A Nigéria é um dos países mais populosos e mais poderosos de África, mas é também confrontado com graves conflitos étnicos e religiosos. Algumas iniciativas promovem a paz em Kaduna.
Publicidade
Entre as maiores étnias da Nigéria estão os Yoruba, os Haúça e os Igbo, que vivem na província de Biafra, no sudeste deste enorme país.
E é no Biafra que surgiu um novo movimento separatista denominado IPOB, sigla para "Povos Indígenas do Biafra", um movimento que pretende dar voz aos Igbos, maioritáriamente cristãos, que se sentem vítimas de discriminação, tanto no proprio Biafra, como tambem - e sobretudo - em regiões onde constituem minoria, como a região de Kaduna, de maioria muçulmana, no norte do país.
Já em 1967, a região de Biafra declarara unilateralmente a independência, o que provocara uma sangrenta guerra civil que, até 1970, causou cerca de 2,5 milhões de mortos e terminou com a reintegração - à força - no Estado nigeriano.
27.09. Nigeria Igbos Kaduna - MP3-Mono
Mas o conflito nunca foi resolvido completamente e, nos últimos anos, sobretudo nos últimos meses, parecem ter-se intensificado as reivindicações pela autonomia do Biafra.
A tensão aumenta também no norte do país, nomeadamente no estado de Kaduna entre os Igbos, maioritariamente cristãos, e a maioria muçulmana.
Em junho, o conflito em Kaduna agudizou-se com ameaças de grupos islâmicos, lançadas contra as minorias cristãs que foram mesmo intimadas a abandonar a região até o dia 1 de outubro, que assinala o aniversário da independência da Nigéria.
"Juntos venceremos"
Mas nem todos os muçulmanos apoiam as hostilidades contra os Igbos cristãos. "Queremos a unidade. Não é importante se és cristão ou muçulmano ou mesmo animista. Somos todos nigerianos, independentemente de pertencermos às etnias igbo, haúça ou yoruba. Juntos venceremos, divididos falharemos", afirma Maryam Abubakar, diretora da organização humanitaria Womenhood Foundation of Nigeria, WFN, sediada em Kaduna.
Maryam Abubakar visita escolas para falar sobre o discurso de ódio, pois não quer que se espalhe em Kaduna um clima de medo e agitação.
Perante a incerteza que se vive em Kaduna, Muhammad Ibrahim Gashash, diretor da organização Cristão/Muçulmano Alternativa ao Conflito decidiu "preparar uma casa para os membros da comunidade Igbo". "Quem se sentir inseguro pode vir para aqui para se proteger", acrescentou Muhammad Ibrahim Gashash, que reconhece que, nos últimos tempos, "muitas pessoas têm falado de medo".
Mas até agora não foi preciso. Segundo Gashash, a forte presença da sociedade civil e do governo regional de Kaduna tem garantido a segurança.
Viver sob ameaça
Contudo, o clima de medo entre os Igbos, na região de Kaduna, parece não dissipar. As pessoas questionam: até quando conseguirão as diferentes etnias e religiões viver em conjunto?
O jornalista Dominic Eze Uzu, cristão e igbo, vive há mais de 40 anos no estado de Kaduna e ultimamente vê-se confrontado com ameaças dos radicais muçulmanos que querem que ele e a sua familia abandonem a região. Mas isso, para Dominic, não é opção.
"Todos os meus filhos vivem aqui. Quero que eles encontrem um trabalho quando estiveram na idade, mas tenho medo que sejam discriminados. Há muitas injustiças e muita desigualdade. Porque é que não somos tratados como autóctones, como cidadãos de Kaduna como todos os outros?", questiona o jornalista.
De fato, a familia de Dominic Eze Uzu não goza dos mesmos direitos que a população maioritária. Quem quer fazer carreira na administração pública tem que apresentar uma denominada "declaração de indigenidade". Certos postos continuam reservados a pessoas pertencentes às etnias autóctones.
Dominic critica essa prática. "Estamos ou não preparados para ser uma Nigeria unida?", questiona o jornalista nigeriano. "Se queremos uma única Nigéria teremos que tratar as pessoas em conformidade", conclui Dominic Eze Uzu.
Nigéria: Auto-estrada no meio da floresta?
A floresta Ekuri, no sul da Nigéria, uma das últimas florestas tropicais intactas do país, está em perigo. O governo local quer construir uma estrada de seis faixas a atravessar a vegetação. A população está indignada.
