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A luta pelo controlo do norte do Mali

Silja Fröhlich
29 de fevereiro de 2024

A recaptura de Kidal foi um sucesso para o regime militar do Mali – mas o norte está longe de estar sob controlo. A junta está a seguir um caminho difícil e os jihadistas e rebeldes também adaptaram as suas estratégias.

Soldado maliano com uma Ak-47
Foto: JOEL SAGET/AFP/Getty Images

No meio do deserto quente do Mali está o cenário de anos de combates brutais. A cidade de Kidal, a 1.200 quilómetros da capital do Mali, Bamako, é há muito tempo o ponto de partida da luta dos rebeldes pela independência. Desde novembro, Kidal, no nordeste do país, está novamente sob o controlo da junta governante, após dias de intensos combates. Uma grande proporção dos residentes fugiu.

A recaptura de Kidal tem sido uma prioridade para o Governo em Bamako, explica Christian Klatt, chefe do escritório da Fundação Friedrich Ebert (FES) no Mali, próxima dos sociais-democratas alemães, numa entrevista à DW. "Mas não aconteceu muita coisa desde então. Proteger e abastecer Kidal é trabalhoso. Isto significa que rotas importantes no centro do país são menos vigiadas, o que significa que atores islâmicos radicais, em particular, estão a espalhar-se nesta região."

Mapa do Mali

O exército do Mali luta contra grupos tuaregues há anos. Exigem autonomia para a região desértica, que chamam de Azawad. Outros grupos militantes ligados à Al-Qaeda e ao chamado Estado Islâmico também estão ativos no conflito, que dura desde 2012. Milhares de civis foram mortos em combates desde então.

Entusiasmo a desaparecer

Com a esperança de mudança, muitos malianos apoiaram os golpistas e o seu líder Assimi Goita depois de estes terem chegado ao poder em agosto de 2020. Também justificaram a demissão do Presidente Ibrahim Boubacar Keïta com o seu fraco sucesso na questão da segurança. Mas o número de ataques no norte do Mali mais do que duplicou desde que as 13 mil forças de manutenção da paz da ONU foram retiradas em agosto de 2023, a pedido do Governo do Mali. De acordo com a organização humanitária Mercy Corps, mais de um terço dos malianos dependem de ajuda humanitária e cada vez mais pessoas fogem das suas aldeias devido aos combates. 

Combatentes do Movimento para Salvar Azawad (MSA), um movimento político e armado tuaregueFoto: Souleymane Ag Anara/AFP

Um curso frontal militar

Na sua luta contra rebeldes e jihadistas, o Governo baseia-se numa estratégia militar, comentou Ulf Laessing, chefe do programa Sahel na Fundação Konrad Adenauer (KAS), que é próxima dos democratas-cristãos alemães, em Bamako. "Com a ajuda de mercenários russos, deveria ser controlado o máximo de território possível. O Mali comprou muito equipamento militar da Rússia, da Turquia e de outros países: helicópteros, jatos e drones", disse Laessing em entrevista à DW.

A junta também está a tomar medidas legais contra os "terroristas”. O poder judicial do Mali anunciou em novembro investigações sobre líderes locais da Al-Qaeda e separatistas tuaregues por "atos terroristas, financiamento do terrorismo e posse ilegal de armas de guerra". Quase não existe qualquer diferenciação entre jihadistas e grupos separatistas, critica Klatt, especialista da FES, que presume que os grupos separatistas no norte estão próximos da Al Qaeda. "Eles disseram que não negociariam com terroristas e, portanto, Bamako pôde tomar medidas militares contra eles", acrescentou.

As tropas da missão da ONU, a MINUSMA, retiraram-se do Mali no final de 2023 - nesta foto veem-se os soldados da Bundeswehr após o seu regresso à AlemanhaFoto: Ronny Hartmann/AFP

Acordo de paz fracassado

Os grupos rebeldes criticavam há muito a lenta implementação de um acordo de paz de 2015. Pontos como a descentralização do Mali e um melhor desenvolvimento no norte do país quase não foram implementados.

Bamako rejeitou as sugestões dos rebeldes para avançar para um processo de mediação internacional para relançar o diálogo. No final de dezembro de 2023, o Governo militar começou a planear um diálogo nacional para negociar um cessar-fogo. A junta declarou o acordo de paz nulo e sem efeito em janeiro de 2024: os signatários não cumpriram as suas obrigações e o principal mediador, a Argélia, agiu "hostilmente".

"Bamako está agora a aproveitar esta oportunidade para concluir um acordo que é mais do seu próprio interesse", explica Klatt. Anteriormente, o norte do país teria beneficiado com isso, mas agora as coisas deveriam ser diferentes.

Estratégia dos separatistas e jihadistas

Entretanto, os separatistas tuaregues prosseguem as suas próprias estratégias: em dezembro, bloquearam estradas importantes no norte do Mali que levam às fronteiras com a Mauritânia, a Argélia e o Níger. "Temos aqui uma grande variedade de atores com objetivos e abordagens diferentes. Os grupos tuaregues consideram-se governantes legítimos e tentam ter uma relação positiva com a população civil. Eles também querem cortar rotas importantes do exército do Mali", afirmou Klatt.

O regime militar do Mali colabora com a Rússia – que também recebe a simpatia da populaçãoFoto: Nicolas Remene/Le Pictorium Agency via ZUMA Press/picture alliance

Os grupos jihadistas, por outro lado, concentram-se cada vez mais em ataques menores, diz Laessing: "Atacar uma aldeia, recuar rapidamente, colocar explosivos nas ruas. Eles evitam o combate aberto porque veem que não têm qualquer hipótese contra os mercenários russos e os Exército do Mali. Por outro lado, o exército do Mali não está em posição de controlar este enorme país. Haverá sempre lacunas e os jihadistas irão utilizá-las para atacar especificamente bases militares”, acredita o especialista da KAS.

Mas são necessárias abordagens adicionais, diz Laessing: "É preciso abordar as razões pelas quais as pessoas se juntam a tais grupos. Estas incluem a falta de perspetivas, a falta de emprego, a pouca esperança." Quase 70 por cento dos malianos vivem na pobreza. O acesso à educação, medicamentos, eletricidade e água é limitado.

Tensões entre Argélia e Mali

O papel da Argélia na luta pelo controlo do Mali também está a causar descontentamento. O Mali queixou-se repetidamente de que o seu vizinho estava a interferir nos seus assuntos internos e a realizar reuniões com separatistas tuaregues sem envolver o Mali.

"A Argélia sempre tentou estabelecer contactos com os tuaregues, que também vivem no sul da Argélia", explica Laessing. "A Argélia está, portanto, muito interessada em garantir que o norte do Mali não se torne demasiado instável e que os jihadistas que vieram originalmente da Argélia não regressem". Laessing duvida que o Mali ainda esteja interessado na mediação argelina: "Penso que o Mali quer seguir o seu próprio caminho".

A cultura tuaregue também está presente no sul da Argélia – aqui, num festival anual na cidade oásis de DjanetFoto: AFP

Isto também é demonstrado pela retirada do Mali da Comunidade Económica dos Estados da África Ocidental, a CEDEAO, juntamente com os seus vizinhos Burkina Faso e Níger, que também são governados por conspiradores golpistas. Acusaram a CEDEAO de não os apoiar na luta contra o terrorismo. Segundo Leassing, a junta quer agora aproveitar o novo adiamento das eleições presidenciais do Mali, que tem sido repetidamente prometido, por um período de tempo indefinido para consolidar o seu poder no país. Os especialistas concordam: a junta não quer desistir.

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