Alunas de uma escola secundária na África do Sul insurgiram-se contra regras que exigem que arranjem o cabelo e não usem o afro natural. O debate desencadeado é aceso.
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O cabelo afro há muito que é tema político: uns acham que é sinal de negligência estética, outros vêm neste penteado uma afirmação da identidade e um sinal de rebeldia. No Quénia, por exemplo, a versão jamaicana conhecida por "dreadlocks" foi usada pelos combatentes da liberdade contra a potência colonial britânica.
Mas os padrões de beleza instituídos no tempo colonial continuam a influenciar as políticas escolares e os padrões de estética no mundo empresarial.
Afirmação da negritude
Recentemente na capital sul-africana Pretória, estudantes da escola secundária Pretoria Girls High organizaram um protesto contra novas regras que obrigam as raparigas a arranjarem o cabelo e falarem apenas em Inglês. O código também impede as alunas de se reunirem dentro das instalações da escola.
Uma antiga estudante da instituição lembra-se que falar uma língua que não seja o inglês dava azo a ser vista com desprezo: "Por exemplo, no intervalo ou mesmo na turma todos os estudantes negros sentam-se juntos e dizem para ninguém falar as línguas maternas, porque isso é mentalidade de bairro pobre."
Há pouco tempo, internautas usaram a rede social twitter para protestar contra esse género de regras, usando o #Stop racismo nas escolas secundárias de Pretória. Depois foi lançada uma petição que obteve mais de 15 mil assinaturas logo nas primeiras 14 horas.
Koketso Moeti, a autora da campanha, disse à DW que esta aconteceu também fora das redes sociais. Os estudantes da Universidade de Pretória, por exemplo, organizaram uma marcha de solidariedade em frente da escola: "Para nós é importante mostrar que há uma grande solidariedade fora da escola. Queremos dizer à escola que não vamos tolerar qualquer forma de vitimização das estudantes, enviando uma mensagem clara à escola de que estes alunos não estão sozinhos."
Perigo para a saúde
Não é a primeira vez que estes problemas acontecem naquela instituição. Moeti diz que já houve casos semelhantes na sua história: "Está claro que isto já aconteceu várias vezes no passado e muitas vezes as raparigas organizaram-se em função do acontecimento. Mas é a primeira vez quem vem à tona desta maneira."
Muitas mulheres africanas conformam-se aos padrões de beleza eurocêntricos, até porque cabelos lisos são sentidos como uma vantagem no mundo do trabalho, por exemplo. Há evidências de que os fortes químicos usados para alisar os cabelos africanos podem penetrar no corpo a partir do couro cabeludo.
Os produtos podem danificar o equilíbrio químico do corpo e criar complicações de saúde, diz a sul-africana Mukwevo: "O que me estão a dizer literalmente é que eu devo colocar químicos no meu cabelo, o que eu acho injusto. Estão a violar os meus direitos enquanto ser humano. Eu nasci assim. Porque tenho de ser mudada porque a opinião dos outros é de que eu tenho de ser mudada? Isto representa a minha negritude, representa o que eu sou como ser humano negro."
Cabelo natural como tendência
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Reminiscências de um passado ultrapassado
Durante o regime do apartheid, o Governo sul-africano fazia o chamado "teste do lápis". Alguém que conseguisse manter o lápis na carapinha quando agitava a cabeça não podia ser classificado como branco. Agora, estão a dizer às alunas da escola Pretoria Girls High que não podem usar o penteado afro.
Uma estudante partilha a sua experiência no Twitter: "No começo deste ano obrigaram duas professoras negras a ajudarem-me a desmanchar as minhas tranças bantu durante uma dupla aula de matemática"
Enquanto as raparigas continuam a exigir poder usar o cabelo de forma natural e falar as suas línguas locais, o debate nacional sobre o racismo prossegue aceso.
O episódio lembra tempos em que os sul-africanos eram punidos por falarem as suas línguas locais. Muitas pessoas pensam que as regras da escola não são apenas uma questão de penteado, uma vez que desenterram questões subjacentes que continuam a flagelar as raparigas e rapazes africanos.
Nathi Mthethwa, ministro sul-africano de Artes e Cultura, juntou-se ao debate, afirmando que é inaceitável proibir os estudantes de falarem as línguas africanas nas escolas.
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O conceito africano da beleza
O conceito do que é belo em África é diverso e está em constante mudança. Máscaras centenárias mostram que muito do que foi tido como belo é hoje questionado – não apenas em África.
