Afinal, o que se passa em Cabinda?
16 de abril de 2025
Seis supostos altos responsáveis da Frente de Libertação do Estado de Cabinda - Forças Armadas de Cabinda (FLEC-FAC) anunciara ontem (16.04) a sua saída da organização, para acabar com o derramamento de sangue no enclave.
Um deles, Martins Chincoco, lembrou, em declarações à Televisão Pública de Angola (TPA,) que, quando aderiram à guerrilha separatista, na década de 1970, a finalidade era alcançar a independência de Cabinda.
No entanto, esse objetivo, na sua visão, deixou de ter fundamento: "Foi muito sofrimento, a comer com dificuldades. Por isso voltámos à nossa terra, para servir o Governo de Angola. Lá falta alimentação e remédio", disse.
Uma encenação?
Algumas vozes no maior partido da oposição, a União Nacional para a Independência Total de Angola (UNITA), acreditam que esta pode ser uma tentativa de manipular a opinião pública nacional e internacional sobre o que se passa em Cabinda.
Raúl Tati, do "Governo Sombra" da UNITA, diz que o Governo angolano tem procurado sempre episódios sem fundamentos para deturpar a verdade.
"Nestes 50 anos, já tivemos vários episódios de rendição, a maior delas foi a que ocorreu em 2006, com Bento Bembe e o seu grupo. Isso é uma constante na estratégia do Governo do MPLA, procurando assim esvaziar a resistência", afirmou.
Tati acrescenta que as declarações dos altos responsáveis da FLEC-FAC, em Luanda, expõem as dificuldades do Governo angolano em lidar com este dossier e questiona: "Porque não foram apresentados em Cabinda, mas em Luanda? Claro que tudo isto foi preparado."
Apelo a "diálogo honesto"
Ainda esta semana, o Governo angolano desmentiu um suposto cessar-fogo anunciado pela FLEC-FAC, sublinhando que não há qualquer conflito armado em Cabinda e que "a situação sociopolítica e militar" no território "é estável".
O jurista Domingos João Marques tem uma perceção distinta. "Em Cabinda, há ainda um conflito latente", refere.
"Há ataques dia após dia, pessoas a morrer. É preciso que esse processo seja bem conduzido para beneficiar as duas partes. O que se quer é garantir a paz em Cabinda e não aquela que Angola quer estabelecer."
Domingos João Marques salienta que não se pode ignorar um gesto como a rendição dos supostos seis altos responsáveis da FLEC-FAC, em nome da paz e do alívio do sofrimento de um povo. Isso é algo que, segundo o académico, merece atenção e respeito.
Mas João Luzolo, professor de Relações Internacionais, afirma que a paz verdadeira não se constrói com rendições simbólicas. "Ela exige diálogo honesto, envolvimento de líderes legítimos e, sobretudo, respeito pela voz da população local, aquela que vive, sente e conhece a realidade de Cabinda todos os dias", conclui.