Africanos desistem do sonho europeu e optam por Marrocos
Katrin Slawinger | rl
6 de junho de 2017
Alguns dos migrantes provenientes da África-subsaariana têm optado por ficar em Marrocos, em vez de arriscar as suas vidas na travessia do Mediterrâneo. O país está a acolhê-los bem, dizem.
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Os africanos subsaarianos que querem chegar à Europa costumam usar Marrocos como local de trânsito. Após chegarem a este país do norte de África, os refugiados tentam, frequentemente, chegar a Espanha ou outros países europeus, arriscando as suas vidas na perigosa travessia do Mediterrâneo. Nos últimos tempos, muitos destes africanos têm optado por não tentar chegar à Europa e, em vez disso, refazer as suas vidas em Marrocos.
No agitado mercado central de Casablanca, existe uma secção onde não se veem muitos marroquinos. Quase todos os que aqui trabalham são provenientes de países da África subsaariana, como a Costa do Marfim, Guiné e Camarões.
Africanos desistem do sonho europeu e optam por Marrocos
Richard Wenong é um eletricista camaronês que trabalha perto deste mercado, onde a sua esposa tem um salão de beleza. À DW África, Richard Wenong contou a sua história. Como tantos outros, quando veio para Marrocos , a ideia era viajar para a Europa.
No entanto, Richard Wenong apercebeu-se que o ir para a Europa "não era importante”, uma vez que, em Marrocos, "tinha alguns trabalhos como técnico”. "Integrei-me em Marrocos, por isso as coisas estão bem. Não preciso ir para a Europa”, acrescentou.
Nos últimos quatro anos, milhares de subsaarianos conseguiram obter os papéis de residência em Marrocos, no âmbito de duas leis para migrantes que foram criadas pelo Governo. Richard Wenong é um dos cerca de 20.000 refugiados que estão, atualmente, à espera dos papéis.
Associação local ajuda migrantes
No norte da capital Rabat, fomos conhecer uma associação local que está a ajudar a financiar pequenos negócios. Entre eles, estão empreendedores provenientes da África subsaariana.
Mohamed Mboyo é natural da República Democrática do Congo (RDC). É jornalista e chegou a Marrocos, em 2013, fugido da perseguição política. Agora, tem o seu próprio programa na rádio marroquina. À DW, Mohamed Mboyo explicou que foi obrigado a abandonar o seu país "devido à falta de democracia e ao conflito”. Atualmente, a RDC "é uma zona problemática”, afirma. "Eu trabalhava como jornalista e tive que enfrentar algumas ameaças do governo. Tive que deixar o meu país para salvar a vida”, acrescenta.
Mohamed Mboyo recebeu ajuda da AMAPPE, uma associação que ajuda pequenas empresas. Oferece aconselhamento, financiamento e formação aos trabalhadores independentes e tem ajudado projetos de muitos subsaarianos. Mohammed Mboyo foi um deles. "A AMAPPE concedeu-me apoio financeiro. Comprou-me um computador – uma importante ferramenta para um jornalista”, conta.
Questionado sobre quão difícil é a integração na sociedade marroquina para alguém que vem de fora, Mohammed Mboyo é claro: "Em Marrocos, quando se fala francês, pode-se encontrar emprego e refazer a vida".
Hassan Errifai, que trabalha para a AMAPPE, explica que "as coisas mudaram” nos últimos anos e que muitos migrantes têm vindo a mudar a sua visão sobre Marrocos. "Os imigrantes consideram-se agora em casa e não noutro país, o que trouxe ao migrante ou refugiado o sentimento de pertencer a um país onde a sua cultura é partilhada. Marrocos tornou-se um país anfitrião, e não apenas um país de trânsito”, explica.
Marroquinos são "hospitaleiros”
A legalização de milhares de subsaarianos representa uma grande mudança na política de Marrocos. No entanto, a reação de alguns estudantes universitários em Rabat indica que esta é uma mudança que muitos marroquinos acolhem. Em entrevista à DW, uma jovem afirma estar "aberta para acolher pessoas de outras nacionalidades e que vêm para Marrocos para estudar ou procurar um emprego”. Segundo a mesma jovem, "apenas uma minoria dos marroquinos é intolerante às pessoas que vêm de outros países”.
Um segundo estudante ouvido pela DW acrescenta que também os marroquinos "fazem o mesmo noutros países”, como França ou América. "Se eles forem bons no trabalho que fazem irão contribuir para uma economia melhor, com certeza”, afirma.
O Produto Interno Burto (PIB) em Marrocos está atualmente a crescer mais rapidamente do que o de muitos países europeus. Os africanos subsaarianos desempenham assim, e cada vez mais, um papel importante na economia e na sociedade marroquina.
Milhares de migrantes atravessam Níger rumo à Europa
São jovens oriundos da África Ocidental e fazem tudo para chegar à Europa. Estão mesmo dispostos a arriscar a vida, atravessando o deserto, rumo ao Mediterrâneo. Mas nem todos são bem sucedidos.
