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"A RENAMO precisa de encarnar os problemas dos moçambicanos"

24 de outubro de 2023

À DW, o analista político Fidel Terenciano aborda a possibilidade de uma iminente 'revolução' e questiona se a RENAMO, o maior partido da oposição, está preparada para responder às exigências dos jovens.

Moçambique é palco de manifestações convocadas pela RENAMO, que aponta suposta "fraude" nas eleições autárquicas de 11 de outubroFoto: Amós Fernando/DW

Os gritos de "povo no poder" nas ruas de Moçambique não vão parar, porque os jovens moçambicanos estão fartos de serem postos de lado pelo Estado. Esta é a análise do politólogo Fidel Terenciano, em entrevista à DW África. O país tem testemunhado quase diariamente manifestações que denunciam uma suposta "megafraude" eleitoral ocorrida durante as eleições autárquicas.

Fidel Terenciano acredita que, à medida que nos aproximamos das eleições gerais do próximo ano, esse movimento de contestação pode intensificar-se ainda mais. No entanto, o analista político ressalta que, para já, o maior partido da oposição em Moçambique, a RENAMO, não está devidamente preparado para atender às reivindicações dos jovens.

DW África: O significam os gritos "povo no poder". Acredita que é possível haver uma "revolução" em Moçambique, anunciada pelo líder da RENAMO, Ossufo Momade?

Fidel Terenciano (FT): Os gritos não se referem à FRELIMO, RENAMO ou MDM. Eles dizem respeito à reestruturação do Estado, que os jovens, em particular, percebem como sendo não orientado para servir as comunidades, mas sim um grupo específico da sociedade moçambicana.  

RENAMO tem promovido manifestações contra os resultados das eleições em todo o paísFoto: Alfredo Zuniga/AFP

DW África: E são também sobre uma certa resistência do Estado a fazer essa reforma?

FT: O Estado, enquanto estrutura funcional, não se tem feito presente, não tem discutido publicamente essas reivindicações. No entanto, o seu braço mais operacional, o braço legal para o uso da violência, que são os polícias, tem sido responsável por enfrentar organizações, manifestações e iniciativas juvenis que questionam o Estado moçambicano. Isso significa que, mesmo que daqui a um mês tenhamos algum alívio na contestação pública em relação à gestão governamental, à prestação social e aos serviços públicos, é possível prever que, no próximo ano, desde o processo de recenseamento eleitoral até às eleições gerais, veremos uma continuação da mesma tendência e tom de contestação entre alguns grupos da sociedade, especialmente os jovens, em oposição ao próprio Estado.

DW África: Temos testemunhado protestos quase diariamente. Qual é o significado de tudo isso para o próximo ano, nas eleições gerais? Será possível que esse movimento ganhe ainda mais força?

FT: Para que este movimento ganhe mais força, é essencial que a oposição, a partir de agora - com base nas abordagens de Venâncio Mondlane e Manuel de Araújo -, incorpore as principais preocupações da população como pilares fundamentais da sua estratégia. Por exemplo, as pessoas viam Azagaia como alguém que personificava as principais preocupações da sociedade. Durante muito tempo, a oposição baseou-se principalmente na força militar para contestar as decisões do Governo.

Hoje, a chave está em adotar as preocupações prementes da comunidade e dos jovens como um trunfo para confrontar o atual Governo.

RENAMO grita "povo no poder" em Vilankulo

02:20

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DW África: Falou em dois nomes, Venâncio Mondlane e Manuel de Araújo. Estas duas figuras da RENAMO representam um "perigo" para a vontade da FRELIMO de se manter no poder?

FT: São líderes políticos que se apegaram à linha da contestação pública por meio da ideia do desenvolvimento e, de alguma forma, conseguiram conquistar apoiantes. Esses apoiantes não estão ligados principalmente por afinidades ideológicas, mas sim por acreditarem que a falta de desenvolvimento em Moçambique se deve a um grupo específico de moçambicanos, em sua maioria afiliados ao partido FRELIMO.

DW África: Está o partido RENAMO preparado, em termos políticos ou de estrutura, para responder às reivindicações dos jovens moçambicanos?

FT: Penso que não. A RENAMO precisa de se reestruturar rapidamente e tomar uma decisão interna por meio de um congresso. Só podemos ter uma oposição eficaz se abraçarmos as principais preocupações da população. Num passado muito recente, a RENAMO não agiu nesse sentido. Ela se posicionou principalmente em contraposição às principais decisões da FRELIMO, em vez de se posicionar como uma defensora das principais questões da comunidade moçambicana.

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