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"A minha consciência ditava canções de protesto", diz Bonga

João Carlos (Lisboa)24 de abril de 2015

Em entrevista à DW África, o cantor diz que a música teve um papel fundamental na libertação das ex-colónias portuguesas. Artista que contribuiu para a consciencialização do povo angolano inicia digressão pela Europa.

Foto: Rafael Belincanta

A música desempenhou um papel importante na mobilização das massas durante o processo de independência dos países africanos de língua portuguesa. Apesar da repressão colonial nos anos 60, a Casa dos Estudantes do Império, em Lisboa, foi o berço do movimento cultural que despertou para o combate ao regime do ditador António Salazar.

O então atleta Barceló de Carvalho, que depois assumiu o nome de Bonga como músico, recorda-se daquele tempo conturbado.

"A música tornou-se mais importante do que o discurso da maior parte dos políticos. Os que se enquadraram numa perspectiva ótima foram os políticos de excepção, que conseguiram mobilizar milhões", afirmou Bonga em entrevista à DW África.

Carreira de intervenção começa em 1972

Em Angola, o cantor participava em movimentos folclóricos que deram impulso a todas as reivindicações musicais que se seguiram. A carreira musical de intervenção começou efetivamente na Holanda, em 1972.

Para Bonga, mais do que o contexto político, era a consciência dos músicos que determinava o perfil das canções. "A minha consciência foi ditando os temas, os textos e as canções derivadas da minha vivência. Dei-me conta de que as pessoas receberam a mensagem, deram contributos do meu chamamento à mobilização", lembra.O cantor destaca que as músicas não tinham uma conotação partidária. "Houve quem tentou deturpar determinado tema musical que eu teria feito em benefício de um ou outro. Não foi bem assim, mas cada qual tem o direito de interpretar como quiser."

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Entrelinhas

Nos tempos da ditadura marcados pela repressão colonial, as canções eram pensadas e feitas com subtileza. “Tinha que ser nas entrelinhas e as pessoas sacavam aquilo. Ai de nós se não tivéssemos uma linguagem clandestina para fazer passar a mensagem. E ela foi entendida”, comemora.

Bonga conta que algumas músicas africanas não eram sequer tocadas nas rádios. A polícia política portuguesa (PIDE/DGS) procurava desvendar o conteúdo.

“Ela controlava tudo e todos”, diz. “E, mesmo depois da independência, tivemos polícias políticas tão graves e tão assassinas que prenderam, mataram, trucidaram. Isso não posso esquecer de forma nenhuma.”

O cantor angolano deu início a uma digressão pela Europa, que terminará em novembro com o lançamento de um novo disco. Segundo Bonga, o 40º aniversário da independência de Angola deve ser “uma festa grande” com a participação de todos os angolanos, dentro e fora do país.

“Eles estão no comando das operações quotidianas”, diz, na luta contra a corrupção, por um melhor sistema de saúde, e pela “extinção da fome, do separatismo e da arrogância”, finalizou.

Foto: Rafael Belincanta
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