O hip-hop feito em Portugal sobe ao palco em Lisboa pela mão de artistas como Boss AC, Chullage, General D, NBC e Sir Scratch. Ouvidos pela DW, reconhecem a riqueza da fusão do hip-hop português com a cultura africana.
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"A história do hip-hop tuga" conta-se em forma de um grande concerto, com mais de uma dezena de artistas, na noite desta sexta-feira, 8 de março, em Lisboa. O concerto no recinto do Altice Arena, no Parque das Nações, visa reconstituir a história do hip hop em Portugal, influenciado por estilos como o rap, dos Estados Unidos da América, e pelas raízes africanas, tal como reconhecem os músicos entrevistados pela DW África.
Um deles é Sir Scratch, uma das referências do hip-hop cantado em língua portuguesa, que encontramos no estúdio Big Bit, nas Laranjeiras, em Lisboa. "Vou estar esta sexta-feira a representar Amadora – Esquadrão Central. A história do hip-hop tuga vai ser contada e eu vou contar a minha parte", promete.
Benigno António Neto é o seu nome de registo. O músico português nascido em Luanda faz parte da nata do hip-hop em Portugal. O gosto pelo género é de família: "Na altura em que veio o boom do hip-hop em Portugal, princípios dos anos 1990/94, quando veio o 'Rapública' [a primeira compilação do rap português], ouvia-se muito nas rádios Gabriel o Pensador, Boss AC, Black Company. Os meus irmãos mais velhos ouviam e foi aí que [surgiu] o gosto de começar a ouvir", recorda.
Para Sir Scratch, foi "uma sorte" ter começado tão cedo: "Por volta dos 10 anos comecei a fazer as minhas primeiras músicas e tinha logo esse bichinho".
Apesar de ter começado no seio da comunidade afro-americana nos Estados Unidos, o hip-hop acabou também por receber contributos das raízes culturais africanas, adianta o rapper luso-angolano.
"Cá em Portugal não foge disso. Também começou nos bairros, com as comunidades e nos guetos. Até a própria cultura do hip-hop, mesmo o graffiti, mesmo o breakdance, nas ruas eram vistos como algo um bocado marginal".
Hoje, o cenário é outro, afirma: "Graças a Deus, a mentalidade mudou, há mais qualidade".
"Tomámos as rédeas da música em Portugal"
São muitos os nomes que contam "A história do hip-hop tuga", mas destacam-se entre os percursores o moçambicano General D e o cabo-verdiano Boss AC.
Com eles, no Altice Arena, vai estar também NBC (Natural Black Color), nome artístico de Timóteo Tiny, de origem são-tomense: "Faço parte desse grupo de pessoas que quis trazer para Portugal um género musical que na América também estava a dar os seus primeiros passos, no início dos anos 1980".
"A história do hip hop tuga" e as raízes africanas
Numa entrevista recente à DW África, NBC lembrou que a história do hip-hop começa na margem sul do Tejo, inspirada nas lutas pelo direito à igualdade laboral dos imigrantes das ex-colónias portuguesas em África que trabalhavam nos estaleiros da Lisnave, em Cacilhas. E foi esta a motivação que estimulou os seus filhos a trazerem à ribalta este estilo musical.
"O que acontece hoje é que, como nós tomamos as rédeas, digamos assim, da música em Portugal, e fazemos parte dos cabeças de cartaz dos festivais principais, então os nomes mais antigos que ainda estão no ativo, como é o meu caso, são sempre relembrados pelo artistas novos que estão a ser mais falados", considera.
Vado Más Ki Ás integra esta geração mais nova que dá voz ao hip-hop. Osvaldo Landim começou a cantar aos 12 anos, impulsionado pela morte de um irmão. Nos últimos três anos, segue a carreira com mais profissionalismo, inspirado por vários nomes: "Desde pequeno, sempre gostei de hip-hop. E há muitas referências no hip-hop português e mesmo no rap crioulo como Nigga Poison, TWA, Baby Dog; tivemos o NGA aqui na linha de Sintra, tivemos o Boss AC, Sam The Kid, Valete e Halloween".
O jovem luso-caboverdiano nascido no Bairro "6 de maio” também figura no cartaz deste concerto. Vai ser uma noite de surpresas, diz o representante do rap crioulo, sublinhando que o hip-hop português sai mais enriquecido pela fusão com as raízes da cultura africana: "Sempre fizemos isso, ir às nossas raízes, ir sempre buscar algo à terra e trazer para aqui, que o people (as pessoas) também gosta dessa nossa maneira, dessa nossa arte, e também da nossa musicalidade".
Integrar o cartaz que conta a história do hip-hop português "é uma grande honra” e "um privilégio enorme", afirma, reconhecendo que o hip-hop conquistou um lugar próprio e vai continuar a ter o seu espaço em Portugal. Prova disso, fez questão de sublinhar à DW África, é que está a ultimar o seu novo álbum.
Sir Schatch, que também prepara um novo disco, diz que este é um momento de celebração "para relembrar os velhos tempos, o atual e também dar a conhecer o futuro do hip-hop nacional".
