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A vida na linha da frente: Reportagem da DW na Ucrânia

Mathias Bölinger
15 de maio de 2022

Halyna Illiushenko optou por continuar a viver na aldeia de Prybuzke, considerada zona de perigo. À DW, a cidadã ucraniana disse que se sobreviveu à Segunda Guerra Mundial também vai sobreviver ao conflito na Ucrânia.

Ukraine, Luch | eine Frau kümmert sich um einen Verletzten Hund
Foto: Celestino Arce/NurPhoto/picture alliance

Com a guerra na Ucrânia, a maioria dos seus cidadãos teve de fugir das aldeias e cidades onde os exércitos se encontram a combater. Deixaram as suas casas para trás e procuraram recomeçar a vida noutro lugar.

Em Prybuzke, uma aldeia perto de Mykolaiv, praticamente nenhuma casa permanece de pé. A aldeia já teve 2000 habitantes, agora restam apenas cinco. Entre eles está Halyna Illiushenko.

"Agora está tudo calmo, estamos a descansar um pouco. Mas há alguns dias foi terrível. Havia bombas a cair, tiros, fogo. Uma bomba caiu no meu quintal, a 12 metros do meu quarto. Houve um estrondo forte e fogo. Estou surpreendida por a minha casa não ter ardido. É assim que as coisas estão por aqui", explica.

O que Halyna chama de ‘calma' significa, na verdade, uma luta menos intensa. Prybuzke, que foi invadida pelos russos, foi depois retomada pelos ucranianos.

 "Eu não julgo os soldados, nem os russos nem os ucranianos. Não é culpa deles. Eles são obrigados a fazer isto", diz.

Soldado ucraniano a preparar o jantar num abrigo subterrâneo perto da linha da frente de MykolaivFoto: Celestino Arce/NurPhoto/picture alliance

A decisão de ficar em Prybuzke

Halyna vive com o seu filho, que tem uma doença mental. Decidiu ficar na aldeia onde vivia, porque tem medo de não conseguir tomar conta do filho noutro lugar. Quando os bombardeamentos recomeçam, ambos se escondem dentro de casa.

"Este é o nosso cantinho. Tenho medo de caves. Disseram-me que há várias caves para onde eu posso ir. Mas aqui, na nossa rua, uma mulher foi enterrada enquanto estava na sua cave. Eu não vou para lá", afirma.

Apesar do cenário evidente de guerra, Halyna faz o que pode para aliviar a situação. Por exemplo, encheu de terra um cratera formada por uma bomba e plantou batatas.

Halyna nasceu durante a II Guerra Mundial. Em 2022, passa as noites debaixo de bombardeamentos. A sua casa foi severamente atingida, mas, ao contrário das outras, ainda está de pé.

"Eu estou a aguentar-me. A nossa vida sempre foi modesta, mas não era má. Todos os dias, rezo a Deus para que tudo isto acabe depressa."

Halyna sobreviveu à Segunda Guerra Mundial quando era criança. Agora, com 80 anos, não ambiciona menos que sobreviver ao conflito na Ucrânia.

Prybuzke é apenas uma das aldeias recuperadas pelos ucranianos, depois de serem invadidas pelas tropas russas. A leste de Kharkiv, mais de uma dúzia de aldeias foram libertadas pelo exército ucraniano desde o início de maio, segundo as autoridades locais.

Soldados russos e ucranianos perto de MykolaivFoto: Mathias Bölinger/DW

"A vantagem da Ucrânia é o conhecimento local”

O comandante da 127ª Brigada das Forças de Defesa Territorial da Ucrânia acredita que o conhecimento local é uma grande vantagem para as forças que operam perto de Kharkiv.

"A grande maioria dos militares que são recrutados, são recrutados numa área específica para tarefas específicas. A vantagem disto é que os meus militares não precisam de mapas, eles têm um mapa na cabeça. Eles conhecem bem esta área porque já a percorreram antes. Esta é a nossa força".

O conflito Rússia – Ucrânia, que começou a 24 de fevereiro, completa hoje 81 dias. De acordo com as Nações Unidas, mais de 3 mil pessoas morreram desde o início da guerra. A equipa da ONU esclarece que a maioria das mortes foi causada por armas explosivas, como mísseis provenientes de ataques aéreos.

 

Reportagem adaptada por Inês Cardoso

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