O Presidente norte-americano usou linguagem vulgar para se referir ao Haiti e a países africanos numa reunião na Casa Branca. As reações não tardaram em África. Donald Trump nega agora ter usado expressão insultuosa.
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Numa reunião na Casa Branca, na quinta-feira (11.01), para discutir um acordo para a imigração, Donald Trump questionou os congressistas sobre os motivos pelos quais os Estados Unidos devem receber pessoas de várias nações africanas, que não identificou, de El Salvador e do Haiti, que apelidou de "países de merda" ("shithole countries" em inglês). E perguntou se não seria preferível abrir as portas a cidadãos de países como a Noruega, revelaram meios de comunicação social norte-americanos, como o jornal The Washington Post.
Entretanto, o Presidente dos Estados Unidos já negou ter usado a polémica expressão, mas admitiu ter usado uma "linguagem dura" ao debater as leis migratórias. "A linguagem que usei na reunião [com legisladores norte-americanos] foi dura, mas não usei essas palavras", escreveu esta sexta-feira Trump no Twitter.
Belas paisagens para Trump
A notícia causou muita indignação mundial. Em África, a revolta espalhou-se pelas redes sociais, com Trump a ser acusado de racismo e ignorância. Muitos utilizadores africanos publicaram imagens de bonitas paisagens dos seus países e de modernos arranha-céus – tudo ironicamente acompanhado pela hashtag #ShitholeCountries.
"Sou um filho orgulhoso de um continente brilhante chamado África. África NÃO é nenhum #shithole, Mr. Trump", escreveu no Twitter o atleta e recordista queniano Bernard Lagat, que se tornou cidadão norte-americano em 2004.
Vários governos do continente classificaram os comentários como "racistas". Na África do Sul, o Congresso Nacional Africano (ANC), o partido no poder, considerou "extremamente ofensiva" a afirmação de Trump. "Há milhões de pessoas desempregadas nos EUA, milhões de pessoas que não têm serviços de saúde ou acesso à educação e também não gostaríamos de fazer comentários tão depreciativos como esse", declarou Jessie Duarte, vice-secretária-geral do ANC.
No Botswana, a chefe da diplomacia, Pelonomi Venson-Moitoi, escreveu no Twitter que o comentário de Trump é um "terrível golpe" nas relações diplomáticas com os Estados Unidos. Segundo o governo, o embaixador norte-americano no país foi convocado para esclarecimentos.
O ministro dos Negócios Estrangeiros do Uganda, Henry Okello Oryem, afirmou que os comentários de Donald Trump foram "infelizes e lamentáveis".
Houve igualmente protestos no Sudão do Sul, onde o porta-voz do Presidente Salva Kiir, Ateny Wek Ateny, definiu os comentários como "ultrajantes".
Quadros de Trump feitos no Quénia
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Críticas da União Africana e da ONU
A União Africana (UA) disse estar "francamente alarmada" com as declarações do Presidente norte-americano. A porta-voz Ebba Kalondo considerou as afirmações de Donald Trump inaceitáveis tendo em conta a realidade histórica e a quantidade de africanos que chegou aos Estados Unidos como escravos.
"Isto é particularmente surpreendente, já que os Estados Unidos da América continuam a ser um exemplo global de como a migração deu origem a uma nação assente em valores fortes de diversidade e oportunidade", sublinhou. Ebba Kalondo disse que a declaração "prejudica os valores globais partilhados sobre diversidade, direitos humanos e compreensão recíproca".
Também a ONU considerou "chocantes", "vergonhosas" e "racistas" as declarações de Trump. "Se for confirmado, são comentários chocantes e vergonhosos da parte do Presidente dos Estados Unidos", declarou o porta-voz do Alto Comissariado das Nações Unidas para os Direitos Humanos (ACNUR), Rupert Colville, numa conferência de imprensa, em Genebra.
"Não se trata apenas uma questão de vulgaridade de linguagem", assinalou Colville. "Estas declarações mostram o "pior lado da humanidade, validando e encorajando o racismo e a xenofobia", afirmou o porta-voz.
Donald Trump: Populista, empreendedor, Presidente
Donald Trump é empreendedor imobiliário e estrela de televisão. Muitos não o levavam a sério. Mas ele venceu as eleições e, a partir de 20 de janeiro de 2017, será o 45º Presidente dos Estados Unidos da América (EUA).
Foto: picture-alliance/dpa/K. Lemm
A família, o seu império
Trump com a sua família: a esposa, Melania (de branco), as filhas Ivanka e Tiffany, os filhos Eric e Donald Junior, e os netos Kai e Donald Junior 3º. Os filhos são "vice-presidentes seniores" do conglomerado Trump.
Foto: picture-alliance/dpa
Frederick Junior, o pai
Donald Trump herdou o dinheiro para os seus investimentos do pai, Frederick, que lhe deu um capital inicial de um milhão de dólares. Após a sua morte, em 1999, Donald e os seus três irmãos herdaram uma fortuna de 400 milhões de dólares.
