A solução nigeriana para manter as crianças na escola
DW (Deutsche Welle) | af
7 de julho de 2022
Cerca de dez milhões de crianças entre os 5 e os 14 anos de idade nunca frequentaram a escola na Nigéria. Um novo programa está a tentar ajudar as famílias a pagar as matrículas, que afastam muitos alunos do ensino.
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Dados oficiais indicam que mais de 536 mil crianças não frequentam a escola no Estado de Katsina, no norte da Nigéria.
O governo local, com apoio de algumas agências internacionais, desembolsou este ano mais de 560 dólares para ajudar nas matrículas de mais de 20.830 crianças.
Abdulbaki Lawal Lema, diretor assistente na Agência Estatal de Educação de Katsina e ponto focal do Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF), explica que "este programa começou há sete anos, mas devido à Covid-19 esteve parado."
Agora, a Fundação Qatar está a assumir a responsabilidade do financiamento e a UNICEF ocupa-se da gestão do projeto.
Levar as crianças de volta à escola no norte da Nigéria
03:26
Objetivos políticos?
No entanto, há quem considere que a iniciativa tenham objetivos políticos. "Este programa não tem nada a ver com política, o principal objetivo é ver as crianças a frequentarem a escola, especialmente crianças de mães raparigas", esclarece Abdulbaki Lema.
As mães ou cuidadoras recebem anualmente cerca de 40 dólares americanos em duas prestações por cada criança. A ideia é aumentar a taxa de matrícula e frequência escolar das crianças, particularmente das crianças do sexo feminino.
Amina Amadu, uma das cuidadoras, está feliz com a iniciativa, embora não esteja certa da continuidade do programa.
"Estamos realmente gratos por este programa, mas penso que não durará muito tempo, porque o dinheiro é insuficiente tendo em conta o nível de dificuldades e a taxa de inflação no país", diz.
Amina apela, no entanto, ao Governo para que "reconsidere pagar as prestações todos os meses e não duas vezes por ano, porque isso pode constituir um problema para as famílias."
Melhorar a vida das famílias
O objetivo deste dinheiro é melhorar o bem-estar socioeconómico dos beneficiários e das suas famílias.
Malam Abdullahi diz-se encorajada a mandar os seus filhos à escola: "Este apoio vai ajudar-nos muito para enviarmos os nossos filhos para a escola, ao contrário do que acontecia antes. Devido à situação económica, as crianças tinham que nos ajudar nas manchambas e ou iam para o trabalho de rua para apoiar a família, mas com isto, pelo menos, bloqueará algumas brechas."
O programa não se limita a resolver a questão da educação, mas também a situação de segurança e outros desafios que assolam a região.
Reféns do Boko Haram libertados na Nigéria: "Ainda dói"
As 293 mulheres e crianças libertadas na semana passada pelo exército nigeriano das mãos do Boko Haram foram levadas para um campo de refugiados perto da cidade de Yola. Mas o seu sofrimento está longe de terminar.
Foto: DW/Jan-Philipp Scholz
O sorriso perdido
"O que se percebe imediatamente é que as crianças aqui quase não riem", conta um funcionário do acampamento de Malkohi, na periferia da cidade nigeriana de Yola. Cerca de metade das perto de 300 pessoas que eram mantidas em cativeiro pelo Boko Haram tem menos de 18 anos. Um terço das crianças no acampamento sofre de desnutrição.
Foto: DW/Jan-Philipp Scholz
Primeiros dias de vida no acampamento
Lami Musa é mãe da mais recente moradora do acampamento de Malkohi. Deu à luz na semana passada. Um dia depois foi salva por soldados nigerianos. Durante a operação de resgate várias mulheres foram mortas pelos terroristas. "Apertei firmemente a minha filha contra o meu corpo e inclinei-me sobre ela", recorda a jovem mãe.
Foto: DW/Jan-Philipp Scholz
Filho perdido durante o cativeiro
Halima Hawu não teve tanta sorte. Um dos seus três filhos foi atropelado enquanto os terroristas a raptavam. Durante a operação de resgate um soldado nigeriano atingiu-a numa perna, porque os membros do Boko Haram usam as mulheres como escudos humanos. "Ainda dói, mas talvez agora o pior já tenha passado", espera Halima Hawu.
Foto: DW/Jan-Philipp Scholz
Poucos alimentos para as crianças
Babakaka, de três anos, teve de passar seis meses com o Boko Haram. Só raramente havia algum milho para as crianças, contam antigos prisioneiros. Quando foram libertados pelos soldados, Babakaka estava quase a morrer de fome. Babakaka continua extremamente fraco e ainda não recebeu tratamento médico adequado no acampamento.
Foto: DW/Jan-Philipp Scholz
Sobrevivência por um triz
A mãe de Babakaka foi levada para o Hospital de Yola juntamente com cerca de outras vinte pessoas gravemente feridas. Durante a fuga, alguém que seguia à sua frente pisou uma mina. A explosão foi tão forte que a mulher ficou gravemente ferida. Perdeu o bebé que carregava.
Foto: DW/Jan-Philipp Scholz
Roupas usadas do Ocidente
Exceptuando algumas doações de roupas velhas, ainda não chegou muita ajuda internacional às mulheres e crianças do acampamento de Malkohi. Aqui há falta de muitas coisas, sobretudo de pessoal médico. Não há qualquer vestígio do médico de serviço no acampamento. Apenas duas enfermeiras e uma parteira mantêm em funcionamento o posto de saúde temporário.
Foto: DW/Jan-Philipp Scholz
Dependentes de voluntários
"Não entendo por que motivo o nosso serviço de emergência nacional não faz mais", reclama a assistente social Turai Kadir. Por sua própria iniciativa, Turai Kadir chamou uma médica para tratar das crianças mais desnutridas. Na verdade, essa é a tarefa da NEMA, a agência nigeriana de gestão de emergências, que está sobrecarregada.
Foto: DW/Jan-Philipp Scholz
"Incrível capacidade de resistência"
Regina Musa voltou há poucos meses dos Estados Unidos para dar aulas de Psicologia na Universidade de Yola. Agora, a psicóloga presta aconselhamento psicológico a mulheres e crianças. "As mulheres têm demonstrado uma incrível capacidade de resistência", diz Musa. Durante o período traumático, muitas delas também se preocupavam com os filhos de outras pessoas. Autor: Jan-Philipp Scholz (em Yola)