Afonso Dhlakama lamenta lentidão no processo de paz
Lusa | ni
24 de maio de 2017
O líder da RENAMO está descontente com a lentidão das duas comissões nas negociações de paz. Mas, por outro lado, Afonso Dhlakama saúda os avanços na negociação sobre assuntos militares.
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Numa declaração via telefone nesta quarta-feira (24.05.) para jornalistas e simpatizantes do seu partido sobre o processo de paz o líder da RENAMO confessou: "Eu tenho estado a falar com o irmão Nyusi [Presidente da República]: há lentidão, não é o que eu esperava."
Afonso Dhlakama esperava ver "o trabalho já acabado das duas comissões entrar na Assembleia da República até 11 de maio", último dia da sessão legislativa, mas "tal não aconteceu". Numa comissão negoceia-se a revisão das leis para descentralização do Estado, com o maior partido da oposição a reivindicar a eleição de governadores já em 2019, em vez da sua nomeação. Noutra discutem-se assuntos militares, nomeadamente, a reintegração dos homens armados da RENAMO no exército regular e a despartidarização das forças armadas.
Dhlakama compreensivo
Apesar da lentidão, Dhlakama também diz compreender que assim seja: "A RENAMO está a exigir a democratização e a mudança das leis e do outro [lado], por natureza, há resistência."
Segundo o líder do maior partido da oposição em Moçambique, até os investidores estrangeiros já perceberam "que não basta o fim da guerra, é preciso reformar as instituições" e por isso insiste que as duas comissões devem produzir propostas de lei até o final do ano. O líder da RENAMO lembra que a trégua sem prazo declarada no início deste mês depende dos entendimentos que se alcançarem, para que seja assinado um acordo de paz.
Afonso Dhlakama deixou também um alerta: ainda há tropas do exército nacional a ocupar posições na Serra da Gorongosa, o principal palco dos conflitos entre a RENAMO e o exército nacional, mas reconhece que isso se deve a questões logísticas.
Avanços na negociação de assuntos militares agradam Dhlakama
Por outro lado, o líder da RENAMO saudou os avanços na negociação de assuntos militares e compara: "Não podemos esquecer [a despartidarização das forças armadas], porque esquecer significaria incubarmos um exército partidário" que "pode atacar um Governo eleito democraticamente como tem acontecido na Guiné-Bissau e nos outros países africanos."
A RENAMO quer que os quadros por si formados, com diferentes patentes, sejam enquadrados em todos os níveis das forças armadas, inclusive no Exército e Estado-Maior General. A formação de forças armadas republicanas é para Afonso Dhlakam uma "questão pendente" desde o Acordo de Paz de Roma, assinado em 1992, queixando-se de discriminação por parte da FRELIMO (partido no poder) em relação aos quadros militares do seu partido.
A RENAMO está a negociar ainda a integração dos seus homens na Polícia da República de Moçambique e nos Serviços de Informação e Segurança do Estado (SISE).
O eterno segundo lugar: uma vida na oposição em África
Não são apenas os presidentes que não mudam durante décadas nalguns países africanos. Também os chefes da oposição ocupam o cargo toda a vida, vedando o caminho às novas gerações. Conheça alguns eternos oposicionistas.
Foto: Reuters
O guerrilheiro moçambicano
Afonso Dhlakama é um veterano entre os oposicionistas africanos de longa duração. Em 1979 assumiu a liderança do movimento de guerrilha Resistência Nacional Moçambicana, RENAMO. Este tornou-se num partido democrático. Mas Dhlakama é famoso pelo seu tom combativo. Por vezes ameaça pegar em armas contra os seus inimigos. E concorreu cinco vezes sem sucesso à presidência do país.
Foto: picture-alliance/dpa/A. Catueira
Morgan Tsvangirai - o resistente
O ex-mineiro tornou-se num símbolo da resistência contra o Presidente vitalício do Zimbabué, Robert Mugabe. Foi detido, torturado, sofreu fraturas do crânio e uma vez tentaram, sem sucesso, atirá-lo do décimo andar de um edifício. Após as controversas eleições de 2008, o líder do Movimento pela Mudança Democrática chegou a acordo com Mugabe sobre uma partilha do poder.
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O primeiro jurista doutorado na RDC
Étienne Tshisekedi foi nomeado ministro da Justiça antes de terminar o curso. Só mais tarde se tornou no primeiro jurista doutorado da República Democrática do Congo. Teve vários cargos na presidência de Mobuto, mas tornou-se crítico do regime. Foi preso e obrigado a abandonar o país. Liderou a oposição de 2001 até a sua morte em fevereiro de 2017. Perdeu as eleições de 2011 contra Joseph Kabila.
Foto: picture alliance/dpa/D. Kurokawa
Raila Odinga: a política fica em família
Filho do primeiro vice-presidente do Quénia, Raila Odinga nunca escondeu a ambição de um dia assumir a presidência. Foi deputado ao mesmo tempo que o pai e o irmão. Mas não se pode dizer que seja um militante fiel de algum partido: já mudou de cor política por quatro vezes. Após a terceira derrota nas presidenciais de 2013, apresentou queixa em tribunal contra o resultado e ... perdeu.
Foto: Till Muellenmeister/AFP/Getty Images
O Dr. Col. Kizza Besigye do Uganda
Besigye já foi um íntimo de Museveni, para além do seu médico privado. Quando começou a ter ambições de poder, transformou-se no inimigo número um do Presidente do Uganda. Foi repetidas vezes acusado de vários delitos, preso e brutalmente espancado em público. Voltou a candidatar-se nas presidenciais de maio de 2016, durante as quais ocorreram novamente distúrbios violentos.
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Juntos por um novo Chade
Saleh Kebzabo (esq.) e Ngarlejy Yorongar são os dois rostos mais importantes da oposição no Chade. Embora sejam de partidos diferentes, há muitos anos que lutam juntos pela mudança política no país. Mas desavenças no ano de eleições 2016 enfraqueceram a aliança. A situação beneficiou o Presidente perene Idriss Déby, que somou nova vitória eleitoral.
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O Presidente autoproclamado
Desde o início da sua atividade política que Jean-Pierre Fabre se encontra na oposição do Togo. O líder da “Aliança Nacional para a Mudança” concorreu por duas vezes à presidência. Após a mais recente derrota, em abril de 2015, rejeitou os resultados do escrutínio e autoproclamou-se Presidente. Sem sucesso.
O pai foi Presidente do Gana na década de 70. Nana Akufo-Addo demorou muitos anos até seguir-lhe as pisadas. Muitos ganeses não levam muito a sério as tentativas desesperadas para chegar à presidência, tendo dificuldades em identificar-se com este membro das elites. Mas em novembro de 2016, Akufo-Addo candidatou-se pela terceira vez e venceu as eleições. Desde janeiro de 2017 é Presidente do Gana.