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A contestada reeleição de Emmerson Mnangagwa no Zimbabué

ms | AP | Lusa | EFE
28 de agosto de 2023

O líder da oposição do Zimbabué contesta a reeleição do Presidente cessante, mas Emmerson Mnangagwa nega que tenha havido fraude eleitoral. ONU diz-se preocupada com relatos de ameaças e intimidações durante eleições.

Emmerson Mnangagwa foi reeleito para um segundo e último mandato
Emmerson Mnangagwa foi reeleito para um segundo e último mandatoFoto: Jekesai Njikizana/AFP via Getty Images

No Zimbabué, o Presidente Emmerson Mnangagwa, de 80 anos, foi reeleito com 52,6% dos votos para o seu segundo e último mandato. Os resultados das eleições conturbadas da semana passada foram anunciados pela Comissão Nacional de Eleições (CNE) no fim-de-semana e imediatamente rejeitados pelo principal líder da oposição, Nelson Chamisa, que, segundo a CNE, obteve 44% dos votos.

Chamisa reivindicou vitória nas eleições, também criticadas pelos observadores internacionais. "Roubaram a vossa voz e o vosso voto, mas nunca a vossa esperança", escreveu na plataforma X (anteriormente conhecida como Twitter) na sua primeira reação pública ao resultado anunciado.

"Vencemos esta eleição. Somos os líderes. Estamos até surpresos que Mnangagwa tenha sido declarado vencedor", declarou mais tarde, numa conferência de imprensa em Harare, no domingo (27.08), o advogado de 45 anos, que lidera a Coligação de Cidadãos para a Mudança (CCC) e que já tinha sido derrotado por Mnangagwa há cinco anos.

Nelson Chamsa lidera a Coligação de Cidadãos para a Mudança (CCC)Foto: Tsvangirayi Mukwazhi/AP Photo/picture alliance

Críticas de observadores internacionais

Observadores eleitorais internacionais detetaram vários problemas nas eleições, que segundo constataram decorreram num clima de intimidação contra os apoiantes de Nelson Chamisa. 

Enviados da Comunidade de Desenvolvimento da África Austral (SADC) consideraram que as eleições "não alcançaram os requisitos estabelecidos pela Constituição do Zimbabué, na Lei Eleitoral", nem nos princípios da organização regional africana em vários aspetos, incluindo  falta de material eleitoral ou atrasos na abertura das urnas.

Por sua vez, a missão conjunta enviada pela União Africana (UA) e pelo Mercado Comum da África Oriental e Austral (Comesa) qualificou as eleições como "transparentes", mas lamentou que não tenham cumprido os "requisitos" da Constituição por várias razões, incluindo o facto de a CNE não ter fornecido antecipadamente à oposição a lista de eleitores.

Durante a campanha eleitoral, grupos internacionais de direitos humanos também já tinham relatado episódios de repressão aos opositores a Mnangagwa e ao seu partido União Nacional Africana do Zimbabué - Frente Patriótica (ZANU-PF), há 43 anos no poder.

O próprio ato eleitoral foi problemático e a votação teve de ser prolongada mais um dia, na quinta-feira, devido à escassez de boletins de voto, especialmente na capital, Harare, e noutras áreas urbanas consideradas redutos da oposição.

ZANU-PF está no governo há 43 anos, desde a independência do ZimbabuéFoto: Columbus Mavhunga/DW

ONU preocupada com ameaças e intimidações

No domingo (27.08), o secretário-geral da ONU, António Guterres, manifestou preocupação  face aos relatos de ameaças e intimidações de eleitores durante as eleições presidenciais de quarta-feira no Zimbabué.

Já durante a campanha eleitoral tinham sido detidas perto de 40 pessoas que se identificavam como observadores, além de ter sido observada a presença de grupos organizados de simpatizantes do Presidente acusados de pressionar o eleitorado para votar a favor de Mnangagwa.

"O secretário-geral está preocupado com a detenção de observadores e relatos de intimidação de eleitores, ameaças de violência, assédio e coerção", lamentou a porta-voz adjunta, Florencia Soto Niño-Martínez.

António Guterres "apela a todos os líderes políticos e aos seus apoiantes para que rejeitem toda a violência e resolvam os seus conflitos pacificamente através dos canais legais. E solicita às autoridades eleitorais que atuem com transparência para garantir que os resultados reflitam o direito da vontade do povo", conclui a nota.

As eleições gerais começaram na quarta-feira (23.08), mas foram prolongadas por um dia em alguns círculos eleitorais Foto: Tsvangirayi Mukwazhi/AP Photo/picture alliance

Presidente reeleito nega fraude

Emmerson Mnangagwa negou este domingo que tenha havido fraude. "As eleições foram realizadas num ambiente livre e justo. O partido da oposição afirma que foram fraudulentas e não foi assim. Participaram e perderam as eleições e têm de aceitar isso", disse aos jornalistas no Palácio Presidencial, na capital, Harare.

O chefe de Estado reeleito declarou ainda que é preciso "avançar e construir o país juntos”, lembrando que as eleições demonstraram que são "uma democracia madura”.

Mnangagwa também agradeceu às várias missões de observação eleitoral que testemunharam as eleições "sem qualquer parcialidade" e pediu-lhes que "respeitem as instituições" do Zimbabué "à medida que concluem o seu trabalho".

À lupa: Porque é que a oposição não é mais unida?

02:07

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