Dois aviões militares, um francês e um alemão, realizaram a primeira retirada de pessoas do aeroporto de Cabul, Afeganistão, segundo informações divulgadas nesta terça-feira (17.08) por autoridades europeias.

O primeiro avião de transporte militar A400M do exército alemão conseguiu pousar no aeroporto de Cabul na noite de segunda-feira (16.08) para retirar um primeiro pequeno grupo de pessoas, confirmou a ministra da Defesa alemã, Annegret Kramp-Karrenbauer.

"Tínhamos muito pouco tempo e por isso só levamos quem estava realmente no local. Na segunda-feira não puderam estar em maior número no aeroporto devido à situação caótica", disse a ministra, em declarações à televisão pública ARD.

Segundo relatos dos meios de comunicação, o avião conseguiu retirar apenas sete pessoas, embora a ministra não tenha confirmado o número. Segundo Kramp-Karrenbauer, a situação é "muito confusa, perigosa e complexa no aeroporto, principalmente devido à multidão”, o que dificulta aterrar mais aeronaves.

Organização é fundamental

A ministra também disse que a Alemanha enviou soldados para o Afeganistão para criar condições para que as pessoas "efetivamente tenham a possibilidade de chegar ao aeroporto".

Kramp-Karrenbauer falou de dois cenários possíveis. O primeiro, que o aeroporto poderia ser mantido aberto apenas por um curto período de tempo e onde a Alemanha tem "forças robustas" para mantê-lo assim.

No segundo cenário, que junto com os norte-americanos, seria possível organizar um corredor aéreo nos próximos dias, para o qual a Alemanha disponibilizou 600 soldados.

O importante agora, segundo Kramp-Karrenbauer, é organizar as coisas de forma que tanto cidadãos alemães, funcionários locais e pessoas ameaçadas possam ser retiradas e também ajudar outras nações.

Franceses criam ponte aérea para Abu Dhabi

Durante a madrugada, um avião militar francês realizou uma primeira retirada de pessoas do aeroporto de Cabul no que pretende ser "uma ponte aérea" com Abu Dhabi para os próximos dias, explicou a ministra da Defesa francesa, Florence Parly, numa entrevista à rádio RTL. Nesse primeiro voo estavam franceses e civis afegãos que colaboraram com o exército francês entre 2001 e 2014.

A França enviou dois aviões militares para a sua base nos Emirados Árabes Unidos para organizar o repatriamento das "várias dezenas" de franceses que permanecem no país retomado pelos talibãs e dos afegãos que trabalharam para as suas forças armadas durante a missão internacional naquele país.

Parly não quis dar uma estimativa de quantos afegãos poderiam chegar a França desta forma, considerando que seria prematuro. Contudo, a ministra francesa disse que o seu país não esperou até ao último minuto e que nos últimos anos já houve "várias centenas" de pessoas que saíram do país.

Desde que o Presidente francês, Emmanuel Macron, encomendou em 2018 a revisão da situação de alguns daqueles ex-colaboradores dos seus militares, tais como intérpretes, motoristas ou cozinheiros, mais de 200 pessoas chegaram à França.

Num discurso na segunda-feira (16.08) à noite, Macron enfatizou que a "urgência absoluta" com a queda de praticamente todo o Afeganistão nas mãos dos talibãs é retirar os franceses restantes e aqueles que trabalharam para os militares franceses para fora do país.

O Presidente francês também anunciou uma iniciativa com a Alemanha e outros países europeus para evitar "fluxos migratórios irregulares" de afegãos que correm o risco de ocorrer em consequência da desestabilização do país.

Os ministros da União Europeia devem se reunir nesta terça-feira (17.08) para discutir a crise no país do Médio Oriente. Um dos temas a serem tratados é da necessidade de criar "corredores humanitários” para receber refugiados do Afeganistão, além de evitar um fluxo incontrolável de imigrante ilegais.

Confusão no aeroporto dificulta pousos e decolagens

O representante da NATO, Stefano Pontecorvo, publicou no Twitter que os esforços de evacuação serão retomados nesta terça-feira depois de um dia de confusão após a tomada de poder dos talibãs.

Os voos foram suspendidos na segunda-feira (16.08) devido ao caos no aeroporto. Milhares de pessoas lotaram o aeroporto, incluindo as pistas de aterragem. Essa é a única maneira que os locais encontram de fugir do país depois que os talibãs assumiram o poder do país no domingo (15.08).

A entrada das forças talibãs em Cabul pôs fim a uma campanha militar de duas décadas liderada pelos Estados Unidos e apoiada pelos seus aliados, incluindo Alemanha.

As forças de segurança afegãs, treinadas pelos militares estrangeiros, colapsaram antes da entrada dos talibãs na cidade de Cabul.

Milhares de afegãos, em Cabul, tentam fugir do país e muitos dirigiram-se para o aeroporto internacional. 

China culpa Estados Unidos pela crise no Afeganistão

Depois de anunciarem que manteria sua embaixada em funcionamento, apesar de terem avisa seus cidadãos para permanecerem em casa, a China culpou os estados Unidos pela crise que está a afetar o Afeganistão. O ministro das Relações Exteriores, Wang Yi, disse que a China está disposta a dialogar com os EUA de modo a evitar que o Afeganistão “se torne um terreno fértil e abrigo para  terrorismo mais uma vez”.

Estados Unidos nega culpa do caos instaurado

O Presidente dos EUA, Joe Biden, negou a culpa pelas cenas caóticas de civis agarrando-se e, aviões militares dos EUA no aeroporto de Cabul. Nesta segunda-feira (16.08), Biden disse ter ficado surpreso com a tomada rápida do poder pelos talibã. Segundo ele, isso fez com que a embaixadas fossem protegidas as pressas e os diplomatas evacuados o mais rápido possível. Contudo, o Presidente disse não ter dúvidas sobre sua decisão sobre acabar com a guerra mais longa dos EUA.

Já o Presidente alemão, Frank-Walter Steinmeier, disse que as fotos das multidões de pessoas no aeroporto de Cabul são vergonhosas para o Ocidente. “Nós estamos a ver uma tragédia humana pela qual temos parte da culpa".

[Em atualização]