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A Etiópia elege um novo Parlamento no domingo

Ludger LSchadomsky / CV / JR22 de maio de 2015

A Etópia, segundo país mais populoso de África, vai às urnas no domingo (24.05) para as eleições gerais. Observadores dizem que a única incerteza do escrutínio é o tamanho da vitória da coligação no poder desde 1991.

Manifestação contra o Governo em Adis Abeba (junho de 2013)Foto: Stringer/AFP/Getty Images

Tudo indica que a coligação Frente Popular Democrática Revolucionária Etíope (EPRDF), presidida por Hailemariam, será a vencedoura deste pleito eleitoral. A coligação detem uma esmagadora maioria no Parlamento, com 545 dos 547 lugares e governa o país desde 1991.

A oposição teme que o resultado desta vez seja semelhante e declara-se maciçamente intimidada e prejudicada quanto ao financiamento e à divulgação da campanha eleitoral. Mas um novo partido de oposição promete dar outra cor à política etíope.

"Semayawi" (azul) é a nova força política na Etiópia

O partido "Semayawi" é a mais nova força política da Etiópia, inspirada pelas revoluções políticas da "Primavera Árabe". "Semayawi" em amárico significa "azul", ou seja a cor que simboliza a esperança na Etiópia.Os azuis conseguiram levar para as ruas milhares de pessoas que participaram em marchas pacíficas, apesar de as forças de segurança serem conhecidas pela sua abordagem muito dura.

O secretário geral do "Semayawi", Yilkal Getnet disse à DW as aspirações de seu partido. "A Etiópia é um país jovem. 70% das pessoas têm menos de 35 anos de idade. Esse grupo populacional deve estar representado na arena política nacional. Precisamos de um novo estilo de debate político - vibrante e orientado para a ação".

Assim, os azuis ganharam a simpatia dos jovens eleitores que não beneficiam da bonança no país.

36 milhões de eleitores às urnas
No domingo (24.05), 36.8 milhões de eleitores registados escolhem entre os candidatos de 58 partidos para um novo parlamento e 11 assembleias regionais, mas a coligação de quatro partidos que está no poder, a EPRDF, já está fixada como vencedora.

A distribuição dos assentos no atual parlamento mostra como o poder é distribuído no país: dos 547 lugares, apenas um é ocupado por um opositor. Mas Girma Seifu já anunciou que não irá concorrer novamente."Pouca coisa fiz nos cinco anos de meu mandato, porque o governo não está disposto a permitir o pluralismo partidário e a democracia. Em vez disso, investe muito tempo a esmagar ou fragmentar os partidos da oposição".

Primeiro Ministro etíope, Hailemariam Desaleng (esq.) num encontro em Washington com John Kerry, secretário de Estado dos USA (05.08.2014)Foto: Reuters
Manifestação em Adis Abeba organizada pelo "Semayawi" (Partido azul) em 2014Foto: DW

Os azuis do partido "Semayawi" descartaram a sua ameaça de boicote e vão competir no domingo, garante o Secretário geral Yilkal: "Não temos espaço político na Etiópia e somos governados por um Estado policial e um obsoleto modelo ditatorial. É ainda mais importante estarmos ativos, ao invés de boicotar os desejos dos eleitores.

Após anos de apatia política, a mensagem parece alcançar os eleitores: "Talvez vejamos, no fim, uma situação como recentemente aconteceu na Nigéria, onde no final o titular do cargo parabenizou o concorrente pela vitória. Seria algo fantástico", diz um jovem da segunda maior cidade da Etiópia, Dire Dawa, no Nordeste .

Observadores estrangeiros só da UA

A comunidade internacional encara estas eleições como um teste à democracia no país. Grupos de direitos humanos acusam a Etiópia de reprimir os partidos da oposição e os seus apoiantes. Ainda assim, o primeiro-ministro tem afirmado diversas vezes que quer tornar o sistema político etíope mais aberto e com mais espaço para oposição.Ana Gomes duvida. A eurodeputada socialista portuguesa chefiou a Missão de Observação Eleitoral da União Europeia às eleições gerais na Etiópia em 2005. Em entrevista ao programa em amárico da DW, Gomes apelidou estas novas eleições de "farsa". “As eleições vão ser uma farsa, tal como foram em 2010 e em 2005, porque as pessoas foram em massa votar mas a contagem foi alterada. Os relatórios que fizemos na altura nem sequer foram aceites pelo Governo porque continham críticas.”

Ana Gomes, eurodeputada socialistaFoto: CC-BY-Security & Defence Agenda

Este ano, os únicos observadores estrangeiros são da União Africana - ao todo, 59. A União Europeia e a organização americana sem fins lucrativos Carter Center, que monitorizaram as eleições de 2005 e 2010, não foram convidadas desta vez, alegadamente por razões económicas.

Porém, a eurodeputada Ana Gomes declara que os motivos são outros. “O Governo na Etiópia diz que não fomos convidados por falta de recursos financeiros, mas nós sabemos que isto não é verdade. Não é por motivos económicos que não vamos, mas sim por motivos políticos, porque decidimos que não vamos compactuar com eleições que não são mais do que uma farsa.”

A Etiópia é uma das economias africanas que tem registado maior crescimento, com mais de 10% anuais nos últimos 5 anos, segundo o Banco Mundial.O país atrai um enorme investimento estrangeiro. Ainda assim, várias organizações têm denunciado o desrespeito pelos direitos humanos e acusado a Etiópia de repressão para com os opositores, jornalistas e críticos do Governo.

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