Estudos científicos divergem sobre efeito da nicotina nos fumantes durante a pandemia da Covid-19. Um estudo francês sugere que quem fuma pode estar melhor protegido do novo coronavírus, mas há discordâncias.
Publicidade
Os fumantes são considerados um grupo de risco para infeções pelo novo coronavírus. De acordo com um estudo publicado pelo jornal científico Chinese Medical Journal, a doença apresenta mais complicações no caso de fumantes e é ainda mais fatal.
Por outro lado, investigadores franceses liderados por Jean-Pierre Changeaux, neurobiólogo do Instituto Pasteur, suspeitam que os adesivos de nicotina podem ajudar a prevenir a Covid-19.
Covid-19: "Africanos não são ratos de laboratório"
01:43
Contrariando o estudo chinês, os investigadores franceses dizem que há apenas um pequeno número de fumantes entre pacientes contaminados com a Covid-19. De 500 pacientes estudados com a doença, 350 foram hospitalizados e 150 tiveram efeitos leves da doença. Destes, apenas 5% eram fumantes, afirmou o líder do estudo, Zahir Amoura, à agência de notícias francesa AFP.
Um estudo anterior feito por investigadores liderados por Giuseppe Lippi, de Verona, na Itália, e publicado no European Journal of Internal Medicine, apresentou um resultado semelhante. O estudo também chegou à conclusão de que os fumantes apresentavam a Covid-19 com menos frequência do que os não-fumantes.
Nicotina como proteção?
O estudo do Instituto Pasteur pressupõe que a nicotina pode proteger os fumantes contra o novo coronavírus. Isto baseia-se na hipótese de que "a nicotina adere aos receptores celulares [ACE2], que são usados pelo novo coronavírus, impedindo assim a adesão do vírus", explica o professor Jean-Pierre Changeux.
Os investigadores concluíram que, nestes casos, o vírus não pode penetrar na célula e, portanto, não pode espalhar-se pelo organismo. Esta conclusão vai ser analisada com mais pormenores no hospital La Pitié Salpêtrière, em Paris.
Os cientistas, entretanto, não concordam que os receptores ACE2 tenham um efeito bloqueador. Os neurologistas James L. Olds e Nadine Kabbani, de Fairfax, na Virgínia, nos Estados Unidos da América, já tinham publicado um estudo sobre o tema no The FEBS Journal, em 18 de março.
A análise pressupõe que a nicotina tende a estimular os receptores celulares. Os neurologistas suspeitam que os vírus tenham chances ainda melhores de penetrar nas células. Este facto poderia explicar porque os fumantes apresentam complicações da doença e, portanto, encontram-se no grupo de risco.
Fumar não é a solução
Se os cientistas franceses ou os norte-americanos têm razão, apenas o tempo vai dizer. Por outro lado, praticamente todos os médicos concordam que o tabagismo representa um risco adicional para quem está contaminado com a Covid-19.
Cinco razões para sucesso da Alemanha no combate à Covid-19
02:38
This browser does not support the video element.
Os médicos recomendam que as pessoas parem de fumar o mais rápido possível, uma vez que o novo coronavírus afeta sobretudo os pulmões, que já são previamente danificados no caso dos fumantes. O cigarro ainda contém substâncias nocivas que podem causar o cancro.
Ainda são necessários numerosos testes com adesivos de nicotina com diferentes dosagens. Se o estudo francês estiver correto, a nicotina poderá até proteger as pessoas que têm contato com doentes do contágio pela Covid-19.
Entretanto, por ser uma toxina, a ingestão de nicotina não é segura em nenhuma hipótese. Ao fumar um cigarro, o fumante ingere de um a três miligramas de nicotina. Um cigarro contém cerca de 12 miligramas desta substância.
Onde se podem esconder os coronavírus
Vírus por toda parte: nos alimentos, no pacote do correio, até no próprio cão de estimação? O Departamento de Avaliação de Risco da Alemanha esclarece o que se sabe sobre o coronavírus.
Foto: picture-alliance/dpa/Jagadeesh Nv
Animais silvestres são tabu
Há fortes indícios de o coronavírus ter sido transmitido inicialmente aos seres humanos por um morcego. O animal, porém, não teve qualquer culpa: ele foi possivelmente servido como iguaria. E agora os seres humanos amargam a "maldição do morcego que virou sopa"... Um efeito positivo do surto de covid-19 é a China ter proibido o consumo de carne de animais selvagens.
Foto: picture-alliance/Photoshot/H. Huan
Maçanetas contaminadas
Os coronavírus conhecidos permanecem infecciosos em superfícies como maçanetas por quatro a cinco dias, em média. Os especialistas partem do princípio que os conhecimentos sobre as variedades já estudadas se aplicam ao novo coronavírus. Assim, como todas as infecções por gotículas, também este novo coronavírus Sars-CoV-2 muito provavelmente propaga-se por mãos e superfícies tocadas com frequência.
Em princípio, os coronavírus contaminam pratos ou talheres se alguém infectado espirra ou tosse diretamente neles. Por isso é necessário certo cuidado durante o almoço no refeitório do trabalho. No entanto, o Departamento Federal alemão de Avaliação de Riscos (Bundesinstitut für Risikobewertung - BfR) enfatiza que "até agora não se sabe de infecções com o Sars-CoV-2 por esse meio de transmissão".
Foto: picture-alliance/dpa/Jagadeesh Nv
Medo de produtos importados?
Até o momento não há nenhum caso em que o coronvírus foi transmitido através de produtos importados. Os estudos sugerem que o novo coronavírus seja relativamente instável em termos ambientais: os patógenos permaneceriam infecciosos durante vários dias sobretudo a temperaturas baixas e alta humidade atmosférica. Mas segundo o BfR, pais não precisam temer contágio através de brinquedos importados.
Foto: Ivivse/Karin Banduhn
Vírus pelo correio?
Em geral, os coronavírus humanos não são especialmente resistentes sobre superfícies secas. Como a sua estabilidade fora do organismo humano depende de diversos fatores ambientais, como temperatura e humidade, o BfR considera "improvável" um contágio por encomendas de correio – embora ressalvando ainda não haver dados mais precisos sobre o Sars-CoV-2.
Foto: picture-alliance/dpa/T. Weller
Legumes e frutas do mercado
Igualmente improvável é a transmissão do coronavírus Sars-CoV-2 através de alimentos contaminados, na avaliação do BfR. Não são conhecidos casos comprovados. Mas lavar cuidadosamente as mãos antes de preparar a refeição é mandatório nos tempos da covid-19. Como os vírus são sensíveis ao calor, aquecer os alimentos pode reduzir ainda mais o risco de contágio.
Foto: DW/M. Mueia
Longa vida no gelo
Embora os coronavírus conhecidos até ao presente reajam mal ao calor, eles são bastantes resistentes ao frio, permanecendo infecciosos a -20 ºC por até dois anos. Também aqui, contudo, não há qualquer indício de cadeias infecciosas do Sars-CoV-2 por meio do consumo de alimentos, mesmo supercongelados.
Foto: DW/J. Beck
Pingue-pongue entre cães e os donos?
Também o risco de contaminação de animais domésticos é considerado muito baixo pelos especialistas, embora não o descartem. Os próprios animais não apresentam sintomas patológicos. Caso infectados, contudo, é possível transmitirem o coronavírus pelas vias respiratórias ou excrementos.