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Literatura

Publicar literatura dos PALOP na Alemanha é tarefa árdua

4 de novembro de 2016

Na Alemanha a literatura dos PALOP é considerada exótica e pouco conhecida. E quando se conhece é sempre num contexto eurocentrista. Conhecem-se mais os escritores renomados e não exatamente a literartura desses países.

Mosambikanische Autor Mia Couto
Mia Couto, escritor moçambicano Foto: DW/J. Carlos

Essas e outras constatações foram feitas por Michel Kegler, tradutor de literatura em língua portuguesa para o alemão. Conhecedor da literatura dos PALOP, Países Africanos de Língua Oficial Portuguesa, explicou à DW África como funciona o mercado editorial na Alemanha. Na Feira do Livro de Frankfurt, que decorreu de 17 a 23 de outubro, conversamos com ele: 

DW África: Qual é a aceitação do público alemão em relação à escrita dos PALOP?

Michel Kegler (MK): A escrita dos PALOP tem um papel exótico dentro da escrita africana que já é exótica dentro do círculo literário aqui na Alemanha. Quando se pensa em África aqui na Alemanha é obviamente nos países de língua oficial inglesa ou francesa, mas o português é geralmente esquecido como língua africana, então a surpresa é sempre grande, às vezes as pessoas não sabem extamente de onde vem um determinado escritor de língua portuguesa. Eles gostam de etiquetar assim: Angola/Portugal, Angola/Brasil, Brasil/Portugal/Angola. A surpresa é bastante grande quando se fala desses países de língua portuguesa, as pessoas nem sequer sabem disso, é o eurocentrismo completo. Então, trabalhamos com muito poucos nomes porque o cenário literário não é tão desenvolvido como se calhar em Portugal ou no Brasil, mas aqueles nomes que são trabalhados têm uma boa aceitação.

Michel Kegler, tradutor de literatura em português para o alemão Foto: DW/N.Issufo

DW África: Dos PALOP qual é o país com mais visibilidade na Alemanha?

MK: Os números são tão pequenos que é difícil falar em visibilidade, mas são figuras. Acho que o Mia Couto é o mais visível e conhecido escritor dos PALOP. Falando em núemros acho que Angola está a ganhar um pouco com três escritores traduzidos e mais alguns em antologias, acho que neste momento Angola está mais representada. Mas a visibilidade é outra, estamos todos debaixo do radar.

DW África: Como é lidar e convencer as editoras a publicarem autores praticamente desconhecidos pelos leitores alemães?

MK: Acho que isso não só diz respeito as literaturas dos PALOP, mas também a quase toda a literatura em língua portuguesa. Cada livro é uma conquista. Os momentos em que um livro é leiloado pelas agências e muito cobiçado pelas editoras são raríssimos. A grande maioria são livros que alguém se empenha para os colocar numa determinada editora. Não há regras, às vezes é [preciso] convencer uma editora, às vezes uma editora ecolhe alguém e perde o tradutor, isso varia muito de nome para nome.

DW África: E sobre a presença dos PALOP na Feira do Livro de Frankfurt, como a carateriza?

MK: É uma presença sempre dentro do espaço das editoras convidadas. Acho que até agora não houve nenhuma editora de um país africano de língua portuguesa que tenha alugado um stand próprio aqui. Existem alguns que repetiram a presença aqui no programa de convidados porque a feira com o apoio do Governo alemão cede um espaço a umas vinte editoras interessantes de países fora da Europa para participarem dessa feira, mas até agora não me lembro de alguma editora que tenha participado por força própria. E acho que se Angola, Moçambique ou qualquer outro país de língua portuguesa abrisse um stand coletivo e convidasse as editoras do país acho que seria um esforço que valia a pena.

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