O Presidente moçambicano, Filipe Nyusi, e o líder da RENAMO, Afonso Dhlakama, discutiram este domingo (06.08), na Gorongosa, os próximos passos do processo de paz, que esperam ver concluído até finais de 2017.
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Filipe Nyusi deslocou-se pessoalmente à Gorongosa, província central de Sofala, para se encontrar com o líder do maior partido da oposição. No encontro, os dois líderes "discutiram e acordaram sobre os próximos passos no processo de paz, que esperam que seja concluído até finais do ano", lê-se no comunicado divulgado pela presidência moçambicana.
Nyusi e Dhlakama acordaram igualmente que iriam manter o diálogo e acompanhar de perto o trabalho das comissões conjuntas criadas pelas duas partes, visando um novo encontro em breve, para preparar os passos finais. As duas comissões foram criadas no início de fevereiro pelos dois líderes para abordar questões militares e de descentralização.
Acordo de paz em Moçambique até ao final do ano?
O Presidente da República e o líder da RENAMO têm realizado contactos telefónicos regulares para o alcance de consensos para uma paz definitiva no país.
Estes contactos culminaram já com o estabelecimento de uma trégua no conflito militar em dezembro de 2016, que está a ser observada até ao momento. As duas partes criaram ainda equipas conjuntas para monitorizar a implementação da trégua.
Abertos ao diálogo
Para o analista Lázaro Bamo, os mecanismos que estão a ser usados pelo chefe de Estado estão a mostrar-se eficazes. "Temos aqui a materialização daquilo que é a promessa do próprio Presidente de tudo fazer para trazer de volta a paz no seio dos moçambicanos", destaca.
O analista lembra que, nos últimos dias, Filipe Nyusi visistou a província de Manica, onde fez apelos à paz. "Ele até chegou a dizer em Machipanda que a palavra guerra não devia fazer parte do nosso dicionário. Obviamente, estava a dizer que não podemos trocar o diálogo pela via da violência ou a via das armas", conclui.
Por outro lado, salienta Lázaro Bamo, também Afonso Dhlakama está a mostrar abertura para o diálogo e para a paz. "Há quem olhe para esta abertura, sobretudo do líder da RENAMO, como uma espécie de submissão em relação ao Governo, mas não. O próprio líder da RENAMO já disse que não queria passar a sua vida no mato e não queria passar a sua vida em guerra", salienta.
Do encontro deste domingo "saíram algumas projecções que aumentam a certeza e o otimismo de que, até ao final do ano, poderemos ter efectivamente a paz definitiva", destaca ainda o analista.
Moçambique: centenas de pessoas marcham contra a situação política e económica
Centenas de moçambicanos marcharam no dia 18 de junho de 2016 em Maputo contra a situação política e económica do país. A manifestação foi convocada pela sociedade civil para exigir esclarecimentos ao Governo.
Foto: picture alliance/dpa/A. Silva
Pela Avenida Eduardo Mondlane rumo à Praça da Independência
"Pelo direito à esperança" foi o mote da manifestação que reuniu centenas de pessoas no centro de Maputo, no sábado dia 18 de junho de 2016. Os manifestantes exigem o fim do conflito político-militar entre o Governo da Frente de Libertação de Moçambique (FRELIMO) e a Resistência Nacional Moçambicana (RENAMO), o esclarecimento da dívida pública e mais liberdade de expressão.
Foto: picture alliance/dpa/A. Silva
"A intolerância política mata a democracia"
Em entrevista à DW África, Nzira de Deus, do Fórum Mulher, uma das organizações envolvidas, afirma que a liberdade dos moçambicanos tem sido muito limitada nos últimos meses. "É preciso deixar de intimidar as pessoas, deixarem as pessoas se expressarem de maneira diferente, porque eu acho que é isso que constrói o país. Não pode haver ameaças, não pode haver atentados", diz Nzira.
Foto: DW/L. Matias
De preto ou branco, manifestantes pedem paz
Com camisolas pretas e brancas e cartazes com mensagens de protesto, centenas de moçambicanos mostram o seu repúdio à guerra entre o Governo e a RENAMO, às dívidas ocultas e às valas comuns descobertas no centro do país. Num percurso de mais de dois quilómetros, entoaram cânticos pela liberdade e pela transparência.
Foto: DW/L. Matias
"Valas comuns são vergonha nacional"
Recentemente, foram descobertas valas comuns na zona central de Moçambique. Uma comissão parlamentar enviada ao local para averiguações nega a sua existência. Alguns dos corpos encontrados foram sepultados sem ter sido feita uma autópsia, o que dificulta o conhecimento das causas das suas mortes.
Foto: DW/L. Matias
"É necessário haver um diálogo político honesto e sincero"
Nzira de Deus considera que a crise política que Moçambique enfrenta prejudica a situação do país e defende que “haja um diálogo político honesto e sincero e que se digam quais são as questões que estão em causa". Para além da questão da dívida e da crise política, os manifestantes estão preocupados com as liberdades de expressão e imprensa.
Foto: DW/L. Matias
Ameaças não vão amedrontar o povo
No manifesto distribuído ao público e lido na estátua de Samora Machel, na Praça da Independência, as organizações da sociedade civil exigiram à Procuradoria-Geral da República uma auditoria forense à dívida pública. "Nós queremos que o ex-Presidente [Armando Guebuza] e o seu Governo respondam por estas dívidas", declarou Alice Mabota, acrescentando que as ameaças não vão "amedrontar o povo".
Foto: DW/L. Matias
Sociedade Civil presente
A manifestação foi convocada por onze organizações da sociedade civil moçambicana. Entre as ONGs que organizaram a marcha encontram-se a Liga dos Direitos Humanos (LDH), o Instituto de Estudos Sociais e Económicos (IESE), o Observatório do Meio Rural, o Fórum Mulher e a Rede HOPEM.