Reconstituição da História moçambicana é uma necessidade pelo facto de haver alguns libertadores da pátria que estão esquecidos. Os seus feitos não constam da história do pais que assinala os 43 anos da independência.
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Moçambique assinala nesta segunda-feira, 25 de junho, os 43 anos da independência nacional. Para celebrar a data o Presidente da República, Filipe Nyusi, orientou a cerimónia oficial da deposição de uma coroa de flores na Praça dos Heróis, em homenagem aos heróis moçambicanos, estes que direta ou indiretamente lutaram para a independência do país, proclamada no dia 25 de junho de 1975.
Segundo o Chefe de Estado, todos os moçambicanos só tm valor se existirem como nação e se os moçambicanos estiverem livres na sua própria terra, sublinhou Filipe Nyusi.
Neutralização dos grupos armados
O Presidente moçambicano, destacou por outro lado que o Governo será incansável na neutralização dos grupos armados que têm protagonizado ataques no norte do país, assinalando a atuação implacável das Forças de Defesa e Segurança na zona.
"Não descansaremos enquanto os seus perpetradores não forem neutralizados e responsabilizados, para isso as nossas Forças de Defesa e Segurança estão no terreno, firmes e implacáveis", afirmou Filipe Nyusi, numa declaração à nação na Praça dos Heróis em Maputo, por ocasião do Dia da Independência Nacional.
Também em Quelimane, antigos combatentes da Luta de Libertação da Pátria, reuniram-se na tarde desta segunda-feira (25.06) com académicos e estudantes para refletirem sobre a passagem dessa efeméride.
A História de Moçambique devia ser reconstituída
Alargar o leque de conhecimento
Os participantes no debate disseram que a reconstituição da História moçambicana é uma necessidade pelo facto de haver alguns libertadores da pátria que estão esquecidos porque os seus feitos não constam da história do pais.
Um deles, o filósofo David Mudzenguerere, disse em entrevista a DW África que a história de Moçambique tem que ser reconstituída visando alargar o leque de conhecimento das gerações vindouras sobre este tema tão importante.
"43 anos que percorremos não é pouco tempo... para a história que temos talvez faltem ainda alguns pormenores que deverão ser acrescentados. Já temos várias obras que os antigos combatentes escreveram, podemos não encontrar grandes diferenças entre os diversos textos escritos sobre a nossa história. Mas ainda deverá estar a faltar algo mais ".Para o filófoso assinalar mais um aniversário da independência de Moçambique é um momento que nos "convida a rever esse nosso passado histórico e se algum momento não se enquadram certos aspetos e factos relevantes que deveriam constar da nossa história. Todos nós como moçambicanos, lutadores e libertadores é tempo de repensarmos a nossa historia e reconstitui-la. Este deve ser um desafio do nosso tempo tanto da juventude como dos mais velhos para acomodarmos todos os esforços daqueles que estiveram na frente da independência que celebramos. O momento convida-nos a repensar e ver se não há mais factos para fazermos uma história mais inclusiva na construção dessa terra".
Mudzenguerere explicou entretanto que há muita informação sobre a história de Moçambique que está dispersa, e que a sua reconstituição não pode ser vista como uma ameaça.
"Estamos num contexto de interação, intergeracional e não custa nada que os textos já produzidos de forma independente, memórias, autobiografias e outros possam ser detalhados para que sejam mais elucidativos e mais consistente. Não vejo nenhum conflito intergeracional sentarmos e juntarmos as ideias para vermos o que podemos fazer", concluiu.
Ataques no norte de MoçambiqueMas o politico, File Salato, chefe da bancada do Movimento Democrático de Moçambique (MDM), na Assembleia Municipal de Quelimane, considera que a História de Moçambique não é o que se diz.
"A história de Moçambique é uma falácia. Moçambique não é um todo é apenas uma parte politizada na região sul do pais".
O politico criticou por outro lado, a independência de Moçambique que "este ano está a ser comemorada com os ataques e assassinatos" nomeadamente em Mocímboa da Praia na província nortenha de Cabo Delgado.
"Digo que o pais não está independente porque há bem pouco tempo aconteceram ataques e assassinatos em Mocímboa da Praia, algo que não é admissível num pais independente há 43 anos. O Governo atual está de braços cruzados como se nada estivesse a acontecer e as pessoas que estão a morrer são nossos familiares. O Governo deve tomar urgentemente uma posição".
Identificar os verdadeiros heróisO ex-combatente da Luta de Libertação de Moçambique que também participou no debate Toair Manana Saide, disse por seu lado que "os jovens devem saber como posicionar-se face à história moçambicana. É um processo no qual todos devemos participar e temos que identificar alguns heróis e o que fizeram para este país. Se na verdade são heróis isso não é nenhum problema mas sim um desafio e exemplo para a juventude que quer ver este pais na senda do progresso e do desenvolvimento".
Figuras socialistas e marxistas imortalizadas nas avenidas de Maputo
Várias avenidas de Maputo têm nomes de personalidades estrangeiras de ideologia socialista e marxista. Muitas apoiaram a luta da independência moçambicana. Os seus nomes são homenageados em vários locais da capital.
