Acordo comercial em África duplicará trocas no continente
Lusa
31 de dezembro de 2020
A Área de Livre Comércio Continental Africana (ALCCA) entra em vigor nesta sexta-feira (1.1) e promete duplicar o comércio no continente em 20 anos. O acordo inclui todos os países lusófonos em África.
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"As trocas de bens ao abrigo do acordo sobre a ALCCA arrancam no dia 01 de janeiro, começando pelas concessões acordadas nas tarifas e as regras de origem, entre outras", disse à agência de notícias Lusa o coordenador do Centro de Política Comercial Africana na Comissão Económica das Nações Unidas para África (UNECA), David Luke.
As previsões da UNECA apontam para uma duplicação - de 15% para 30% - dos bens transacionados no continente até 2040, dependendo do grau de liberalização, acrescentou o responsável, apontando os setores de têxteis, roupa, peles, madeira e papel, além de veículos e equipamento de transporte, produtos eletrónicos e metais como os mais beneficiados em termos de aumento do comércio regional.
O comércio livre entre os países africanos, acordado pela grande maioria dos países africanos, incluindo todos os lusófonos, "vai apenas começar entre os países que submeteram a lista de tarifas e concessões abrangidas, mas nem todos estes têm os seus processos alfandegários prontos, pelo que alguns vão usar o modelo de reembolso de tarifas que será feito posteriormente", explicou David Luke.
Taxas alfandegárias
O objetivo é que as taxas alfandegárias sobre 90% dos produtos trocados entre os países signatários da ALCCA sejam reduzidas progressivamente até serem completamente eliminadas em 10 anos para os países menos desenvolvidos e cinco anos para os restantes, acrescentou o responsável, notando que a entrada em vigor da ALCCA incide apenas sobre os bens e não sobre os serviços, cujas negociações ainda decorrem.
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Questionado sobre a importância de um acordo que muitos classificam de histórico e com potencial de transformar a economia africana, David Luke respondeu: "Os produtos manufaturados e alimentares dominam o comércio intra-africano e, pelo contrário, as exportações para o resto do mundo são dominadas pelas matérias-primas, o que nos dá razões para acreditar que através da redução e remoção das tarifas alfandegárias e outras, ao abrigo da ALCCA, o continente vai ser capaz de aumentar o seu setor industrial".
O "que é fundamental para transformar estruturalmente a sua economia", frisou.
Pandemia de Covid-19 "expôs vulnerabilidades"
Além disso, notou, a pandemia de Covid-19 "expôs as vulnerabilidades da dependência dos países africanos dos seus parceiros comerciais no resto do mundo, nomeadamente nas importações de alimentos, produtos farmacêuticos, combustíveis e maquinaria".
E, acrescentou David Luke, "demonstrando que existe uma necessidade crítica para o desenvolvimento de uma cadeia regional de valor e aumento da industrialização interna e regional para os países africanos poderem aumentar a sua resiliência a choques no futuro".
A redução das tarifas pode também aumentar o valor do comércio intra-africano entre 15 a 25% nas próximas duas décadas, o que pode significar um significativo aumento dos ganhos nos setores agroalimentar e da indústria.
Ainda assim, há muitos ganhos que não são mensuráveis, considerou a UNECA, salientando que "as políticas que forem para além da redução de tarifas vão maximizar os ganhos da ALCCA", que contribuirá também para "a reestruturação económica dos setores africanos, tornando a industrialização e a exportação mais produtiva".
O acordo de livre comércio em África cria um mercado único de 1,3 mil milhões de pessoas com um Produto Interno Bruto de 3,4 mil milhões de dólares, o equivalente a cerca de 2,7 mil milhões de euros, e abrange a grande maioria dos países africanos.
África em 2021: Ano novo, vida nova... ou nem por isso?
A luta contra a Covid-19, eleições em vários países, conflitos não resolvidos e a maior zona de comércio livre do mundo. Eis a agenda que irá marcar o ano de 2021 no continente africano.