Foto: DW/A. Cascais
Apoio aos "menos bem sucedidos"
Em Niamey existe um centro de acolhimento da Organização Internacional para as Migrações (OIM). Aqui são acolhidos os jovens "revenants", que não conseguiram atravessar o deserto e se veem obrigados a regressar aos seus países de origem. A OIM, que faz parte do sistema das Nações Unidas, dá-lhes abrigo provisório, alimentação e apoio na obtenção de passaportes e outros documentos.
Foto: DW/
À espera do regresso a casa
Os jovens que procuram apoio no centro da OIM vêm dos mais diferentes países: Guiné-Conacri, Mali, Senegal, Gâmbia ou Guiné-Bissau, movidos sobretudo por objetivos económicos. Muitos tiraram cursos superiores, mas não arranjam trabalho. Muitas famílias apostam na emigração de pelo menos um filho. Caso esse filho seja bem sucedido poderá eventualmente apoiar economicamente o resto da família.
Foto: DW/A. Cascais
Frustrados por terem falhado a Europa
Muitos investiram todas as suas economias, pediram dinheiro a familiares e perderam tudo. Agora esperam pelo regresso aos seus países com a sensação de terem sofrido grandes derrotas pessoais. Os assistentes sociais falam de casos em que os jovens não se atrevem a voltar ao seio das suas famílias, "por sentirem vergonha". Precisam de apoio psicológico, mas esse apoio não existe.
Foto: DW/A. Cascais
Otimismo apesar das derrotas
Alguns dos migrantes sofrem lesões e contraem doenças durante a travessia do deserto, mas mesmo assim não perdem o ânimo. Em muitos casos, os jovens tentam várias vezes, ao longo da vida, atingir a terra prometida: a Europa. Muitos nunca o conseguem, mas não perdem o otimismo. Em 2016, a OIM prestou apoio a mais de 6 mil "revenants" - migrantes que não foram bem sucedidos no Níger.
Foto: DW/A. Cascais
Espancado na Líbia
Dumbya Mamadou, de 26 anos de idade, oriundo do Senegal, conseguiu atingir a Líbia, depois de uma "odisseia de 5 dias e 5 noites" pelo deserto do Níger. Mas na Líbia foi maltratado. "Os líbios apontaram-me armas e espancaram-me, não têm respeito pelo ser humano", afirma o jovem. Dumbya volta ao seu país de origem com um sentimento de derrota: "Queria estudar na Europa, agora não sei o que fazer".
Foto: DW/
Roubado no Burkina Faso
Mamadou Barry, de 21 anos, oriundo da Guiné-Conacri, tinha um sonho: aplicar em França os seus conhecimentos de marketing e os seus talentos musicais. Mas a viagem rumo à Europa correu-lhe mal. "Fui roubado no Burkina Faso, o primeiro país pelo qual passei", conta. Mesmo assim, Mamadou aprendeu uma grande lição para a vida: "coisas que nunca teria aprendido se nunca tivesse saído de Conacri".
Foto: DW/A. Cascais
Rap contra a frustração
Mamadou Barry tenta digerir as suas derrotas e decepções através da música. Há três anos que o jovem canta e interpreta temas de rap e hiphop de sua autoria. O seu último tema foi escrito em Niamey, capital do Níger, e tem a seguinte letra: "A migração arrasou-me / e ninguém me pode consolar / O Mar Mediterrâneo já matou muitos / e nós cá continuamos: sem comida, sem cama, sem saúde".
Foto: DW/
Central de autocarros de Niamey: uma placa giratória
É da estação de autocarros de Niamey que partem diariamente centenas de furgonetas, muitas delas repletas de jovens migrantes, em direção ao norte. Os migrantes tornaram-se um fator relevante para a economia do Níger. Há muita gente que ganha a sua vida prestando diversos serviços aos migrantes: viagens pelo deserto, alimentação e mesmo cuidados médicos.
Foto: DW/A. Cascais
Mais migrantes tentam atravessar deserto do Níger
O número de migrantes que viajam através dos vastos territórios desérticos do Níger para chegar ao norte da África e à Europa não pára de aumentar, tendo alcançado os 200 mil em 2016, segundo estimativas do escritório da Organização Internacional para as Migrações. Outras fontes falam de 10 mil migrantes que atravessam o Níger por semana. A situacão geográfica do Níger é o fator determinante.
Foto: DW/A. Cascais
Agadez, o "olho da agulha"
Agadez, cidade desértica no Níger, é um dos principais pontos de trânsito no Saara para os imigrantes em fuga de nações empobrecidas do oeste da África. As "máfias" do tráfico humano têm beneficiado do caos na Líbia para transportar dezenas de milhares de pessoas para o continente europeu em embarcações precárias. Os migrantes muitas vezes sofrem abusos dos passadores.