Foto: DW/R. da Silva
Avenida Julius Nyerere – o amigo da Tanzânia
Liga o sul, na zona de cimento, aos bairros periféricos do norte. Julius Nyerere foi presidente da Tanzânia entre 1961 a 1985. Em 1967, defendeu o socialismo, inspirado pela antiga União Soviética. Foi amigo de Moçambique e chegou a ceder o seu território à FRELIMO, durante a luta pela independência, o que lhe valeu a atribuição desta avenida.
Foto: DW/R. da Silva
Avenida Vladimir Lenine- inspiração marxista-leninista
Vai da baixa da capital até à Praça dos Combatentes, numa extensão de quase quatro quilómetros. Vladimir Lenine, Presidente da URSS, é um dos rostos da criação e disseminação do comunismo pelo mundo. Depois da independência, Moçambique adotou um socialismo de inspiração Marxista-Leninista e muitos moçambicanos viajaram para a URSS para formações de ideologia marxista-leninista.
Foto: DW/R. Da Silva
Avenida Ho Chi Minh - "o que dá luz"
Começa na atual sede da Comissão Nacional de Eleições, na parte centro-este, e termina na escola Secundária Francisco Manyanga, na parte ocidental. Ho Chi Minh, que significa para os vietnamitas “o que dá a luz”, foi o nome que Nguyen Ai Quoc adotou. Também amigo de Moçambique, valeu-lhe atribuição desta avenida por ter inspirado a FRELIMO a adotar os ideais comunistas.
Foto: DW/R. da Silva
Avenida Kim Il Sung - apoio norte-coreano
Começa no Hospital Central de Maputo e termina perto da Embaixada da Alemanha, numa extensão de cerca de 1500 metros. Kim Il Sung é avô do atual presidente Kin Jung-un. O nome da avenida recorda o apoio da Coreia do Norte na luta pela independência moçambicana. Samora Machel visitou várias vezes a Coreia do Norte de Sung e ainda hoje Moçambique mantém boas relações políticas com o país.
Foto: DW/R. da Silva
Avenida Olof Palme - da Suécia para Moçambique
Localiza-se no bairro central, no centro da cidade de Maputo. Olof Palme é considerado uma das figuras maiores da social-democracia sueca. Justiça social, igualdade e paz eram seus ideais mais acalentados. Levou a Suécia para a arena internacional moderna, dedicando-se a temas como o socialismo, a paz e a solidariedade. É dos poucos governantes europeus que constam da lista das avenidas de Maputo.
Foto: DW/R. da Silva
Avenida Nkwame Nkrumah – primeiro presidente da África Negra
Localiza-se no centro da capital, na zona nobre de Maputo. Nkrumah foi Presidente do primeiro Estado independente da África Negra, o Gana. Em 1952, ainda no período da colonização, no seu primeiro discurso como primeiro-ministro, Nkrumah proclamou-se socialista, marxista e cristão. Não tardou a ter uma avenida em Maputo, pois a FRELIMO também era um partido de orientação socialista.
Foto: DW/R. da Silva, Getty Images/Express/T. Fincher
Avenida Salvador Allende - defensor do marxismo
Esta avenida tem localização central na zona nobre da capital e conta com um único sentido. Salvador Allende foi Presidente do Chile e o primeiro Presidente com ideais comunistas, eleito em eleições livres, a assumir o cargo num país latino-americano. Allende era marxista e atuou politicamente defendendo os valores característicos dessa ideologia.
Foto: DW/R. da Silva
Avenida Mao Tse Tung – símbolo de uma longa amizade
Mao Tse Tung defendia uma visão revolucionária do comunismo, em que todos os aspetos da sociedade, cultura, economia e política deveriam estar a serviço de causas ideológicas. Depois da independência, Moçambique inspirou-se nos ideais do Partido Comunista Chinês. Os dois países são amigos de longa data, tendo os chineses ajudado a FRELIMO na luta contra o colonialismo.
Foto: Dw/R. da Silva
Avenida Karl Marx – motor da mudança ideológica
É uma das avenidas mais frequentadas na capital. De nacionalidade alemã, Karl Marx foi um influente pensador na questão da luta de classes. Em 1977, o partido FRELIMO deixou de ser uma frente armada para ser um partido de ideologia marxista-leninista, com monopólio exclusivo do poder político e instaurando o partido único. Para imortalizar a influência de Marx, foi-lhe atribuída esta avenida.
Foto: picture alliance/Glasshouse Images, DW/R. da Silva
Avenida Friederich Engels – inspiração contra injustiças sociais
Nesta avenida, pode contemplar-se uma bela paisagem marítima. Engels, amigo próximo de Marx, desenvolveu a sua teoria sobre as classes trabalhadoras, ao observar a miséria e as condições dos operários que viviam dentro do regime capitalista. Em algumas das suas obras, denunciou as injustiças sociais. Inspirou Samora Machel e a FRELIMO a adotarem uma política em defesa das classes sociais.
Foto: DW/R. da Silva
Avenida Patrice Lumumba – o herói congolês
Patrice Lumumba lutou contra o imperialismo europeu. O seu partido, o Movimento Nacional Congolês (MNC), identificava-se como comunista. Após a independência do seu país, em 1960, Lumumba foi eleito primeiro-ministro. Um ano depois, foi preso, e, em janeiro de 1961, foi barbaramente assassinado. Como homenagem, a FRELIMO atribui o seu nome a uma avenida e a um bairro na Matola.