Decisões do novo Presidente angolano "reanimam a esperança".
Lusa | ar
21 de novembro de 2017
Histórico do MPLA, Ambrósio Lukoki apela à saída de José Eduardo dos Santos da presidência do partido e considera que decisões do novo chefe de Estado "reanimam a esperança".
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Antigo embaixador, ministro e membro, durante 40 anos, até 2016, do comité central do MPLA, partido que governa Angola desde 1975, Ambrósio Lukoki convocou a imprensa, em Luanda, esta terça-feira (21.11.) para apelar à saída do ex-chefe de Estado José Eduardo dos Santos.
"Pela credibilidade republicana, ética e moral, convém José Eduardo dos Santos demitir-se de imediato do posto de presidente do partido MPLA", apontou. Desde que tomou posse, a 26 de setembro, na sequência das eleições gerais angolanas de 23 de agosto, João Lourenço procedeu a exonerações de várias administrações de empresas estatais, dos setores de diamantes, minerais, petróleos, comunicação social, banca comercial pública e Banco Nacional de Angola, anteriormente nomeadas por José Eduardo dos Santos.
Decisão mais mediática
A exoneração de Isabel dos Santos, filha do ex-chefe de Estado, do cargo de presidente do conselho de administração da petrolífera estatal Sonangol, aconteceu na quarta-feira passada (15.11.) e foi a decisão mais mediática, seguindo-se a polícia e as chefias militares.
José Eduardo dos Santos anunciou em 2016 que pretendia abandonar a vida política em 2018, mas nesse mesmo ano recandidatou-se, de novo, à liderança do MPLA, renovando o mandato de cinco anos."Neste momento, as principiais iniciativas de João Lourenço, Presidente da República de Angola, acolhem os bons sentimentos dos militantes de base do partido MPLA, reanimando a sua esperança na reviravolta dos recuos que se têm sucedido nas eleições", afirma, por seu turno, Ambrósio Lukoki.
'José Eduardismo' deve acabar definitivamente
Crítico de José Eduardo dos Santos, o que o levou a pedir a retirada do nome da lista candidata ao comité central no congresso de 2016, Lukoki vai ainda mais longe, assumindo que é necessário "acabar com [o] 'José Eduardismo' para sempre".
"O 'José Eduardismo' é o tal reinado com absolutismo de quase 40 anos, é a tal tomada de refém do povo angolano, é o tal regime de corrupção objeta, que como regime profundamente corrompido, corrompe cada vez mais e espalha a corrupção aos bajuladores, assim como a prática do nepotismo, a tal falta de respeito ao povo e cinicamente considera o povo angolano de idiota", acusa ainda o histórico do MPLA.
Ainda na última reunião ordinária do comité central do partido, realizada a 23 de outubro, José Eduardo dos Santos viu o partido aprovar-lhe uma declaração de apoio.Desde o congresso do partido, em agosto de 2016, que João Lourenço assumiu a vice-presidência do MPLA, mas, além da não recandidatura ao cargo de chefe de Estado, nas eleições gerais deste ano, José Eduardo dos Santos nunca chegou a esclarecer os moldes que pretendia deixa a vida política.
"O partido MPLA dá a impressão de não ter projetos concretizáveis para além das suas pretensões ou ambições desconectadas da situação de Angola em renovação. Se a refundação significa somente uma preservação, então, para o partido MPLA, vira o tempo de evaporação", alertou ainda Ambrósio Lukoki.
Nova estratégia do MPLA
Para o nacionalista e histórico do MPLA, o partido necessita de uma "estratégia bem articulada", um candidato presidenciável "e sobretudo um líder na capacidade de o encarnar".
"Pelo que é muito imperioso ao nível do partido MPLA legitimar e legalizar o Presidente João Lourenço na plenitude do seu voto citadino que mereceu da parte do eleitorado do povo angolano soberano", concluiu.
José Eduardo dos Santos deixará saudades?
Dos Santos anunciou no início de 2017 que deixará o poder ao fim de 38 anos. Será que os angolanos terão saudades? Os comícios e as manifestações no país e fora de Angola nos últimos anos não deixam chegar a um consenso.
Foto: Getty Images/AFP/A. Pizzoli
Setembro de 2008 - Luanda
Este comício do MPLA em Kikolo, Luanda, foi assistido por milhares de pessoas durante a campanha para as eleições de 2008, as primeiras em 16 anos. O MPLA obteve 82% dos votos, tendo conquistado 191 dos 220 lugares da Assembleia Nacional de Angola.
Foto: picture-alliance/ dpa
Março de 2011 - Angola
No entanto, e apesar da maioria conseguida nas eleições de 2008, nos anos seguintes realizaram-se várias manifestações, em Angola, e não só, contra o Governo. A 7 de março de 2011, teve início no país uma onda de manifestações inspiradas na Primavera Árabe. Na organização destas manifestações estava o Movimento Revolucionário de Angola, também conhecido como "revús".
