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História

A escravatura deve ser debatida, dizem historiadores

João Carlos (Lisboa)22 de dezembro de 2014

Duas historiadoras portuguesas defendem que o tema da escravidão deve ser discutido para favorecer a educação dos mais novos; mas mais importante, porque apesar de proibida, ainda é uma realidade.

Foto: Sia Kambou/AFP/Getty Images

A escravatura e o comércio de escravos entre os séculos XV e XIX foram crimes que marcaram negativamente a história de muitos países.

Em Portugal, o primeiro a introduzir a escravidão na Europa, ainda prevalece um amplo silêncio sobre a necessidade de um debate sério e profundo acerca dos crimes históricos cometidos com o tráfico de escravos e na escravatura, abolida, em 1773.

Apesar de ser uma questão complexa e sensível, historiadores consideram que, moralmente, Portugal deve dar mais a conhecer sobre o seu passado esclavagista, em benefício da educação das gerações mais jovens.

Tema silenciado

A história do envolvimento do Estado português no tráfico de escravos e na escravatura é uma matéria praticamente silenciada até os dias de hoje na sociedade portuguesa. De um modo geral, à exceção do que acontece apenas no meio académico, falta consciência e debate sobre este fenómeno universal que durou vários séculos.

Meninos recolhem peixe das redes em Yeji, uma vila piscatória junto ao lago Volta, no GanaFoto: picture-alliance/dpa/T. Ridley

Centenas de milhares de africanos foram transportados como mercadorias em particular para o continente americano. A partir do século XV, números consideráveis de escravos foram levados para Portugal, seguindo-se um longo período histórico que se veio a reforçar com a dominação colonial do século XIX.

Sónia Vaz Borges, mestre em História de África pela Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, questiona o facto dos portugueses falarem pouco ou praticamente nada sobre esse período.

"O facto de não sequerer estudar ou de se falar muito pouco sobre o assunto é não dar importância a este facto que fez parte da história deste país e que viabilizou a construção de Portugal", salienta a historiadora cabo-verdiana.

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Hoje, será este um fenómeno do passado? "Sim e não", responde a historiadora portuguesa Isabel Castro Henriques, para quem a escravatura é uma questão incómoda até hoje na sociedade portuguesa.

"O problema é que a questão deve ser assumida. Há responsabilidades variadas, de todos, há aqueles que fizeram dos homens africanos mercadorias, como os europeus… Nomeadamente os portugueses... Essa é a questão mais grave", frisa.

Ainda existe escravatura

"Os portugueses foram os primeiros a fazer o transporte [para a Europa], mas os árabes já o faziam na África Oriental. Portanto, é preciso olharmos o problema com rigor histórico e procurar esclarecê-lo, libertando-nos da questão da culpa. A culpa não resolve coisa nenhuma. Temos é de reorganizar a nossa maneira de pensar, porque a escravatura ainda não acabou", alerta.

Manifestação contra a escravatura, em Londres, Reino Unido, em outubro de 2013Foto: Getty Images/P. Macdiarmid

Sónia Vaz Borges considera que Portugal deve assumir o seu passado histórico e critica o facto dos manuais escolares de História quase ignorarem o período da escravatura.

"Se nós olharmos para os manuais escolares de hoje em dia, a escravização são duas páginas, com algumas fotografias… Os livros de história, geografia e português são o meio principal para desconstruir este processo", diz.

A historiadora Isabel Castro Henriques, que faz parte do Comité Português do projeto "UNESCO – A Rota dos Escravos", continua a insistir na ideia de criação de um Museu da Escravatura em Portugal, um projeto pelo qual tem lutado nos últimos anos.

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