AfricanTide ajuda refugiados e migrantes na Alemanha
Cláudia Pereira
28 de agosto de 2017
Quem melhor para ajudar migrantes e refugiados do que outros migrantes ou refugiados? É o lema da AfricanTide Union, uma associação com sedes na Alemanha e em África, que visa ajudar migrantes e refugiados.
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No asilo em Dortmund, o refugiado sírio Mohammed prepara-se para ir viver sozinho. Os assistentes socais Yvonne Makopa e Elias Teodoso tratam dos papéis da saída. O jovem Mohammed deixou o Irão sem os pais, atravessou o Oceano e viveu num campo de refugiados em Dortmund. Chegou aos 22 anos ao asilo da associação AfricanTide Union. Um mês depois, encontrou um apartamento.
No dia da despedida do asilo, Mohammed conta à DW África os seus objetivos: "Quero estudar Arte na universidade mas, primeiro, tenho de encontrar um trabalho que me permita estudar ao mesmo tempo”, conta, numa mistura de inglês e alemão.
O asilo para migrantes e refugiados é um dos projetos da AfricanTide Union, uma organização não-governamental que ajuda migrantes e refugiados na Alemanha. Apesar do nome, a AfricanTide ajuda pessoas de todo o mundo: de Moçambique, Zimbabué, Síria, Irão, Iraque.
Em Dortmund, acolhe quem vem para a Europa à procura de uma vida melhor, e na associação encontram pessoas que já passaram pelo mesmo. "Primeiro tivemos a experiência de ser migrantes na Alemanha, e agora podemos pôr-nos no papel dos jovens que vivem neste asilo”, diz Yvonne Makopa, do Zimbabué. "Quem melhor para ajudar migrantes ou refugiados do que outros migrantes ou refugiados."
Expectativas goradas
A AfricanTide, para além do asilo, dá aulas de alemão a refugiados e migrantes, tem duas creches e um canal de televisão, a MyTideTV.
A associação nasceu na Alemanha, em 2010, e tem quatro sedes no continente africano. A fundadora Rosalyn Dressman explica que, "em África, informamos a sociedade civil sobre o risco de migrar para a Europa”. E adianta: "as pessoas precisam de empregos, segurança, não precisam necessariamente de vir para a Europa".
A ansiedade de partir leva os migrantes e refugiados a chegar à Alemanha de forma ilegal "e acabam por ter diferentes problemas, como a prostituição ou escravatura”, diz Rosalyn Dressman, a quem chamam de Mamã Rosa.
"Queremos mostrar-lhes que a Alemanha não é o paraíso”, afirma a editora da MyTideTV, um projeto que pretende "mostrar às pessoas o que se passa na Alemanha”, porque para os africanos pensam em migrar para ter melhores condições de vida, "mas é perigoso virem de África e não é fácil vir por mar até aqui”, explica. A fundadora e presidente da AfricanTide, Rosalyn Dressman, acrescenta que vêm à procura de uma vida melhor, mas as condições em que vivem na Alemanha "são más, sem privacidade, por vezes sem nada para comer."
Refugiados e migrantes ficam na Alemanha
AfricanTide ajuda refugiados e migrantes na Alemanha
PoOy Eh é refugiada iraniana. Quando chegou a Dortmund, não conseguiu ter o mesmo emprego e salário. No Irão tinha uma empresa de publicidade e agora é editora dos programas da MyTideTv. "Não é fácil quando tivemos educação mas não a podemos usar na Alemanha. Mas eu tento fazer mais e melhor aqui para tentar ter uma melhor posição [na carreira]."
Aprender alemão é o primeiro passo na integração. Recorda que a primeira dificuldade foi não saber o idioma. "A língua alemã é difícil e a cultura é diferente e, tal como os bebés, temos de voltar a crescer", diz PoOy Eh. Quando chegou à Alemanha, o refugiado Mohammed sentiu a mesma dificuldade, pois só sabia falar árabe. Agora já mistura o alemão com o inglês enquanto fala.
Mohammed está pronto para sair do asilo em Dortmund. Vai procurar um emprego na Alemanha que dê para conciliar com o curso universitário. "Um dia, quero voltar para a Síria e estar com a minha família”, diz o jovem sírio. Mas não é caso único. Também PoOy Eh, refugiada iraniana da MyTideTV gostaria de voltar à sua terra-Natal: "Pretendo voltar, mas não posso, senão o Governo do Iraque mata-me, porque eu era muçulmana mas converti-me ao cristianismo, o que é ilegal no Irão."
Milhares de migrantes atravessam Níger rumo à Europa
São jovens oriundos da África Ocidental e fazem tudo para chegar à Europa. Estão mesmo dispostos a arriscar a vida, atravessando o deserto, rumo ao Mediterrâneo. Mas nem todos são bem sucedidos.