Foto: picture-alliance/dpa
Março de 2011 - Londres
No mesmo dia (7 de março), cerca de 30 pessoas sairam às ruas em Londres para protestar contra o Presidente José Eduardo dos Santos. Os manifestantes exigiram a saída do pai de Isabel dos Santos gritando "Zédu fora!" e "Zé tira o pé".
Foto: Huck
Fevereiro de 2012 - Benguela
Em 2012, ano de eleições no país, o número de manifestações organizadas pelos não apoiantes de José Eduardo dos Santos continuou a crescer. O protesto retratado na fotografia teve lugar em Benguela, a 13 de fevereiro. "O povo não te quer", gritaram os manifestantes.
Foto: DW
Junho de 2012 - Luanda
A 23 de maio de 2012, o presidente angolano anuncia que as eleições legislativas se irão realizar a 31 de agosto. Sensivelmente um mês depois, a 23 de junho, o Estádio 11 de Novembro, em Luanda, encheu-se de militantes e simpatizantes do MPLA para aplaudir José Eduardo dos Santos e apoiar a sua candidatura.
Foto: Quintiliano dos Santos
Julho de 2012 - Viana
Cartazes a favor de dos Santos num comício da campanha para as eleições de 2012 em Viana, arredores de Luanda. A 31 de agosto, o MPLA vence as eleições com mais de dois terços dos votos. Depois de uma mudança da Constituição, o Presidente já não é eleito diretamente, mas sim indiretamente nas legislativas. Como cabeça de lista do MPLA, José Eduardo dos Santos é eleito Presidente de Angola.
Foto: Quintiliano dos Santos
Maio de 2015 - Benguela
Nos anos seguintes continuaram os protestos contra o Presidente. Foram-se somando episódios de violência e detenções. 2015 torna-se-ia um ano complicado no que às críticas a JES diz respeito. No aniversário do "27 de maio", em Benguela, por exemplo, 13 ativistas foram detidos minutos depois de começarem um protesto. No mesmo dia, também houve detenções em Luanda.
Foto: DW/N. Sul d'Angola
Junho de 2015 - Luanda
Em junho de 2015, tem início um dos episódios da governação de José Eduardo dos Santos mais criticados. 15 ativistas angolanos, entre eles Luaty Beirão, foram detidos sob acusação de planeaream um golpe de Estado. Para além de terem despoletado muitas manifestações, estas detenções tiveram mediatismo um pouco por todo o mundo devido às greves de fome levadas a cabo por muitos dos detidos.
Foto: DW/P. Borralho
Julho de 2015 - Lisboa
No dia 17 de julho realizou-se, em Lisboa, a primeira manifestação em Portugal a favor da libertação destes jovens. "Basta de repressão em Angola", ouviu-se na capital portuguesa. Dias mais tarde, em Luanda, a polícia reagiu violentamente contra algumas dezenas de manifestantes que protestaram no Largo da Independência.
Foto: DW/J. Carlos
Agosto de 2015 - Luanda
A 2 de agosto e sob o lema "liberdade já", cerca de 200 pessoas, entre as quais vários artistas angolanos - poetas, políticos, atores e artistas plásticos - juntaram-se, em Luanda, para pedir a libertação dos 15 ativistas angolanos detidos. Sanguinário, Flagelo Urbano, Toti, Jack Nkanga, Sábio Louco, Zwela Hungo, Mona Diakidi, Dinameni, Fat Soldie e MCK foram alguns dos artistas presentes.
Foto: DW
Agosto de 2015 - Luanda
Dias mais tarde foi a vez das mães dos ativistas se fazerem ouvir. Nas ruas de Luanda, pediram a libertação dos seus filhos, mesmo depois da manifestação ter sido proibida pelo Governo.
Foto: DW/P. Ndomba
Agosto de 2015 - Lisboa
Nem no dia do seu aniversário (28 de agosto), José Eduardo dos Santos teve "descanso". Cidadãos descontentes, quer em Lisboa, quer em Angola, voltaram às ruas. Na capital portuguesa, voltou a pedir-se liberdade para os ativistas. Exigiu-se ainda liberdade de movimento, de pensamento, de expressão e de imprensa em Angola.
Foto: DW/J. Carlos
Novembro de 2015 - Luanda
No dia em que se celebraram os 40 anos da independência de Angola, proclamada a 11 de novembro de 1975, pelo então Presidente António Agostinho Neto, vários jovens voltaram a fazer ouvir-se. 12 manifestantes foram detidos.
Foto: DW/M. Luamba
Março de 2017 - Cazenga
No início de 2017, José Eduardo dos Santos anunciou a saída da Presidência. O cabeça-de-lista do MPLA às eleições gerais deste ano será o atual ministro de Defesa João Lourenço. O candidato foi recebido por centenas de apoiantes naquele que foi o seu primeiro ato de massas da pré-campanha, no município do Cazenga, em Luanda, a 4 de março.