Foto: imago/ZUMA Press
Capitão Trump
Quando tinha 13 anos, o seu pai enviou Trump para um internato militar em Cornwall-on-Hudson, onde deveria aprender a ser disciplinado. No último ano, ele obteve inclusive uma patente militar. Ele diz que, ali, recebeu mais treinamento militar do que nas Forças Armadas americanas.
Foto: picture-alliance/AP Photo/
"Very good, very smart"
"Muito bom, muito inteligente", é o que Trump diz de si mesmo. E acrescenta que cursou a escola de elite Wharton (foto), da Universidade de Pensilvânia, na Filadélfia, onde se formou em 1968. É uma das oito universidades integrantes da Ivy League, as universidades mais prestigiadas dos EUA. Mesmo assim, sabe-se pouco sobre o percurso de Trump na faculdade.
Foto: picture-alliance/AP Photo/B.J. Harpaz
Dispensado da Guerra do Vietname
Devido a um problema no calcanhar, Trump foi dispensado e não lutou na Guerra do Vietname. Na guerra, morreram cerca de 58 mil soldados dos Estados Unidos e aproximadamente três a quatro milhões de vietnamitas dos dois lados, além de outros dois milhões de cambojanos e laocianos.
Foto: picture-alliance/AP Photo
Ivana, a primeira esposa
Em 1977, Trump casou-se com a modelo tcheca Ivana Zelníčková, com quem teve três filhos. O relacionamento foi acompanhado de rumores sobre relacionamentos extraconjugais. Foi Ivana quem apelidou Trump de "The Donald".
Foto: Getty Images/AFP/Swerzey
Anos 80: Abertura do Harrah's at Trump Plaza
Esta foto, tirada em 1984, marca a abertura do Harrah's at Trump Plaza, um complexo envolvendo hotel, restaurante e casino em Atlantic City (Nova Jérsia). Este foi um dos primeiros investimentos que tornaram Trump bilionário.
Foto: picture-alliance/AP Images/M. Lederhandler
Família número 2
Em 1990, Trump divorciou-se de Ivana e casou-se com Marla, 17 anos mais jovem que ele. A filha do casal se chama Tiffany.
Foto: picture alliance/AP Photo/J. Minchillo
As meninas de Trump
Em público, Trump não aparece só ao lado de sua esposa. Ele costuma acompanhar concursos de beleza ao lado de jovens modelos. De 1996 a 2015, ele foi o responsável pelo concurso de Miss Universo ("Miss Universe") nos EUA.
Foto: picture-alliance/dpa/K. Lemm
Livro muito lido e vendido
Como fazer milhões de forma rápida? O best-seller de Trump "A arte da negociação" é um exemplo. O livro é em parte autobiográfico, em parte um livro de dicas para empresários ambiciosos. A publicação não foi somente uma das mais vendidas nos EUA, como também colocou Trump no centro das atenções no país.
Foto: Getty Images/AFP/M. Schwalm
O nome é a marca
Trump investe de forma agressiva, mas também sofre fracassos. Numa perspectiva de longo prazo, no entanto, obtém sucesso, como por exemplo com a Trump Tower em Nova York. Ele calcula a sua fortuna hoje em 10 bilhões de dólares. Especialistas, entretanto, consideram um terço desse valor mais realista. Portanto, cerca de 3 bilhões de dólares.
Foto: Getty Images/D. Angerer
"The Donald" no ringue
Como poucos, Trump consegue chamar a atenção dos mídia. Seu campo de ação inclui até um ringue de luta livre. No seu programa de TV "O Aprendiz" ("The Apprentice"), os candidatos eram contratados ou demitidos. A primeira edição foi ao ar durante o ano de 2004 na cadeia televisiva NBC. A frase favorita de Trump no programa era "Você está demitido!"
Foto: Getty Images/B. Pugliano
Ascenção rápida de Trump na política
Em 16 de junho de 2015, Trump anunciou a candidatura para a corrida presidencial pelo Partido Republicano. O seu slogan foi: "Faça a América grande outra vez" ("Make America great again"). A campanha foi feita ao lado da família e com slogans contra imigrantes, muçulmanos, mulheres e adversários políticos. Investiu muito nos mídia sociais como o Twitter onde tem 13,8 milhões de seguidores.
Foto: picture-alliance/dpa/J. Lane
45º presidente dos Estados Unidos da América
A partir do dia 20 de janeiro de 2017, o populista e showman será o novo Presidente dos Estados Unidos. No início da campanha, poucos pensavam que poderia vencer as eleições do dia 8 de novembro de 2016 contra a candidata do Partido Democrata, Hillary Clinton. Mas a história de Donald J. Trump também mostra que este homem tem a capacidade de se transformar como um camaleão.