Aeroporto de Nacala: O "elefante branco" de Moçambique
Arlindo Chissale
20 de janeiro de 2019
O Aeroporto Internacional de Nacala é um dos maiores aeroportos de Moçambique, mas quase não tem movimento. Inaugurado em 2014, só está a ter uma utilização de 4% em relação ao que se previa, apesar dos elevados custos.
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Tornar o aeroporto rentável já a partir de 2019 é uma prioridade para Raúl Novinte, o presidente eleito em outubro pela Resistência Nacional Moçambicana (RENAMO) para a autarquia de Nacala, que toma posse em fevereiro. "Primeiramente, eu critiquei a construção deste aeroporto, porque achava que não havia necessidade, visto que 80% da nossa população não sabe o que comer. Como é que iria tomar um voo de Nacala para Maputo?", lembra.
Agora, sublinha, "está ali um elefante branco e não temos onde deitá-lo, mas é necessário capitalizá-lo, porque é uma situação alarmante." O Aeroporto Internacional de Nacala foi inaugurado em dezembro de 2014 e projetado para atender uma média de 500 mil passageiros e manusear cinco mil toneladas de carga por ano. Mas atualmente só chegam ao aeroporto dois voos domésticos por semana.
A conversão de aeroporto militar para comercial foi feita em 23 meses pela companhia brasileira Odebrecht, com um investimento aproximado entre 125 a 200 milhões de dólares. No entanto, as receitas do aeroporto estão longe de ser suficientes para cobrir a dívida astronómica.
O diretor do Aeroporto Internacional de Nacala, José Candrinho, reconhece a situação, mas está otimista que, com uma conjuntura melhor, o aeroporto possa ser melhor aproveitado. "A título de exemplo, um aeroporto como Maputo, de 2015 para 2017, reduziu de um milhão de passageiros para 800 mil passageiros. Se Maputo, que é um aeroporto muito movimentado, reduziu, imaginem como seria um aeroporto novo", sublinha.
A ambiciosa Zona Económica Especial
De 2007 até agora foram aprovados 178 projetos para a cidadela aeroportuária de Nacala, para desenvolver as infraestruturas de apoio ao Aeroporto Internacional - hotéis, unidades residenciais e centros comerciais, entre outros. O investimento está orçado em 5 milhões de dólares.
Aeroporto de Nacala: O "elefante branco" de Moçambique
Os planos para a Zona Económica Especial de Nacala (ZEE) são ambiciosos. Lourenço Sambo, diretor de APIEX - Agência para a Promoção de Investimento e Exportações considera que é fundamental incluir o setor privado.
"É um desafio enorme. Nacala tem que ser de facto o hub, não só em termos aéreos, mas também em termos marítimos."
Segundo o Governo, desde 2009 já foram investidos mais de dois mil e 500 milhões de dólares na Zona Económica Especial de Nacala, na província de Nampula. O objetivo é impulsionar o desenvolvimento da região e gerar mais de 23 mil empregos.
O "boom económico" na cidade de Nampula
Com mais de 60 anos, a cidade de Nampula está em expansão: hotelaria, instituições públicas e melhores vias de comunicação são alguns dos exemplos. Mas há ainda muitos desafios para superar.
Foto: DW/S.Lutxeque
Cidade na rota do desenvolvimento
A cidade de Nampula completa 62 anos de elevação a cidade a 22 de agosto de 2018. Os últimos anos têm testemunhado uma constante em transformação. Novas infraestruturas, como hotéis, centros comerciais, edifícios de serviços públicos, estradas e vias férreas estão a fazer crescer a cidade.
Foto: DW/S.Lutxeque
Mais oferta hoteleira
Nos últimos anos, o setor da hotelaria e turismo é um dos que mais se tem notabilizado, em crescimento e expansão das atividades na cidade de Nampula. Só nos últimos cinco anos, abriram dois grandes hotéis que dão emprego a milhares de moçambicanos. Na foto vê-se o Grand Plaza Hotel, totalmente de capitais moçambicanos e inaugurado em junho passado pelo Presidente da República.