Foto: Isaac Kasamani/AFP
Lançamento da maior zona de comércio livre do mundo
No primeiro dia de 2021, as economias africanas vão entrar numa nova era: o lançamento oficial da Área de Comércio Livre Continental Africana (AfCFTA). Será criada nos próximos meses e anos a maior zona de comércio livre do mundo, semelhante ao mercado único europeu. Os peritos acreditam que o acordo tem um enorme potencial, mas a pandemia de Covid-19 está a dificultar a sua implementação.
Foto: Getty Images/AFP/S. Kambou
"Showdown" político no Uganda
Operações policiais contra a oposição, tiroteios, protestos com dezenas de mortos: As imagens da campanha eleitoral do Uganda estão a causar preocupação em todo o mundo. A 14 de Janeiro, o povo vai votar entre o Presidente no poder desde 1986, Yoweri Museveni, e o músico, Robert Kyagulanyi, também conhecido por Bobi Wine. No entanto, os analistas duvidam que as eleições sejam livres e justas.
Foto: Lubega Emmanuel/DW
Ano fatídico no Corno de África
Estarão os etíopes unidos após a campanha do governo contra a Frente Popular de Libertação do Tigray (TPLF)? Ou será que o país se vai dividir devido aos seus muitos conflitos internos? 2021 poderá determinar se o primeiro-ministro, Abiy Ahmed Ali, pode trazer um equilíbrio democrático à Etiópia. Há eleições (ainda sem data definida) para o início do verão.
Foto: Amanuel Sileshi/AFP
Crises de refugiados
Uma consequência do conflito em Tigray é clara: dezenas de milhares de pessoas fugiram da região para o Sudão, cujo governo recém-criado está a lutar pelo sustento dos deslocados. Noutros lugares, também se teme que os conflitos em curso em 2021 conduzam a novas crises de refugiados e deixem as antigas por resolver: nos Camarões, no norte da Nigéria e na República Democrática do Congo.
Foto: Mohamed Nureldin Abdallah/REUTERS
Eleições num ambiente difícil
Uganda, Etiópia, Benim, Somália, Sul do Sudão, Zâmbia, Cabo Verde, Chade e Gâmbia elegerão novos chefes de Estado ou governo em 2021. Enquanto em alguns lugares se espera que as eleições sejam comparativamente calmas, a situação na Somália e no Sul do Sudão, por exemplo, já está tensa devido à difícil situação de segurança no terreno.
Foto: Cellou Binani/AFP
Esperança na vacina para a Covid-19
Embora os países africanos estejam a atravessar a pandemia melhor do que o esperado, as consequências sanitárias e económicas são inúmeras. As vacinas alimentam esperanças, mas África ainda não está preparada para a "maior campanha de vacinação de sempre", disse Matshidiso Moeti, da OMS. Os peritos não esperam que a vacinação comece antes de meados de 2021, devido a dificuldades logísticas.
Foto: picture-alliance/AP Photo/S. Mednick
O corte da dívida será uma realidade?
As consequências da pandemia não desaparecerão, mesmo após uma imunização bem sucedida: o iminente incumprimento soberano de alguns países africanos. Embora o G-20 tenha iniciado o alívio da dívida no início da crise, as ONG estão a pedir um corte abrangente da dívida para amortecer as consequências humanitárias da crise da Covid-19.
Foto: Getty Images/AFP/T. Karumba
A crise climática em África
Secas, pragas de gafanhotos, inundações: nenhum continente sofre tanto com a crise climática como África. Mas jovens ativistas como Vanessa Nakate (foto), do Uganda, já não querem aceitar o serviço pago pelo norte global. Ela está a lutar para que o seu continente seja ouvido. Um exemplo será a Cimeira Mundial das Nações Unidas sobre o Clima, que deverá ter lugar em novembro de 2021.