Abel Chivukuvuku já não é o líder da Convergência Ampla de Salvação de Angola - Coligação Eleitoral, anunciou a CASA-CE em conferência de imprensa, em Luanda. André Mendes de Carvalho "Miau" assume a liderança.
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Agudiza-se a crise política no segundo maior partido da oposição angolana. O anúncio do afastamento de Abel Chivukuvuku foi feito esta terça-feira (26.02), numa conferência de imprensa na capital, Luanda, depois de ter sido dado um prazo de 72 horas para que Chivukuvuku apresentasse a demissão.
"Nós, partidos políticos, enquanto entes jurídicos constituintes da CASA-CE, deliberamos a demissão do Dr. Abel Epalanga Chivukuvuku do cargo de presidente da CASA-CE, com efeito imediato, por quebra de confiança", anunciou Alexandre Sebastião André, líder do Partido para o Desenvolvimento e Democracia de Angola - Aliança Patriótica (PADDA-AP), que integra a coligação.
Na conferência de imprensa conjunta de cinco dos seis partidos e movimentos que fazem parte da CASA-CE foi também anunciado que André Mendes de Carvalho "Miau", líder do grupo parlamentar da CASA-CE, assume a presidência da coligação.
Decisão foi ponderada
Chivukuvuku é acusado de fazer oposição contra a própria coligação e de ter concentrado todos os poderes na sua pessoa. "O que não é correto é tentar projetar outros ares, mas ao mesmo tempo planificar acções que visam destruir o projeto existente", tinha já criticado em declarações à DW Manuel Fernandes, um dos vice-presidentes da CASA-CE e líder do Partido de Aliança Livre de Maioria Angolana (PALMA).
Os cinco partidos pediram ao Tribunal Constitucional uma clarificação sobre a gestão dos fundos e sobre a presença de independentes nos órgãos de direção da CASA-CE. O Tribunal esclareceu que os independentes não podem fazer parte do Conselho Presidencial da coligação e proibiu Abel Chivukuvuku de criar um novo partido dentro da estrutura existente.
Alexandre Sebastião André diz que há uma "profunda crise de confiança" na CASA-CE em relação a Abel Chivukuvuku.
Durante vários anos, terá sido possível encontrar harmonia - desde 2008 que os partidos da coligação enviavam cartas a chamar a atenção de Chivukuvuku, segundo Sebastião André. Mas "há momentos em que o ser humano cede e explode".
"Esta não é uma decisão tomada de ânimo leve. Chegámos à exaustão", acrescenta.
Abel Chivukuvuku destituído da liderança da CASA-CE
Futuro em aberto
O afastamento de Abel Chivukuvuku da CASA-CE abre um capítulo difícil na história da coligação, considera o analista político Augusto Báfuabáfua.
Sem Chivukuvuku, a coligação poderá perder simpatizantes: "Caso não consiga reter o maior número de independentes ou não consiga angariar o maior número de pessoas da sociedade civil ou futuros membros para os partidos políticos da coligação, a CASA-CE não só não crescerá, como poderá cair nas próximas eleições."
Abel Chivukuvuku deverá pronunciar-se sobre a sua destituição apenas na quarta-feira (27.02). Mas o político garantiu, na semana passada, que iria ser cabeça de lista nas eleições de 2022.
Para Báfuabáfua, é muito possível que isso aconteça: "O mais provável é que Abel Chivukuvuku lidere outra força política. Cogita-se que será o Bloco Democrático. A ver vamos."
Artigo atualizado às 16:16 (CET) de 26 de fevereiro de 2019.
Angola: Os contrastes de um gigante petrolífero
O "boom" do petróleo ainda não é para todos. Ao mesmo tempo que Angola oferece oportunidades de investimento a empresas nacionais e estrangeiras, mais de um terço da população vive com menos de um dólar por dia.
Foto: DW/R. Krieger
Lama no cotidiano
O bairro Cazenga é o mais populoso de Luanda – ali, vivem mais de 400 mil pessoas numa área de 40 quilômetros quadrados. Em outubro de 2012, chuvas fortes obrigaram muitos habitantes a andar na lama. Do Cazenga saíram muitos políticos do partido governista angolano MPLA. "Uma das prioridades de políticos pobres é a riqueza rápida", diz o economista angolano Fernando Heitor.
Foto: DW/R. Krieger
Dominância do MPLA
Euricleurival Vasco, 27, votou no MPLA nas eleições gerais de agosto de 2012: "É o partido do presidente. Desde a guerra civil, ele tenta deixar o poder, mas a população não deixa". Críticos dizem que José Eduardo dos Santos não cumpriu nenhuma promessa eleitoral, como acesso à água e à eletricidade. Mas o governo lançou um plano de desenvolvimento em novembro para dar esses direitos à população.
