A independência de Angola e a dependência do petróleo
Christian Seeewald
11 de novembro de 2016
Angola celebra 41 anos de independência a braços com uma crise económica e financeira. Especialistas insistem que a solução passa pela diversificação.
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Angola ainda não atingiu o grau de desenvolvimento desejado, mas está num processo de transformação promissor - a economista angolana Judite Correia está otimista no dia em que Angola festeja 41 anos de independência. "Estamos num processo de substituição de importações para podermos fazer internamente tudo aquilo que precisamos ainda de importar e para mais tarde passarmos a poder exportar", afirma.
Judite Correia prevê que a economia de Angola vai continuar a crescer de forma robusta e não corre o perigo de estagnar até 2020. Uma das soluções para inverter o quadro atual da economia é substituir o petróleo como fonte de receita: "Por exemplo, os diamantes, a agricultura, todo o setor agro-pecuário e agro-industrial são alternativas. Em África não há apenas petróleo, há "muito mais coisas", sublinha a economista.
Crescimento insuficiente
Especialistas consideram que um crescimento de 2% até 2020 é insuficiente para fazer face a todos os problemas económicos que o país enfrenta, especialmente desde a queda a pique do preço do petróleo nos mercados internacionais.
O crescimento da economia é demasiado brando, de acordo com Gildo Matias. O politólogo realça que, durante muito tempo, a economia angolana cresceu, em média, 15% ao ano, e o país habituou-se a isso.
Olhando para a estrutura económica angolana entre 2012 e 2015, muito pouco mudou, diz Matias: "Continuamos a ter um enorme peso da capacidade contributiva do setor petróleo e gás, em cerca de 30%, ao passo que outros setores como a construção, agricultura, pecuária, floresta e indústria continuam muito abaixo de 10%", refere.
11.11.16 neu Angola/Independência - MP3-Mono
O especialista reconhece que o Governo tem seguido uma estratégia de diversificação das estruturas económicas nacionais. Porém, ainda depende fortemente das receitas do petróleo: "Porque é com base nessas receitas que o Estado consegue aumentar o valor das reservas líquidas externas e, com isso, pode ter maiores recursos cambiais para a importação de produtos relevantes", diz.
Segundo o politólogo, uma das saídas da crise passa pelo fomento de pequenas e médias empresas. "A pequena e média indústria parecem ser setores estratégicos que, num curto espaço de tempo, podem alterar a nossa dependência de importações", que incluem muitos bens de primeira necessidade.
Ilha do Mussulo: Luanda com um toque de exclusividade
É uma das capitais mais caras do mundo. A maioria da população vive em condições miseráveis, mas Luanda oferece opções de lazer e turismo para os mais favorecidos economicamente. A Ilha do Mussulo é um dos destinos.
Foto: DW/C. Vieira
Lazer ao alcance de poucos
Famosa por ser uma das capitais mais caras do mundo, em que a maioria da população vive em condições miseráveis, Luanda oferece opções de lazer e turismo voltadas para o seleto grupo de pessoas mais favorecidas economicamente. A Ilha do Mussulo é um destes destinos, mas é preciso estar com a conta corrente recheada para desfrutar do conforto.
Foto: DW/C. Vieira
Partida de Kapossoka
No terminal marítimo Kapossoka, em Luanda, barqueiros informais oferecem o serviço de travessia até à Ilha do Mussulo. Daqui saem também os catamarãs (ao fundo) que fazem o transporte de passageiros até ao principal porto de Luanda e vice-versa. A viagem de catamarã na classe económica custa cerca de 2,5 dólares e dura cerca de 40 minutos. Já o preço dos barqueiros informais é negociável.
Foto: DW/C. Vieira
Valores negociáveis
O preço do transporte particular informal depende do volume de passageiros, do local de desembarque e da habilidade de negociação de cada um. Em média, o trecho até ao Mussulo custa 10 dólares, mas a ida e volta pode sair por 15 dólares, se combinado antes com o barqueiro. A viagem oferece uma perspetiva diferente da cidade de Luanda. Aqui, o terminal Kapossoka e apartamentos ao fundo.
Foto: DW/C. Vieira
Luxo e conforto
A Ilha do Mussulo é conhecida pelas suas acomodações luxuosas, como essas casas à beira-mar vistas na chegada de barco. Alguns funcionários do Governo angolano e celebridades têm casas aqui. A ilha oferece belas paisagens e infraestruturas turísticas - bares, restaurantes e resorts. Mas o luxo e conforto saem caro.
Foto: DW/C. Vieira
Sossego e tranquilidade
As praias da Ilha do Mussulo também são famosas pela tranquilidade e sossego, ao contrário do ritmo alucinante da capital angolana. Alguns optam por locais desertos, mas a maioria dos visitantes - em especial nos finais de semana - prefere aproveitar o dia no conforto dos estabelecimentos comerciais. Na foto, vista parcial do Bar Ssulo à beira-mar.
Foto: DW/C. Vieira
Preços nas alturas
Visitantes aproveitam o dia no Bar Ssulo, que pertence ao resort com o mesmo nome. Um dia de lazer aqui pode sair caro. O aluguel de cada espreguiçadeira custa 15 dólares. A cerveja é vendida a partir de 6 dólares, cada. Além de confortáveis hospedagens, o hotel oferece piscina, spa e ginásio. A diária no apartamento duplo custa 198 dólares, na estação baixa, e 396, na alta.
Foto: DW/C. Vieira
Público seleto
A maioria dos angolanos não tem condições financeiras de frequentar ambientes como este. Por aqui, o que se vê são angolanos das classes mais favorecidas e, sobretudo, estrangeiros que se deslocaram a Angola temporaria ou permanentemente em serviço.
Foto: DW/C. Vieira
Festas na praia
A tranquilidade e sossego não são os únicos atrativos da Ilha do Mussulo. Aqui também são realizadas muitas festas, frequentadas por centenas de pessoas - sobretudo estrangeiros. Alguns chegam com seus jet skis, barcos e lanchas particulares. Neste caso, o ingresso de entrada custou 40 dólares por pessoa, incluíndo uma bebida de boas-vindas. Outras bebidas são vendidas à parte.
Foto: DW/C. Vieira
Fora da realidade
Somando os custos básicos de transporte até à ilha, espreguiçadeira para permanecer no bar e entrada da festa, a brincadeira fica em, no mínimo, 70 dólares – sem contar o consumo de bebidas e alimentos. Um valor que corresponde a quase metade do salário mínimo do país e que a maioria da população não pode sequer sonhar em gastar em um único dia de diversão.