"Investir num futuro comum" não é apenas o slogan da parceria entre o continente e o G20, mas uma afirmação da importância do desenvolvimento em África - sobretudo quando se trata de resolver o problema da imigração.
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A imigração africana é, cada vez mais, um tópico controverso na política europeia e a União Europeia (UE) e o G20, composto pelos 20 países mais desenvolvidos e industrializados, estão, por isso, a redesenhar a sua estratégia para p continente.
Em Bruxelas, durante o evento "Dias para o Desenvolvimento Europeu", o Parlamento Europeu, o Conselho de Ministros e a Comissão Europeia - assinaram o "Consenso Europeu para o Desenvolvimento", em resposta à agenda para 2030 definida pela Organização das Nações Unidas em 2015.
Neven Mimica, comissário da União Europeia (UE), explicou como a ideia de trabalho para o desenvolvimento tem vindo a mudar ao longo dos últimos anos.
"Se olharmos para as primeiras ideias para o Desenvolvimento do Milénio, a estrutura era mais ou menos simples. Mais crescimento, menos pobreza. Agora, a questão chave é diferente: já não é 'o crescimento é suficiente?', mas sim 'será que este crescimento económico é sustensável? É suficientemente inclusivo?'", lembrou.
O crescimento económico inclusivo, como destaca o comissário europeu, não significa apenas investir nos setores certos, mas sim estabelecer um ambiente estável para os negócios africanos nas áreas urbanas e rurais.
Aposta na agricultura
O nigeriano Kanayo F. Nwanze tem vindo a trabalhar como líder de desenvolvimento no continente e foi galardoado com o prémio "Africa Food Prize", pelo seu trabalho em aumentar os recursos que melhoram a vida de milhões em África.
A nova estratégia da UE e do G20 para África
"Temos de olhar para além da produção e comercialização de bens primários e matérias-primas para a Europa e para o mundo. Temos de ter capacidade de transformar esses materiais e construir uma indústria agrícola, porque é aí que está o mercado", defende.
De modo a ter capacidade para transformar a economia do continente africano, o trabalho de Nwaze foca-se nas preocupações de pequenos produtores agrícolas nas regiões rurais.
"A agenda das Nações Unidas para 2030 pretende não deixar ninguém para trás, através da erradicação da pobreza e da fome em todo o mundo, lembra. "Em África, 80% daquilo que consumimos é produzido por pequenos produtores. E se queremos fazer isso, temos que investir neles, porque, caso contrário, a fome e a pobreza continuarão a existir em 2050".
Kanayo Nwanze reforça que, se a Europa pretende parar a imigração proveniente de muitos destes países africanos, tem de aprender a investir no espaço rural. "Quando as pessoas não têm oportunidades económicas nas suas zonas rurais, elas emigram. Primeiro, para favelas, onde ficam frustrados e querem sair do país", salienta.
Por isso, defende, "África tem de ser desenvolvida pelos africanos, para os africanos em África", mas com o apoio dos outros países. "Uma árvore também precisa de ter as suas raízes firmes no solo em que foi plantada antes de poder utilizar a energia do sol e da chuva", lembra.
Memórias dos refugiados africanos de Lampedusa
Lampedusa é como uma porta de entrada de imigrantes para a Europa. Mamadou Ba veio do Senegal, mas entrou como estudante bolseiro para Portugal. Estas fotos de Lampedusa refletem a sua visão da "ilha das tragédias".
Foto: Mamadou Ba
Porta de Lampedusa
Lampedusa é como uma porta de entrada para a Europa de milhares de imigrantes africanos. Mamadou Ba também veio de África, Senegal, mas não entrou por esta porta. Foi como estudante bolseiro para Portugal em 1997. É ativista da organização não governamental SOS Racismo. Mamadou Ba tirou estas fotografias em Lampedusa. Refletem a sua visão desta ilha, que viu tantas tragédias de refugiados.