Foto: DW/A. Kriesch
Protesto no paraíso
Até agora, nenhum meio de comunicação internacional veio até esta pequena aldeia, na floresta Ekuri. "É a primeira vez que alguém nos ouve", diz um dos habitantes que espontaneamente organizaram um protesto. O governo do estado de Cross River, no sul da Nigéria, quer construir uma auto-estrada gigante, no coração da floresta. Estes manifestantes temem perder a casa e os meios de subsistência.
Foto: DW/J. P. Scholz
Sem luz e sem estradas
Aqui, muitas pessoas sentem que foram deixadas ao abandono: Foram elas que tiveram de construir as pontes que dão acesso à aldeia. Não há água canalizada, nem eletricidade. Antes das últimas eleições, houve um político que os visitou - de helicóptero. Os habitantes dizem que ele ofereceu dinheiro e fez várias promessas. Mas, depois das eleições, nunca mais apareceu.
Foto: DW/J. P. Scholz
Terras confiscadas
Os habitantes receberam a notícia no início do ano. Ao ler o jornal, descobriram que não só o governo regional planeava construir uma auto-estrada no estado de Cross River, como também expropriar todas as terras num perímetro de 10 quilómetros em redor da nova rodovia.
Foto: DW/J. P. Scholz
A primeira super-estrada da Nigéria
A estrada deverá ligar um novo porto em Calabar, a capital do estado de Cross River, ao norte da Nigéria - o plano é construir uma das estradas mais modernas de África, com 260 quilómetros, seis faixas e internet de alta velocidade para todos os condutores. O projeto custará 800 mil milhões de nairas, quase quatro mil milhões de euros. Não se sabe ainda ao certo como será financiada.
Destruindo o verde da floresta
Algumas árvores começaram a ser cortadas mesmo sem se saber como o projeto iria ser pago. O governo local nem esperou pelo estudo de impacto ambiental, exigido por lei. Entretanto, o estudo já deu entrada, mas não cumpre as normas internacionais, informa o Ministério nigeriano do Ambiente.
Foto: DW/A. Kriesch
Bulldozers à espera
O Ministério ordenou que se parasse de imediato o abate de árvores antes de receber o estudo de impacto ambiental e depois dos protestos de ambientalistas e habitantes. Os bulldozers estão parados na floresta, à espera de "luz verde".
Foto: DW/A. Kriesch
Natureza ímpar
Na floresta Ekuri habitam animais ameaçados de extinção, como o mandril ou o gorila de Cross River. Há aqui mais de 1.500 espécies de plantas. Esta é uma das florestas tropicais mais diversas do planeta.
Foto: DW/A. Kriesch
"Estão a esconder alguma coisa"
Odigha Odigha é ex-presidente da Comissão Florestal de Cross River e está agora a tentar travar a construção da auto-estrada, com a organização "Coligação pelo Meio Ambiente" - "Ao todo, são 520.000 hectares de terras que serão nacionalizadas, 25% da área deste estado", diz Odigha. "Ainda ninguém nos disse por que estão interessados numa área tão grande - estão a esconder alguma coisa."
Foto: DW/A. Kriesch
Comércio de madeira em vez de desenvolvimento?
Alguns ativistas e habitantes suspeitam que, além da construção da estrada, há também interesse em comercializar a valiosa madeira da floresta. Por isso é que não se expande a estrada principal que já existe, dizem. A nova estrada gigante serviria, assim, como pretexto para poder cortar a madeira e vendê-la ao exterior, a preços inflacionados.
Foto: DW/A. Kriesch
Governo local desmente
A ministra da Informação de Cross River nega. "Vamos plantar duas árvores por cada árvore cortada", diz Rosemary Archibong. Mas continua a não ser claro por que é necessário nacionalizar 10 quilómetros de cada lado da rodovia. "As pessoas deverão beneficiar do desenvolvimento ao longo da estrada, por exemplo através da agricultura", responde Archibong. "Mas esse tema ainda vai ser debatido."
Foto: DW/A. Kriesch
Habitantes continuam protesto
Os habitantes da floresta Ekuri queixam-se que ninguém falou com eles. Margret Ikimu está desiludida com a política: "Primeiro, deviam melhorar esta estrada decrépita que passa por aqui", diz. "O governo regional já está há um ano no poder e ainda não vimos mudanças. E agora querem levar o único que nos resta, a floresta."