Foto: Dirndl à l´Africaine
Orgulho de ser negro
Colonialistas europeus pensavam que os africanos não era civilizados e, além disso, feios. Os africanos reagiram a essa arrogância. Enquanto alguns adotaram a moda e o estilo das elites urbanas europeias, outros se ativeram aos ideiais tradicionais de beleza. Na América do Norte e na África do Sul, desenvolveu-se o grito de protesto "Black is beautiful" (Ser negro é lindo, em inglês).
Foto: Getty Images/Hulton Archive
Cabelos sensíveis
Penteados são, geralmente, não apenas mera expressão de um estilo pessoal, mas também indicam a idade, origem e status de uma pessoa. De todos os tipos de cabelo, o africano é o mais sensível. Facilmente, ele fica seco e sem vida. Hoje em dia, tornou-se novamente popular deixar o cabelo natural, sem recorrer a cabelos sintéticos ou perucas.
Foto: DW/H. Fischer
Cremes de branqueamento
Óleos, cremes e maquiagem são para muitos africanos garantia de uma pele bonita e saudável. Cremes de branqueamento são populares em vários países. Mais de 75% das mulheres nigerianas clareiam a própria pele com cremes especiais. Em toda África, campanhas alertam para a presença de químicos fortes na composição dos cosméticos, que podem causar danos à pele.
Foto: DW/H. Fischer
Moda de protesto
Durante o período colonial, muitos congoleses queriam mostrar que poderiam ser como os europeus. A mera imitação da Moda de Paris evoluiu para um estilo único. Entre os anos 1970 e 1980, os chamados "Sapeurs", os homens extraordinariamente bem vestidos do Congo, passaram a usar as marcas de luxo ocidentais.
Foto: Getty Images/AFP/Junior D. Kannah
O que dita a moda na Tanzânia
Essa escultura também é parte da mostra "Africa's Top Models" em Hamburgo. Para o grupo étnico Maconde, na Tanzânia, um ideal de beleza feminino são os lábios grandes. Na boca é feito um orifício onde é colocado um alargador, que é trocado ao longo do tempo por outros maiores. Alargadores são também usados nas orelhas em alguns locais no Ocidente. Será que eles vão se tornar a próxima tendência?
Foto: DW/H. Fischer
Estilo à moda antiga
Pele avermelhada, cabelos trançados extravagantes e olhos semicerrados. Esta máscara de mais de 100 anos representa uma mulher bonita da etnia Chokwe, na República Democrática do Congo. Muitos povos africanos traduzem desde séculos o ambiente ao seu redor em forma de máscaras e figuras. Os artistas Chokwe faziam as máscaras inspirados em modelos, que eram proibidas de ver o resultado final.
Foto: DW/H. Fischer
Joias como objetos de proteção
Ouro, prata, pérolas, pedras preciosas, cobre, coral, couro e marfim são acessórios de beleza não apenas em África. Mas no continente africano elas carregam uma simbologia. As joias servem como proteção contra maldições e também como talimãs da sorte. Em algumas regiões, pessoas consideradas belas usam joias especiais para se proteger da inveja alheia.
Foto: DW/H. Fischer
Beleza como expressão de bons costumes
Na língua do grupo étnico Ibibio, da Nigéria, a palavra "mfon" significa "belo" e "moralmente bom". "Idiok" quer dizer "odioso" e "moralmente ruim". Os ancestrais da boa moral eram representados por belas máscaras: elas são simétricas, a cor da pele é clara, a testa é alta e as feições são delicadas. As máscaras de ancestrais imorais têm narizes tortos e são desfiguradas.
Foto: DW/H. Fischer
A verdadeira beleza vem de dentro
"Um rosto bonito e um belo vestido não constituem um belo caráter", diz um provérbio congolês. Em muitas culturas africanas, o pensamento é de que os que agem moralmente também são belos. Um comportamento reservado e a bondade altruísta são considerados em muitos lugares, especialmente na Índia, como expressão da "beleza interna".
Foto: DW/H. Fischer
A África é chique!
Não é apenas o Ocidente que exporta o seu conceito de beleza para o mundo. Designers africanos também conquistam as passarelas. Tecidos africanos e cortes tradicionais são populares em outros continentes. Ideais de beleza antigos, como os penteados trançados, são muito populares na Europa e Estados Unidos.