Líder da RENAMO garante que vai desarmar totalmente os seus homens e que não precisa mais de forças armadas. Afonso Dhlakama também pediu ao povo moçambicano para não aceitar pagar as dívidas ocultas.
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O líder da Resistência Moçambicana (RENAMO), maior partido da oposição em Moçambique, que falava em teleconferência a partir da Gorongosa na manhã desta quinta-feira (11.05.) a jornalistas e quadros do seu partido na província de Nampula, disse que uma das suas prioridades nas conversações com o Presidente da República Filipe Nyusi é ver os seus homens serem desarmados e integrados nas Forças de Defesa e Segurança.
Afonso Dhlakama disse ainda que o desarmamento da sua força vai depender da disponibilidade do Governo: "Eu não preciso de ter forças armadas porque sei que não tenho inimigos, tenho amigos. Essas forças da RENAMO, uma vez tudo resolvido, serão reintegradas na Policia e nas Forças Armadas. Não vou precisar mais de ter alguém ao meu lado com AK43."
Líder da RENAMO muda de ideias
Relativamente à sua antiga exigência em governar as províncias onde o seu partido reivindica ter ganho as eleições em 2014, o líder da RENAMO recua, pondo fim ao finca-pé. Dhlakama propõe agora uma lei sobre a descentralização, lei essa que deve ser aprovada pela Assembleia da República até outubro do corrente ano.
O líder do partido diz aguardar também pelo fim da crise. "Gostaria também que quanto aos assuntos militares e da polícia haja um consenso e que seja colocado um ponto final. Uma vez que havendo o acordo, eu e o meu irmão Nyusi temos que nos encontrar para assinarmos o acordo definitivo."
O líder do maior partido da oposição classificou as sucessivas tréguas apenas como uma pausa: "Isto não é uma paz definitiva, é apenas um intervalo. Queremos a paz definitiva com base num compromisso para não sermos enganados, como aconteceu com os ex-Presidentes Chissano e Guebuza."
Dhlakama apela ao povo a não aceitar pagar dívidas ocultas
Num outro desenvolvimento, Afonso Dhlakama falou das dívidas ocultas recentemente incluídas na conta geral do Estado de 2015, após aprovação pelo Parlamento. Para o Líder da RENAMO, qualquer país pode contrair dívidas externas para responder as reais preocupações do povo, mas considera que no caso de Moçambique é diferente porque foram contraídas por indivíduos desconhecidos.
Daí que aproveitou a teleconferência para pedir ao povo moçambicano para não aceitar pagar essas dívidas e exigir a responsabilização criminal dos autores quando forem totalmente identificados.
Segundo Dhlakma, "o que aconteceu não foi uma dívida externa. Foi um roubo feito por um grupo de pessoas do partido FRELIMO, em nome do povo. E não podemos aceitar que o povo pague o que não foi aplicado em seu benefício" e ele finaliza o assunto exigindo: "Queremos que a justiça moçambicana responsabilize essa gente, que paguem sozinhos o que roubaram. E [o dinheiro] não pode ser tirado dos nossos impostos."
Por outro lado, o líder da maior força política na oposição garantiu a participação do seu partido nas próximas eleições autárquicas, marcadas para 10 de outubro de 2018, e as gerais para 2019. Dhlakama disse que se a RENAMO tivesse participado nas eleições em 2013, a cidade de Nampula estaria sob governação da sua formação politica.
E ele quer recuperar Nampula: "Em 2018 temos que arrancar a nossa cidade [de Nampula]. O MDM está a governar porque permitimos e porque lutamos pela democracia multipartidária."
O Presidente da RENAMO apelou finalmente aos seus quadros e simpatizantes para não guardarem mágoas e nem rancores da FRELIMO, porque ele próprio já decidiu perdoar a FRELIMO "pelos maus tratos infligidos aos militantes e quadros do maior partido da oposição".
Em Moma, a província moçambicana de Nampula tem algumas das maiores reservas de areias pesadas do mundo, das quais se podem extrair minerais como a ilmenite, o zircão e o rutilo.
