Acordo de Livre Comércio para África sem muito sucesso
Martina Schwikowski
28 de dezembro de 2021
Um ano depois de entrar em vigor, o acordo de livre comércio para África tem pouco sucesso. A pandemia contribui para a interrupção das cadeias de transporte de produtos. Mas a digitalização está a ter sucessos.
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O acordo de livre comércio africano está, de facto, a preparar-se para comemorar o seu aniversário, pois foi a 1 de janeiro de 2021 que 54 Estados membros assinaram o acordo sobre a "Área de Livre Comércio Continental da África" (AfCFTA, na sigla inglesa). Apenas a Eritreia não aderiu ao acordo, através do qual os chefes de Governo esperavam intensificar o comércio dentro de África e, portanto, criar mais prosperidade e igualdade social para os povos.
Os efeitos práticos do acordo ainda são reduzidos após o curto período de tempo, diz Matthias Boddenberg, chefe da Câmara de Comércio e Indústria Alemã para a África Austral em Joanesburgo. A pandemia de Covid-19 teve efeitos negativos, sobretudo no que diz respeito ao funcionamento das cadeias de transporte de produtos.
O grande potencial
Heiko Schwiderowski, especialista em África da Câmara de Comércio e Indústria Alemã (DIHK), em entrevista à DW África, afirma que ainda é cedo para fazer um balanço sobre a Área de livre Comércio em África. Schwiderowski prefere falar do potencial de um mercado africano único e unido, tanto para os países africanos, como para economias orientadas para a exportação, como a alemã.
"Com 1.300 milhões de habitantes, a zona de livre comércio da África oferece um grande potencial para as empresas alemãs", referiu Schwiderowski.
Segundo o especialista há ainda grandes esperanças de que os 54 países cresçam juntos para formar um mercado único. Schwiderowski afirma que, em 2021, "o comércio alemão com os países africanos se desenvolveu positivamente: as importações da África para a Alemanha provavelmente aumentarão 40%, as exportações da Alemanha para a África cerca de 20%."
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Impulso digital
A pandemia do coronavírus trouxe bastantes problemas para o comércio. No entanto, a crise também teve uma vantagem: o fluxo de informações é melhor graças ao impulso digital, o que contribuiu para que muitos projetos tivessem sido implementados mais rapidamente do que previsto. O comércio intra-africano está a ser promovido por novos instrumentos digitais que melhoraram a logística e os procedimentos alfandegários, dizem os especialistas.
Um ano após o início do acordo de livre comércio, ficou claro que o ponto de partida em janeiro passado foi principalmente um ato simbólico, afirma Christoph Kannengießer, diretor-gerente da associação de empresas alemãs com relações com África, a "Afrika Verein", em entrevista à DW.
"Este mercado será o maior do mundo em termos de número de participantes. Trata-se de um mercado em crescimento, com um produto interno bruto de 2,5 mil milhões de dólares, um valor considerável", disse Kannengießer.
África em 2021: Ano novo, vida nova... ou nem por isso?
A luta contra a Covid-19, eleições em vários países, conflitos não resolvidos e a maior zona de comércio livre do mundo. Eis a agenda que irá marcar o ano de 2021 no continente africano.
Foto: Isaac Kasamani/AFP
Lançamento da maior zona de comércio livre do mundo
No primeiro dia de 2021, as economias africanas vão entrar numa nova era: o lançamento oficial da Área de Comércio Livre Continental Africana (AfCFTA). Será criada nos próximos meses e anos a maior zona de comércio livre do mundo, semelhante ao mercado único europeu. Os peritos acreditam que o acordo tem um enorme potencial, mas a pandemia de Covid-19 está a dificultar a sua implementação.
Foto: Getty Images/AFP/S. Kambou
"Showdown" político no Uganda
Operações policiais contra a oposição, tiroteios, protestos com dezenas de mortos: As imagens da campanha eleitoral do Uganda estão a causar preocupação em todo o mundo. A 14 de Janeiro, o povo vai votar entre o Presidente no poder desde 1986, Yoweri Museveni, e o músico, Robert Kyagulanyi, também conhecido por Bobi Wine. No entanto, os analistas duvidam que as eleições sejam livres e justas.
Foto: Lubega Emmanuel/DW
Ano fatídico no Corno de África
Estarão os etíopes unidos após a campanha do governo contra a Frente Popular de Libertação do Tigray (TPLF)? Ou será que o país se vai dividir devido aos seus muitos conflitos internos? 2021 poderá determinar se o primeiro-ministro, Abiy Ahmed Ali, pode trazer um equilíbrio democrático à Etiópia. Há eleições (ainda sem data definida) para o início do verão.
Foto: Amanuel Sileshi/AFP
Crises de refugiados
Uma consequência do conflito em Tigray é clara: dezenas de milhares de pessoas fugiram da região para o Sudão, cujo governo recém-criado está a lutar pelo sustento dos deslocados. Noutros lugares, também se teme que os conflitos em curso em 2021 conduzam a novas crises de refugiados e deixem as antigas por resolver: nos Camarões, no norte da Nigéria e na República Democrática do Congo.
Foto: Mohamed Nureldin Abdallah/REUTERS
Eleições num ambiente difícil
Uganda, Etiópia, Benim, Somália, Sul do Sudão, Zâmbia, Cabo Verde, Chade e Gâmbia elegerão novos chefes de Estado ou governo em 2021. Enquanto em alguns lugares se espera que as eleições sejam comparativamente calmas, a situação na Somália e no Sul do Sudão, por exemplo, já está tensa devido à difícil situação de segurança no terreno.
Foto: Cellou Binani/AFP
Esperança na vacina para a Covid-19
Embora os países africanos estejam a atravessar a pandemia melhor do que o esperado, as consequências sanitárias e económicas são inúmeras. As vacinas alimentam esperanças, mas África ainda não está preparada para a "maior campanha de vacinação de sempre", disse Matshidiso Moeti, da OMS. Os peritos não esperam que a vacinação comece antes de meados de 2021, devido a dificuldades logísticas.
Foto: picture-alliance/AP Photo/S. Mednick
O corte da dívida será uma realidade?
As consequências da pandemia não desaparecerão, mesmo após uma imunização bem sucedida: o iminente incumprimento soberano de alguns países africanos. Embora o G-20 tenha iniciado o alívio da dívida no início da crise, as ONG estão a pedir um corte abrangente da dívida para amortecer as consequências humanitárias da crise da Covid-19.
Foto: Getty Images/AFP/T. Karumba
A crise climática em África
Secas, pragas de gafanhotos, inundações: nenhum continente sofre tanto com a crise climática como África. Mas jovens ativistas como Vanessa Nakate (foto), do Uganda, já não querem aceitar o serviço pago pelo norte global. Ela está a lutar para que o seu continente seja ouvido. Um exemplo será a Cimeira Mundial das Nações Unidas sobre o Clima, que deverá ter lugar em novembro de 2021.