Foto: DW/R. Krieger
Economia informal em Angola
Muitos angolanos esperam riqueza do chamado "boom" do petróleo. Mas grande parte da população é ativa na economia informal, como estas vendedoras de bolachas na capital, Luanda. Segundo a ONU, 37% da população vivem com menos de um dólar por dia. Elias Isaac, da organização de defesa dos direitos humanos Open Society, considera este um "contrassenso" entre "crescimento e desenvolvimento".
Foto: DW/R. Krieger
Uma infraestrutura de fachada?
A capital angolana Luanda é considerada uma das cidades mais caras do mundo. Um prato de sopa pode custar cerca de 10 dólares num restaurante, o aluguel de um apartamento mais de cinco mil dólares por mês. A Baía de Luanda é testemunho constante do "boom" do petróleo: guindastes e arranha-céus disputam quem é mais alto.
Foto: DW/Renate Krieger
O "Capitólio" de Angola
Próximo à Baía de Luanda, surge a nova sede do parlamento angolano. O partido governista MPLA vai ocupar a maior parte dos 220 assentos: elegeu 175 deputados em agosto de 2012. Por outro lado, o MPLA perdeu 18 assentos em comparação à eleição de 2008. A UNITA, maior partido da oposição, ganhou 32 assentos em 2012 – mas tem pouco espaço...
Foto: DW/R. Krieger
O presidente no cotidiano de Luanda
…porque, segundo críticos, o presidente José Eduardo dos Santos (numa foto da campanha eleitoral) "domina tudo": o poder Executivo, o Judiciário e o Legislativo, diz o economista Fernando Heitor. José Eduardo dos Santos também parece dominar muitas ruas de Luanda: em novembro de 2012, quase todas as imagens eram da campanha do partido no poder, o MPLA.
Foto: DW/R. Krieger
Dormir nos carros
Os engarrafamentos são frequentes em Luanda. Por isso, muitos funcionários que moram em locais mais afastados já partem para a capital angolana de madrugada. Ao chegarem em Luanda, dormem nos carros até a hora de ir trabalhar – juntamente com as crianças que precisam ir à escola. A foto foi tirada às 06:00h da manhã perto do Palácio da Justiça em novembro de 2012.
Foto: DW/R. Krieger
A riqueza em recursos naturais de Angola
Angola é o segundo maior produtor de petróleo da África, mas também tem potencial para se tornar um dos maiores exportadores de gás natural. A primeira unidade de produção de LNG – Gás Natural Liquefeito, em inglês – foi construída no Soyo, norte do país, mas ainda está em fase de testes. A fábrica tem uma capacidade de produção de 5,2 milhões de toneladas de LNG por ano.
Foto: DW/Renate Krieger
Para acabar com a dependência do petróleo...
A diversificação da economia poderia ser uma solução, diz o Fundo Monetário Internacional (FMI). O governo angolano criou um fundo soberano do petróleo para investir no país e no estrangeiro, e para ter uma reserva caso haja oscilações no preço do chamado "ouro negro". Uma alternativa, segundo especialistas, poderia ser a agricultura, já que o petróleo só deve durar mais 20 ou 30 anos.
Foto: DW/R. Krieger
Angola atrai estrangeiros
Vêem-se muitas placas em chinês e empresas chinesas em Angola. Os chineses são a maior comunidade estrangeira no país. Em seguida, vêm os portugueses, que em parte fogem à crise económica europeia. Depois, os brasileiros, por causa da proximidade cultural. Todos querem uma parte da riqueza angolana ou investem na reconstrução do país.
Foto: DW/R. Krieger
Homem X Asfalto
Para o educador Fernando Pinto Ndondi, o governo angolano deveria investir "no homem e não no asfalto". Há cinco anos, Fernando e sua famíla foram desalojados da ilha de Luanda por causa da construção de uma estrada. Agora vivem nestas casas precárias. O governo constrói novas casas para a população. Porém, os preços, a partir de 90 mil dólares, são altos demais para a maior parte dos angolanos.
Foto: DW/Renate Krieger
Para onde vai o dinheiro?
O que aconteceu com 32 mil milhões de dólares lucrados pela empresa petrolífera estatal angolana Sonangol entre 2007 e 2011? Um relatório do FMI constatou, em 2011, que faltava essa soma nos cofres públicos. A Sonangol diz ter investido o dinheiro em infraestrutura. Elias Isaac, da Open Society, diz que o governo disponibiliza mais informações – o que "não é sinônimo de transparência".