Foto: DW/S.Lutxeque
Novo Palácio da Justiça em Nampula
A cidade recebeu um dos maiores empreendimentos do setor judiciário que acolhe várias instituições, nomeadamente, a Procuradoria, o Serviço Nacional de Investigação Criminal, o Tribunal Judicial, o Instituto de Patrocínio e Assistência Jurídica, e a Administração do próprio Palácio da Justiça. O empreendimento foi construído de raiz e ocupa uma área de mais de dois quilómetros quadrados.
Foto: DW/S.Lutxeque
Centros comerciais desenvolvem economia
Com a descoberta e exploração de vários recursos minerais e naturais na província, muitas empresas, na sua maioria de origem estrangeira, fixam-se em Nampula. Muitas arrendam escritórios em centros comerciais. Um dos exemplos é o Milénio Center, construído nos últimos anos. Fornece serviços de aluguer de escritórios, lojas, cafetarias, estabelecimentos bancários entre outros.
Foto: DW/S.Lutxeque
Proliferação de quiosques "take-away"
Não são só as grandes empresas que contribuem para desenvolver a cidade. Também há um aumento de quiosques que confecionam e vendem produtos na via pública. Desde 2016, só na cidade de Nampula, as autoridades já municipais já licenciaram centenas destes estabelecimentos para o exercício de atividades. Em quase todas ruas existem quiosques, vulgarmente conhecidos por "take-away".
Foto: DW/S.Lutxeque
Mais e melhores estradas na cidade
A reabilitação e construção de estradas, em vários pontos do centro da cidade foi um dos marcos dos últimos cinco anos. Boas estradas são uma necessidade para responder ao aumento do parque automóvel que se vem registando desde a independência do país, sobretudo nos últimos anos.
Foto: DW/S.Lutxeque
Grande investimento em ferrovias
A cidade de Nampula, está localizada ao longo do Corredor de Nacala, considerado o "pulmão" económico da província. É atravessada por uma linha férrea que liga ao distrito de Nacala-a-Velha a Moatize, com passagem pelo vizinho Malawi, numa extensão aproximada de 900 quilómetros. A linha representa um investimento de quase 4 mil milhões de euros.
Foto: DW/S.Lutxeque
Filial do Banco de Moçambique
Na foto vê-se a filial do banco de Moçambique em Nampula. O Banco Central investiu cerca de 240 milhões de dólares nas obras de construção da sua nova sede em Maputo e nas filiais de Nampula e Xai-Xai, bem como na reabilitação e ampliação das filiais de Chimoio e Beira.
Foto: DW/S.Lutxeque
Casas modernas em construção
"Modern Town-Nampula" é um grande projeto de construção que se prevê que resulte em 1800 casas construídas de raiz, no bairro de Mutauanha, numa zona de expansão. Este projeto projeto do Governo moçambicano, através do Fundo de Fomento de Habitação foi lançado em setembro do ano passado e prevê atribuir habitação aos jovens a título de crédito.
Foto: DW/S.Lutxeque
Mercado Municipal também mais moderno
O Mercado Municipal, vulgarmente conhecido por Mercado Central, é um dos mais antigos estabelecimentos comerciais que sobrevive até aos dias de hoje. Esta infraestrutura já passou por reabilitações e vai sobrevivendo aos maiores e atuais estabelecimentos comerciais. Antigamente, eram vendidos vestuários e diversos eletrodomésticos. Agora, limita-se a produtos de primeira necessidade.
Foto: DW/S.Lutxeque
Construção da estrada Nampula-Nametil
A estrada que liga a cidade de Nampula a Nametil, sede do distrito de Mogovolas, já está em construção. São mais de 70 quilómetros. Os cidadãos consideram que vai alavancar a economia, pois vai ligar, e assim, aproximar, uma zona de produção à cidade.
Foto: DW/S.Lutxeque
Bairros periféricos excluídos do "boom"
A cidade de Nampula conta com mais de um milhão de habitantes e dispõe de cerca de 18 bairros. Começam também a surgir zonas de expansão, onde muitos não beneficiam, na sua totalidade, do "boom" económico que a cidade ultrapassa. A degradação de estradas ou mesmo falta de vias de acesso, bem como a falta de corrente elétrica, água potável e lixo abundante são alguns dos problemas.