Foto: Mamadou Ba
Cemitério de barcos
Estes cascos encontram-se no cemitério dos barcos. É aí que ficam os barcos que transportaram os refugiados para a ilha italiana. Foram muitas as vidas que se perderam nas travessias do Mediterrâneo. A maior tragédia aconteceu no dia 3 de outubro de 2013 quando 366 refugiados perderam a vida. No dia 11 de janeiro de 2014, cerca de 200 refugiados foram salvos pela marinha italiana.
Foto: Mamadou Ba
Morrer por querer viver
A ilha de Lampedusa tem vindo a ser considerada um cemitério para milhares de imigrantes que “morrem por procurar uma vida melhor”, nas palavras de Mamadou Ba. Só em outubro de 2013 mais de 400 pessoas perderam a vida em dois naufrágios a caminho do norte de África para a ilha de Lampedusa. A maioria dos mortos era oriunda da Eritreia e da Somália.
Foto: Mamadou Ba
Memória dos imigrantes
Pouco sabemos dos milhares que morreram durante as tentativas de chegar à Europa. A maior parte dos imigrantes mortos são conhecidos pelos números anónimos das notícias sobre os naufrágios. Deixam poucos rastros como estas roupas de náufragos, que mal se distinguem. Mas os mortos são também memória na ilha de Lampedusa.
Foto: Mamadou Ba
Objetos que humanizam
Na ilha existe um museu com objetos de vítimas dos náufragos como passaportes, fotografias pessoais e anotações. “O que os objetos nos mostram é um que a morte não consegue levar a memória. Alguns objetos podem mostrar quão humanos eram e quão simples eram os seus sonhos”, conta Mamadou Ba.
Foto: Mamadou Ba
Normalidade em alto mar
Os imigrantes levavam consigo os seus hábitos quotidianos e a sua cultura. Tentavam continuar esta normalidade nas arriscadas travessias, que lhes prometiam uma vida melhor na Europa. No entanto, não se sabe ao certo se os objetos expostos no museu, como estes tachos, pertenceram a pessoas que morreram ou a sobreviventes que "apenas" perderam os seus pertences na travessia.
Foto: Mamadou Ba
Memórias de vidas perdidas
Em muitos pontos da ilha italiana de Lampedusa podemos encontrar a memória dos imigrantes. "A memória serve para manter a vida do que já não vive“, diz Mamadou Ba. A ilha tem uma extensão de apenas nove quilómetros. Ela dista cerca de 205 quilómetros da Sicília, no sul de Itália, e de cerca de 130 quilómetros da Tunísia, o que torna Lampedusa num ponto de entrada ideal para a União Europeia (UE).
Foto: Mamadou Ba
Inimigo à vista
Este bunker da Segunda Guerra Mundial à entrada de Lampedusa servia para defender a ilha da invasão de forças navais inimigas. Mamadou Ba, da organização não governamental portuguesa SOS Racismo, acredita que este bunker é simbólico: “Lampedusa é a construção do imigrante como inimigo da Europa. Que é preciso conter, que é preciso combater.”
Foto: Mamadou Ba
Contra a "Fortaleza Europa"
Em fevereiro de 2014, mais de 400 representantes da sociedade civil, reunidos em Lampedusa, aprovaram a "Carta de Lampedusa". Ela defende uma mudança de paradigma sobre as realidades migratórias. Dado que são já "incontáveis as tragédias fatais que se têm sucedido nas costas marítimas europeias", os signatários querem ver a imigração e os direitos humanos dos imigrantes na agenda da UE.
Foto: ALBERTO PIZZOLI/AFP/Getty Images
O mar de Lampedusa
A pequena ilha italiana que fica no meio do Mediterrâneo entre a Sicília e o norte de África espera por dias melhores. Poucos pensam que os fluxos migratórios e as tragédias associadas vão acabar se não houver uma transformação radical das políticas de imigração da Europa.