Foto: DW/A. Cascais
Apoio aos "menos bem sucedidos"
Em Niamey existe um centro de acolhimento da Organização Internacional para as Migrações (OIM). Aqui são acolhidos os jovens "revenants", que não conseguiram atravessar o deserto e se veem obrigados a regressar aos seus países de origem. A OIM, que faz parte do sistema das Nações Unidas, dá-lhes abrigo provisório, alimentação e apoio na obtenção de passaportes e outros documentos.
Foto: DW/
À espera do regresso a casa
Os jovens que procuram apoio no centro da OIM vêm dos mais diferentes países: Guiné-Conacri, Mali, Senegal, Gâmbia ou Guiné-Bissau, movidos sobretudo por objetivos económicos. Muitos tiraram cursos superiores, mas não arranjam trabalho. Muitas famílias apostam na emigração de pelo menos um filho. Caso esse filho seja bem sucedido poderá eventualmente apoiar economicamente o resto da família.
Foto: DW/A. Cascais
Frustrados por terem falhado a Europa
Muitos investiram todas as suas economias, pediram dinheiro a familiares e perderam tudo. Agora esperam pelo regresso aos seus países com a sensação de terem sofrido grandes derrotas pessoais. Os assistentes sociais falam de casos em que os jovens não se atrevem a voltar ao seio das suas famílias, "por sentirem vergonha". Precisam de apoio psicológico, mas esse apoio não existe.
Foto: DW/A. Cascais
Otimismo apesar das derrotas
Alguns dos migrantes sofrem lesões e contraem doenças durante a travessia do deserto, mas mesmo assim não perdem o ânimo. Em muitos casos, os jovens tentam várias vezes, ao longo da vida, atingir a terra prometida: a Europa. Muitos nunca o conseguem, mas não perdem o otimismo. Em 2016, a OIM prestou apoio a mais de 6 mil "revenants" - migrantes que não foram bem sucedidos no Níger.
Foto: DW/A. Cascais
Espancado na Líbia
Dumbya Mamadou, de 26 anos de idade, oriundo do Senegal, conseguiu atingir a Líbia, depois de uma "odisseia de 5 dias e 5 noites" pelo deserto do Níger. Mas na Líbia foi maltratado. "Os líbios apontaram-me armas e espancaram-me, não têm respeito pelo ser humano", afirma o jovem. Dumbya volta ao seu país de origem com um sentimento de derrota: "Queria estudar na Europa, agora não sei o que fazer".
Foto: DW/
Roubado no Burkina Faso
Mamadou Barry, de 21 anos, oriundo da Guiné-Conacri, tinha um sonho: aplicar em França os seus conhecimentos de marketing e os seus talentos musicais. Mas a viagem rumo à Europa correu-lhe mal. "Fui roubado no Burkina Faso, o primeiro país pelo qual passei", conta. Mesmo assim, Mamadou aprendeu uma grande lição para a vida: "coisas que nunca teria aprendido se nunca tivesse saído de Conacri".
Foto: DW/A. Cascais
Rap contra a frustração
Mamadou Barry tenta digerir as suas derrotas e decepções através da música. Há três anos que o jovem canta e interpreta temas de rap e hiphop de sua autoria. O seu último tema foi escrito em Niamey, capital do Níger, e tem a seguinte letra: "A migração arrasou-me / e ninguém me pode consolar / O Mar Mediterrâneo já matou muitos / e nós cá continuamos: sem comida, sem cama, sem saúde".
Foto: DW/
Central de autocarros de Niamey: uma placa giratória
É da estação de autocarros de Niamey que partem diariamente centenas de furgonetas, muitas delas repletas de jovens migrantes, em direção ao norte. Os migrantes tornaram-se um fator relevante para a economia do Níger. Há muita gente que ganha a sua vida prestando diversos serviços aos migrantes: viagens pelo deserto, alimentação e mesmo cuidados médicos.
Foto: DW/A. Cascais
Mais migrantes tentam atravessar deserto do Níger
O número de migrantes que viajam através dos vastos territórios desérticos do Níger para chegar ao norte da África e à Europa não pára de aumentar, tendo alcançado os 200 mil em 2016, segundo estimativas do escritório da Organização Internacional para as Migrações. Outras fontes falam de 10 mil migrantes que atravessam o Níger por semana. A situacão geográfica do Níger é o fator determinante.
Foto: DW/A. Cascais
Agadez, o "olho da agulha"
Agadez, cidade desértica no Níger, é um dos principais pontos de trânsito no Saara para os imigrantes em fuga de nações empobrecidas do oeste da África. As "máfias" do tráfico humano têm beneficiado do caos na Líbia para transportar dezenas de milhares de pessoas para o continente europeu em embarcações precárias. Os migrantes muitas vezes sofrem abusos dos passadores.