Costa Júnior em Cabinda: "A paz deve abranger a todos"
Simão Lelo
9 de junho de 2022
Líder da UNITA considera que Cabinda ainda tem vários desafios por resolver, e um deles refere-se à falta de paz. De visita à província, Adalberto Costa Júnior também criticou o ambiente pré-eleitoral em Angola.
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No cumprimento da agenda de trabalho do seu partido, Adalberto Costa Júnior, presidente da União para Independência Total de Angola (UNITA), chegou à província de Cabinda na tarde desta quinta-feira (09.06).
O líder do maior partido da oposição em Angola disse que durante a sua visita ouvirá as mais diversas sensibilidades, por considerar que ainda falta muito por fazer no enclave.
Falando aos seus militantes, Costa Júnior frisou que "a província de Cabinda enfrenta vários desafios por resolver e fundamentalmente o desafio da estabilidade e da paz que deve abranger a todos sem nenhuma exceção".
Região autónoma
Durante o comício de abertura da pré-campanha eleitoral da UNITA e da aliança da oposição Frente Patriótica Unida (FPU), em Luanda, Adalberto Costa Júnior defendera a criação de uma região autónoma em Cabinda.
Integrantes da sociedade civil em Cabinda reagiram com ceticismo a estas considerações, que suspeitam não passar de propaganda eleitoral.
O político respondeu aos seus críticos: "É verdade que houve uma fação da FLEC [Frente de Libertação do Enclave de Cabinda], que fez uma reflexão. Mas a par dessa, imediatamente também houve uma série de pessoas que concordou com a nossa proposta por entender que ela é positiva e responsável. Esta sempre foi a vontade da UNITA, até porque a UNITA sempre foi muito aberta. Portanto, essa proposta não é nova, mas sim foi reafirmada".
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UNITA coloca expectativas em Cabinda
O líder da oposição acredita que a UNITA terá bons resultados nas eleições, uma vez que os cidadãos estão descontentes com a situação atual, muito marcada pela exclusão. Por isso, foi mobilizar votos em Cabinda.
"Eu tenho de facto uma forte esperança que nós vamos poder ter um excecional resultado em Cabinda. Por todas as razões possíveis. Pela nossa postura, pelas propostas e abertura que temos e porque nós estamos determinados a virar a página desta Angola que não tem ainda uma verdadeira inclusão no seu todo e sobretudo uma paz que tarda para chegar a Cabinda", disse o líder da oposição aos seus apoiantes cabindenses.
Cabinda: "Medo, isso é coisa do passado!"
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Ambiente pré-campanha
Adalberto Costa Júnior aproveitou a ocasião para criticar as circunstâncias em que ocorre a abordagem a estas eleições .
De acordo com o presidente da UNITA, o "ambiente democrático" da pré-campanha eleitoral "não é bom".
"As garantias de transparência não existem, o tratamento igual tarda a chegar, mas ainda assim, nós vamos continuar a ser atores de transparência e de diálogo e realizar a alternância que tanto se espera", afirmou.
Após vários encontros com líderes políticos e religiosos de Cabinda nos dois próximos dias, para sábado Adalberto Costa Júnior agendou um comício no estádio do Chiweca, que deverá encerrar a sua agenda na província mais ao norte de Angola.
Artivismo: a arte política de André de Castro
O papel político da arte é o mote de "Liberdade Já", a exposição do artista brasileiro André de Castro que lembra, entre outros ativistas, os presos políticos angolanos.
Foto: MUXIMA/A. Ludovice
"Liberdade Já" em serigrafia
A arte pode ter uma missão política - é o que prova esta exposição de André de Castro, a primeira mostra a solo do artista visual brasileiro na Europa. Este primeiro painel à entrada da exposição, em Lisboa, é um tributo aos presos políticos angolanos. O autor deu-lhe o título de "Liberdade Já", slogan que alimentou o movimento de solidariedade internacional pela libertação dos ativistas.
Foto: MUXIMA/A. Ludovice
Debate sobre política internacional
Tanto este projeto "Liberdade Já" (2015) como "Movimentos" (2013-2014) tiveram repercussão mundial. O artista brasileiro destaca, através das suas obras, os jovens presos políticos de Angola, libertados em 2016. As suas imagens acabam por incentivar o debate sobre acontecimentos políticos internacionais.