Foto: DW/Petra Aschoff
Cadeia de riquezas minerais
Em Moma, a província moçambicana de Nampula tem algumas das maiores reservas de areias pesadas do mundo, das quais se podem extrair minerais como a ilmenite, o zircão e o rutilo. As areias pesadas da região são parte de uma cadeia de dunas que se estendem desde o Quénia até Richards Bay, na África do Sul. Em Moma, exploram-se os bancos de areia de Namalote e as dunas de Topuito.
Foto: Petra Aschoff
Areias para diferentes indústrias
Unidade de lavagem de areias pesadas da mineradora irlandesa Kenmare, um dos chamados "megaprojetos" estrangeiros em Moçambique. A ilmenite, o zircão e o rutilo, extraídos das areias, são usados, respetivamente, na indústria de pigmentos, cerâmica e na produção de titânio. O rutilo, um óxido de titânio, é fundamental para a produção do titânio usado para a construção de aviões.
Foto: Petra Aschoff
Lucro após prejuízo
Os produtos são transportados através de um tapete rolante até um pontão no Oceano Índico. Segundo media moçambicanos, a extração de areias pesadas na mina de Topuito, em Moma, resultou num lucro de 39 milhões de dólares no primeiro semestre de 2012. No mesmo período de 2011, a empresa registou prejuízo de 14 milhões por causa da baixa dos preços devido à crise económica mundial.
Foto: Petra Aschoff
Problemas trabalhistas?
O semanário moçambicano Savana repercutiu, em outubro de 2011, a decisão do ministério do Trabalho de suspender 51 trabalhadores estrangeiros em situação ilegal na Kenmare. Segundo o Savana, na mesma altura, a Inspeção Geral do Trabalho descobriu que 120 trabalhadores indianos estavam para ser recrutados pela Kenmare. O recrutamento foi cancelado.
Foto: Petra Aschoff
Mudança de aldeia
Para poder explorar as areias pesadas em Nampula, entre 2007 e 2010 a mineradora irlandesa Kenmare transferiu as moradias de centenas de pessoas na localidade de Moma, no norte do país. A empresa prometeu acesso à água, casas melhores e postos de saúde. Na foto, nova escola primária para a população local.
Foto: Petra Aschoff
Acesso à água
Em 2011, o novo bairro de Mutittikoma, em Moma, ainda não tinha um poço d'água. Esta é transportada até o vilarejo com um camião cisterna. O acesso à água também é garantido com uma tubulação que a Kenmare instalou ali. Porém, como a mangueira só deixa correr um fio d'água, as mulheres que vêm buscá-la esperam no sol durante horas a fio para encher baldes e recipientes.
Foto: Petra Aschoff
Responsabilidade social
Uma casa construída pela Kenmare para a população desalojada por causa da exploração das areias pesadas em Moma. No início de setembro, Luísa Diogo, antiga primeira-ministra de Moçambique, disse que o país deve estar "muito atento" para que os grandes projetos de recursos naturais – como carvão e gás – beneficiem as populações. Ela também defende renegociação de contratos multinacionais.
Foto: Petra Aschoff
Em busca do brilho
Para além das areias pesadas, o solo da parte sul da província moçambicana de Nampula oferece mais riquezas. Na foto: garimpeiros à procura da pedra preciosa turmalina em Mogovolas. Os garimpeiros recebem cerca de um euro por dia para cavar buracos com vários metros de profundidade. As pedras são vendidas a um comerciante intermediário.
Foto: Petra Aschoff
Verde raro
As pedras de turmalina costumam ter várias cores. Uma das mais conhecidas é a verde. Mas existe outro verde precioso que se torna cada vez mais raro em Mogovolas: o da vegetação. Os buracos cavados pelos garimpeiros podem não ter pedras, mas permanecem após a escavação e sofrem erosão. As plantas não são plantadas novamente, apesar de a recomposição da vegetação ser prevista pela lei.