África no Rock in Rio Lisboa 2018
Lisboa volta a acolher mais uma edição do Rock in Rio, com uma das maiores enchentes de sempre. Este ano, o evento presta homenagem a África. Bonga, Ferro Gaita e Paulo Flores estão entre os artistas convidados.
Foto: DW/J. Carlos
Dois fins de semana em grande
Nos dias 23 e 24, 29 e 30 de junho, todos os caminhos vão dar ao Parque da Bela Vista. Lisboa volta a acolher mais uma edição do Rock in Rio, registando uma das maiores enchentes de sempre. Este ano, o evento presta homenagem a África. Vários músicos de renome atuam nos quatro palcos do certame.
Foto: DW/J. Carlos
300 mil festivaleiros
O festival, que mantém o lema "Por Um Mundo Melhor", atrai um público diversificado. A estimativa, de acordo com a organização, é receber cerca de 300 mil pessoas de 80 países diferentes. No primeiro fim de semana, em que atuaram Bruno Mars, Muse, Anitta, Bonga, Tabanka Djaz e Ferro Gaita, entre outros, o evento acolheu mais de 150 mil visitantes e 14 horas de música e entretenimento.
Foto: DW/J. Carlos
Bonga encanta sempre
Versátil em palco, Bonga e as suas melodias quentes, com alguma sátira a pender para a crítica social, foi o fenómeno da tarde quente de Lisboa. O cantor angolano e os demais congéneres provaram que a música africana pode chegar a outros patamares do festival que, este ano, apostou no mote "África no Mundo e o Mundo em África". A ideia encantou o público.
Foto: DW/J. Carlos
O extasiante Ferro Gaita
O grupo cabo-verdiano do funaná subiu ao palco no domingo (24.06) com a promessa de uma intensa tarde de dança. As músicas do Ferro Gaita inspiram-se nos ritmos tradicionais e folclóricos de Cabo Verde, como reafirma Bino Branco, cantor e fundador do grupo já com 22 anos de existência. "Para nós, é uma satisfação enorme estar no Rock in Rio 2018", disse à DW África.
Foto: DW/J. Carlos
Karlon, os amigos e a tradição
A anteceder Ferro Gaita, atuou Karlon, músico e compositor cabo-verdiano. Trouxe consigo MC Michel (à direita na foto), DJ X-Acto, Bdjoy (congas) Maria Tavares (voz e dança), Daniela Sanhá (dança) e Fénix Pop (dança). Aqui acontece o encontro entre os artistas que representam a modernidade e a tradição.
Foto: DW/J. Carlos
A coreografia da diversidade
No espaço dedicado a África - a EDP Rock Street - salta à vista a arquitetura de 19 casas com várias tonalidades e motivos africanos. Os visitantes são também atraídos por uma animada parada coreografada que saí à rua cinco vezes por dia. Além da música, as performances de animação da praça representam a diversidade cultural do mais velho continente do mundo e a exuberância da sua natureza.
Foto: DW/J. Carlos
O domador de cobras
Pelo recinto, exibem-se alguns protótipos de animais opulentes que dão vida à fauna africana. E é com sabedoria e mestria que este jovem domador de cobras representa o norte de África, a par com as danças afro-orientais. Não falta quem queira posar para uma foto ou uma selfie. E os visitantes não poupam elogios ao espaço reservado ao continente africano.
Foto: DW/J. Carlos
De Angola para as ruas
Há já cinco anos a dar alegria ao público nas ruas da baixa de Lisboa, Gaspar Silva explora os instrumentos ao seu alcance para fazer música. Aqui, o fenómeno é idêntico. O angolano diz que a oportunidade de estar no Rock in Rio "é a cereja em cima do bolo". Assim, vai divulgando a cultura de Angola e os ritmos que as pessoas gostam de ouvir e dançar.
Foto: DW/J. Carlos
Sara Tavares na "Língua Franca"
No Music Valley, um dos espaços mais cool do Rock in Rio – no extremo oposto ao Palco Mundo –, a cantora luso-cabo-verdiana Sara Tavares juntou-se no domingo (24.06) ao projeto "Língua Franca", dos rappers brasileiros Emicida e Rael (à esquerda na foto) e da portuguesa Capicua. Foi a celebração da língua comum, espalhada pelos quatro cantos do mundo.
Foto: DW/J. Carlos
A onda delirante da kizomba
Elenna e Paulo prendem o público com uma kizomba ao ritmo do semba angolano. Antes, já tinha subido ao palco Krayze Show, um coletivo que explora as danças urbanas luso-angolanas. Enquanto não começa o concerto no Palco Mundo, igual experiência se encontra noutro espaço mais adiante, onde o delírio parece crescer à medida que o DJ vai misturando ritmos brasileiros e africanos.
Foto: DW/J. Carlos
Fim-de-semana promete nova enchente
Nos dias 29 e 30, o cartaz é dominado por Katy Perry, Jessie J, Ivete Sangalo e Hailee Steinfeld. Marcam também presença os angolanos Paulo Flores e Nastio Mosquito, Batuk e Selma Uamusse. A organização quer internacionalizar o Rock in Rio, mas, segundo Roberta Medina, vice-presidente executiva, para já "é muito complexo em termos de investimentos e infraestruturas" levar o evento a África.