1. Ir para o conteúdo
  2. Ir para o menu principal
  3. Ver mais sites da DW

Afinal, o que se passa em Cabinda?

16 de abril de 2025

Esta semana, as Forças Armadas Cabindesas (FAC) anunciaram um cessar-fogo, mas o Governo negou que haja um conflito em Cabinda. Ontem foi reportado que seis supostos altos responsáveis da FLEC-FAC abandonaram o grupo.

Cabinda, em junho de 2020
(Foto ilustrativa)Foto: DW/B. Ndomba

Seis supostos altos responsáveis da Frente de Libertação do Estado de Cabinda - Forças Armadas de Cabinda (FLEC-FAC) anunciara ontem (16.04) a sua saída da organização, para acabar com o derramamento de sangue no enclave.

Um deles, Martins Chincoco, lembrou, em declarações à Televisão Pública de Angola (TPA,) que, quando aderiram à guerrilha separatista, na década de 1970, a finalidade era alcançar a independência de Cabinda.

No entanto, esse objetivo, na sua visão, deixou de ter fundamento: "Foi muito sofrimento, a comer com dificuldades. Por isso voltámos à nossa terra, para servir o Governo de Angola. Lá falta alimentação e remédio", disse.

Uma encenação?

Algumas vozes no maior partido da oposição, a União Nacional para a Independência Total de Angola (UNITA), acreditam que esta pode ser uma tentativa de manipular a opinião pública nacional e internacional sobre o que se passa em Cabinda.

Raúl Tati, do "Governo Sombra" da UNITA, diz que o Governo angolano tem procurado sempre episódios sem fundamentos para deturpar a verdade.

"Nestes 50 anos, já tivemos vários episódios de rendição, a maior delas foi a que ocorreu em 2006, com Bento Bembe e o seu grupo. Isso é uma constante na estratégia do Governo do MPLA, procurando assim esvaziar a resistência", afirmou.

Raúl Tati: "Claro que tudo isto foi preparado"Foto: DW/J.Carlos

Tati acrescenta que as declarações dos altos responsáveis da FLEC-FAC, em Luanda, expõem as dificuldades do Governo angolano em lidar com este dossier e questiona: "Porque não foram apresentados em Cabinda, mas em Luanda? Claro que tudo isto foi preparado."

Apelo a "diálogo honesto"

Ainda esta semana, o Governo angolano desmentiu um suposto cessar-fogo anunciado pela FLEC-FAC, sublinhando que não há qualquer conflito armado em Cabinda e que "a situação sociopolítica e militar" no território "é estável".

O jurista Domingos João Marques tem uma perceção distinta. "Em Cabinda, há ainda um conflito latente", refere.

"Há ataques dia após dia, pessoas a morrer. É preciso que esse processo seja bem conduzido para beneficiar as duas partes. O que se quer é garantir a paz em Cabinda e não aquela que Angola quer estabelecer."

Domingos João Marques salienta que não se pode ignorar um gesto como a rendição dos supostos seis altos responsáveis da FLEC-FAC, em nome da paz e do alívio do sofrimento de um povo. Isso é algo que, segundo o académico, merece atenção e respeito.

Mas João Luzolo, professor de Relações Internacionais, afirma que a paz verdadeira não se constrói com rendições simbólicas. "Ela exige diálogo honesto, envolvimento de líderes legítimos e, sobretudo, respeito pela voz da população local, aquela que vive, sente e conhece a realidade de Cabinda todos os dias", conclui.

Angolano cria projeto para salvar jovens da criminalidade

02:33

This browser does not support the video element.

Saltar a secção Mais sobre este tema