Foto: MUXIMA/Andrea Ludovice
Os "revús" compõem o painel…
O artista compõe o painel com "monoprints" em serigrafias repetidas. Aqui podem ver-se alguns dos jovens angolanos presos em Luanda, em 2015, por discutirem um livro sobre métodos pacíficos de protesto. Luaty Beirão, Domingos da Cruz, Nuno Álvaro Dala, Nito Alves, Benedito Jeremias e Nelson Dibango, entre outros, foram julgados pelo crime de atos preparatórios para a prática de rebelião.
Foto: DW/J. Carlos
… e multiplicam-se pelo mundo digital
O luso-angolano Luaty Beirão foi escolhido como símbolo do ativismo político, dando força à exposição, com a curadoria da Muxima. Os retratos multiplicaram-se no mundo digital, foram reproduzidos em t-shirts e posters. A venda das serigrafias expostas em mostras coletivas em Lisboa e Nova Iorque, em 2016, reverteu integralmente a favor das famílias dos presos políticos angolanos.
Foto: DW/J. Carlos
Além de Angola...
Em dezembro, André de Castro comemorou com as irmãs a abertura da exposição em Lisboa, que também apresenta rostos de ativistas como José Marcos Mavungo, advogado e ativista de Cabinda. Além de Angola, o artista desafia os visitantes a revisitar o movimento da Primavera Árabe. Dá a conhecer as pessoas e as suas lutas, propondo um ângulo mais pessoal e humano na narração do momento histórico.
Foto: MUXIMA/Andrea Ludovice
Arte como ator social
No interesse do público e das comunidades, o artista brasileiro assume ser um promotor social. "Ao expor 'Movimentos' e 'Liberdade Já' juntos, a mostra permite um recorte da arte como ator social, questionando intenção, receção, apropriação e estética nas ruas e na internet", afirma André de Castro. É o que mostra a coleção "Movimentos", colocada na outra parede da sala.
Foto: MUXIMA/Andrea Ludovice
Coragem para mudar o mundo
Nesta segunda parede, André de Castro imortaliza várias causas em diversas partes do mundo. São mulheres e homens que recusam aceitar a forma como são tratados pelos respetivos Estados. Acreditam, tal como o autor da exposição, que o mundo pode ser muito melhor. Por isso, com coragem, decidiram sair à rua.
Foto: MUXIMA/Andrea Ludovice
Identidade política dos manifestantes…
Este primeiro projeto de André de Castro, em 2013, foi selecionado para a 11ª Bienal Brasileira de Design Gráfico e visto por mais de 40 mil visitantes, passando por Miami (2013), Nova Iorque (2014) e Brasília (2015). As serigrafias, que resultam de entrevistas realizadas através das redes sociais, retratam as identidades políticas dos manifestantes de diferentes países.
Foto: DW/J. Carlos
… e cultura das manifestações
Através das serigrafias, o artista procurou valorizar a força da ação individual dos manifestantes. Cada participante enviou uma foto de rosto, usando as redes sociais, e respondeu a uma série de perguntas sobre a sua identidade política. Assim, foram criados retratos políticos individuais que, em conjunto, formam uma mini etnografia da cultura material e imaterial das manifestações.
Foto: DW/J. Carlos
Do outro lado do mundo
Em Nova Iorque, no Zuccotti Park, a sugestão original foi ocupar Wall Street, símbolo dos capitais financeiros internacionais. Porque, afinal, foi a especulação de capitais que deu origem à crise que atormentou o mundo há anos. Questiona Daniel Aarão Reis, ao apresentar a exposição: "Como aceitar que os responsáveis não ficassem com o fardo principal das medidas de superação desta mesma crise?"
Foto: DW/J. Carlos
Novos dispositivos de mobilização
A arte política de André de Castro, que também evoca figuras como Ghandi e Martin Luther King, faz lembrar a tradição dos grandes movimentos dos anos 1960, que dispensava partidos e sindicatos. Ao invés disso, surgiram novos dispositivos de mobilização e de ação.
Foto: DW/J. Carlos
Espelho D’ Água valoriza as serigrafias
A exposição, que também será posteriormente exibida no Porto (a norte de Portugal), encontra-se no Espaço Espelho D’Água, em Lisboa. A calçada deste espaço, tipicamente portuguesa, foi construída com base numa obra do autodidata artista plástico angolano, Yonamine, que tem vivido em diversos países de África, Europa e América do Sul.