Abel Chivukuvuku desiludido com o processo eleitoral em Angola
30 de agosto de 2012 Pelo menos seis pessoas foram detidas esta quinta-feira (30.08) na capital angolana, Luanda, quando tentavam juntar-se para uma vigília de protesto junto à Comissão Nacional Eleitoral (CNE) e a ação foi prontamente reprimida pela polícia.
Os manifestantes, membros da Juventude Patriótica de Angola (JPA), ligada à Convergência Ampla de Salvação de Angola - Coligação Eleitoral (CASA-CE), tentavam juntar-se na sede da CNE, no centro de Luanda, mas a cerca de 100 metros do local o grupo foi dispersado pela polícia.
Entre os detidos estava Rafael Aguiar, secretário nacional da JPA e candidato a deputado, na lista nacional da CASA-CE às eleições gerais de sexta-feira (31.08) em Angola.
Os jovens amarraram-se ao princípio da tarde desta quinta-feira, dia de reflexão eleitoral, com fitas amarelas, da mesma cor da bandeira da CASA-CE, criada pelo dissidente da UNITA Abel Chivukuvuku, e pretendiam protestar contra as irregularidades no processo eleitoral.
Entretanto, numa entrevista exclusiva ao enviado da DW África à Luanda, António Cascais, o líder da CASA-CE, Abel Chivukuvuku, (AC) condicionou a transparência das eleições gerais de sexta-feita à existência de cadernos e fiscais dos partidos nas
mesas de voto e na disponibilização de atas síntese para todos no fim da votação.
DW África: Como viveu este último dia antes das eleições gerais?
AC: Durante muito tempo nutri uma ambição, um sonho e a ilusão de que hoje poderia transmitir ao país uma mensagem de confiança...uma mensagem que pudesse significar que nós todos os angolanos conseguimos desta vez fazer um processo sério e transparente e que todos nós se sentimos orgulhosos. Infelizmente, tudo isso não passou de um sonho ...de uma ilusão.
DW África: Podia ser mais concreto?
AC: São coisas simples: cadernos eleitorais faz-se em toda África com serenidade, com organização,com transparência; delegados de lista...
Os partidos fornecem as listas de acordo com a lei e a instituição do Estado que organiza as eleições fornece o credenciamento em tempo oportuno.Repito que são coisas simples. Mas temos que fazer uma luta permanente contra todas essas pequenas coisas e que vão culminar na sexta feira (31.08) nos problemas das atas e nas operações eleitorais nas mesas. É tudo isso que nos torna pequenos. Poderíamos transmitir aos cidadãos uma mensagem de confiança e de serenidade e ao mundo uma mensagem de maturidade. É isso que me preocupa.
DW África : Mesmo assim vai participar no ato eleitoral?
AC: Neste momento ainda estamos a prosseguir com o levantamento dos níveis de credenciamento, como estão as questões das mesas, etc... etc... Não queremos fazer julgamentos totais antecipados. Entretanto, há um princípio que estamos a estabelecer: Participamos nas eleições mas não vamos reconhecer o resultado das eleições nas mesas onde não tivermos delegados porque a responsabilidade é da CNE. Entregamos todos os nomes e as listas e por outro lado também não vamos reconhecer os resultados onde não nos forem fornecidas as atas das operações eleitorais, duas questões fundamentais. Espero que os patriotas da CNER façam um esforço...um esforço que é por Angola...um esforço que é por todos. Angola está acima dos partidos, porque se ficarmos na pequenez dos partidos, dificilmente poderemos evoluir. A minha esperança é que a CNE ainda faça um esforço nessas derradeiras horas para pelo menos continuarem com o credenciamento, preparar as atas sínteses das operações eleitorais.
DW África: Como interpreta os incidentes desta quinta-feira à frente das instalações da CNE, onde alguns jovens da CASA-CE foram detidos?
AC: Trata-se de um espírito anti-democrático que prevalece neste país.É preciso ter credenciais democráticas e perceber que uma pequena vigília é uma coisa normal na sociedade, principalmente quando essa vigília é pacífica e ordeira. Mas infelizmente, temos um gene de violênciae queremos tratar tudo com a violência... e foi isso que fizeram com os jovens que foram espancados e maltratados. Isso é desnecessário, mas é a qualidade da governação que Angola tem.
Autor: António Cascais (em Luanda)
Edição: António Rocha