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Estudo: É preciso falar mais sobre alterações climáticas

Debora Antunes | Chrispin Mwakideu
20 de agosto de 2019

4 em cada 10 africanos nunca ouviram falar sobre alterações climáticas, segundo um estudo do Afrobarómetro. Mas muitos já veem a influência do clima na agricultura. Investigadores recomendam mais consciencialização.

Foto: picture-alliance/APA/H. Fohringer

58% dos inquiridos no estudo do Afrobarómetro disseram que já ouviram falar sobre "alterações climáticas", mas muitos (quatro em cada dez) continuam a não saber do que se trata. Isto, apesar de África ser um dos continentes mais vulneráveis aos efeitos das mudanças climáticas, segundo as Nações Unidas.

No estudo, os países que aparecem com um maior grau de consciencialização são as Maurícias (83%), o Malawi (78%) e o Uganda (78%). Cabo Verde e São Tomé e Príncipe também aparecem entre os mais bem informados, com 71% e 67% respetivamente.

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Mas, em Moçambique, só 52% dos entrevistados disse ter ouvido falar sobre as mudanças climáticas. A pesquisa ressalva, no entanto, que os dados do país foram recolhidos antes da passagem dos ciclones Idai e Kenneth, em março e abril deste ano.

Segundo o estudo, variáveis demográficas e sociais podem explicar estes dados. Com exceção da África do Sul - um dos países com maior grau de escolaridade no continente - os grupos menos familiarizados com o termo "mudanças climáticas" incluem sobretudo "moradores de áreas rurais, mulheres, pessoas pobres e com menor grau de escolaridade, assim como pessoas que trabalham na agricultura".

Mudanças são visíveis

Ainda assim, muitas pessoas constatam os efeitos das alterações climáticas no seu dia-a-dia. A esmagadora maioria dos entrevistados no Uganda (85%), Malawi (81%) e Lesoto (79%), por exemplo, reconheceu ter mais dificuldades na agricultura por causa do clima.

A seca é um dos principais problemas apontados, além de inundações, citadas também pela maior parte dos entrevistados do Malawi, Madagáscar e eSwatini. 

"Estes [padrões meteorológicos atípicos] revelam mudanças de longo prazo nas temperaturas, que acabam por afetar os padrões de precipitação e a capacidade de África, como um todo, produzir comida", alerta Gugu Nonjinge, coordenadora de comunicação para a África Austral da instituição de sondagens pan-africana Afrobarómetro.

"Os agricultores no Uganda esperam eternamente por chuva e a África do Sul sofreu inundações", acrescenta.

Moçambique e Marrocos foram os últimos na lista de países sobre a perceção dos impactos negativos na agricultura, com 21% e 16% respetivamente.

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Recomendações

No geral, 67% dos africanos que ouviram falar das alterações climáticas dizem que as mudanças estão a tornar a sua vida "um pouco pior" (34%) ou "muito pior" (33%). Apenas 18% acreditam que a qualidade de vida no seu país está a melhorar.

O impacto negativo das alterações climáticas é sentido particularmente na África Oriental, onde nove em cada dez cidadãos que já ouviram falar das alterações climáticas dizem que a sua vida está a piorar.

Mas, segundo o estudo, é preciso consciencializar mais pessoas sobre as alterações climáticas e o impacto da atividade humana no clima. A pouca compreensão sobre estes fenómenos, associada à alta vulnerabilidade de muitos países às mudanças climáticas, coloca-os entre os menos preparados para responder a este problema, de acordo com a pesquisa do Afrobarómetro - Moçambique seria um desses Estados.

O estudo sugere que "campanhas de educação destinadas a envolver tanto os governos como o público podem ser especialmente valiosas nesses países." O documento defende ainda que o "aumento do número de pessoas que entendem as causas negativas das mudanças climáticas será provavelmente a chave para motivar os governos em África e globalmente para intensificar a sua preparação e as suas ações para responder a este desafio crescente." 

A pesquisa do Afrobarómetro ouviu 45.823 pessoas de 34 países africanos entre setembro de 2016 e setembro de 2018.

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