estão sujeitos ao tratamento desigual e a despedimentos arbitrários por parte das empresas.


Há quem diga que o documentário é, por isso, a prova do novo auge da herança colonial africana. Mas a realizadora tem outra perspectiva: “Eu não usaria a palavra ‘colonizador’. É dificil de dizer o que é realmente", diz. Para Ella Raidel, a presença chinesa em Moçambique  "é um acordo entre países" e "as pessoas que governam o país são as que beneficiam mais com a situação e todos os outros estão a sofrer".

Só em 2012, a China promete investir mais de 20 mil milhões de dólares em África para apoiar desenvolvimento de infra-estruturas, indústria e agricultura, entre outras áreas.Foto: picture-alliance/dpa

"Há tantos séculos que a África tem de enfrentar este problema. Mas, na verdade, os africanos também são responsáveis. O presidente, por exemplo, e o seu partido, através da forma como fazem negócios com outros países", considera.

Conflito étnico entre chineses e moçambicanos em Maputo

O filme, dizem as críticas, peca apenas pela falta de vozes de empresários chineses. A realizadora admite que não conseguiu falar com os investidores: “É verdade, não falei com essas pessoas, porque não conseguia chegar até elas e tinha um tempo limitado. E também muitos deles não querem ser entrevistados nem querem falar."

No entanto, depois dos contactos que fez em África com alguns empresários chineses, Ella Raidel conclui: "Eles sabem o que está a acontecer mas também tenho de dizer que, para os chineses, também é difícil trabalhar em África. É outra cultura, estão longe de casa, também têm problemas de comunicação. É um grande conflito étnico.”

O documentário já passou por vários festivais de cinema internacionais, incluindo Moçambique, onde foi bem recebido. Em Colônia, houve quem sugerisse, na platéia, a disponibilização do documentário na internet para que o mundo inteiro passe a conhecer a história dos trabalhadores moçambicanos, contratados por empresas chinesas. Ella Raidel prometeu pensar nisso.

Autora: Maria João Pinto
Edição: António Rocha

27.09.12 "Subverses-A China em Moçambique" - MP3-Mono

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