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Afrodescendentes pouco interessados na política portuguesa

João Carlos (Lisboa)2 de outubro de 2015

Portugal vai às urnas no domingo. A campanha eleitoral foi dominada por temas como a austeridade e a emigração forçada de portugueses. Problemas que afetam diretamente os imigrantes africanos ficaram em segundo plano.

Coligação PSD/CDS-PP estava à frente nas últimas sondagensFoto: picture-alliance/AP Photo/A. Franca

General Alfredo é português, de origem são-tomense, e está filiado no Partido Socialista (PS) há muitos anos. Vai votar nas eleições legislativas de domingo (04.10).

"Apelo a todos que votem para que isto mude para melhor. Isto não está bem", diz o militante de 91 anos.

Esta sexta-feira, o último dia de campanha, os partidos jogam as últimas cartadas para conseguir a eleição do máximo de deputados à Assembleia da República. Mas poucos afrodescendentes se interessam tanto pela política como General Alfredo.

PS aparece em segundo lugar nas sondagensFoto: picture-alliance/dpa/A. Kosters

É pouco visível a participação ativa destes cidadãos na vida política, refere Jerónimo David, presidente da Federação das Associações Angolanas em Portugal. Autarca na Junta de Freguesia de Santo António dos Cavaleiros e Frielas, ele acompanhou a campanha eleitoral pelo PSD (Partido Social Democrata).

"Nós, como cidadãos que temos o espírito do associativismo e lutámos pelos direitos de cidadania, a política de imigração, devíamos dar uma força aos jovens no sentido de eles votarem. Abstendo-se, vão estar fora do tecido político."

Fosso entre cidadãos e partidos

O economista de origem são-tomense, Armindo do Espírito Santo, membro da Comissão Política da Concelhia do PSD/Odivelas, também diz que, de um modo geral, os africanos de nacionalidade portuguesa estão completamente alheios à política em Portugal. Nem sequer se mostram interessados em filiarem-se nos partidos políticos porque interpretam Portugal como um "país dos outros".

Na verdade, acrescenta, tais africanos interiorizaram a nacionalidade portuguesa como um mero instrumento administrativo através do qual, entre outros, podem aceder mais facilmente ao emprego e a benefícios sociais e não para o exercício do direito de cidadania.

Fosso entre partidos e cidadãos

Mas os partidos também se distanciam cada vez mais das realidades em que vivem as comunidades africanas, lamenta Carla Marie Jane, do Centro Cultural Africano.

Por isso mesmo, a moçambicana encontrou-se recentemente com as forças políticas portuguesas. "Resolvemos juntar todos os partidos políticos e confrontá-los com a nossa realidade. Criámos um caderno de encargos, tínhamos as nossas propostas e tentámos perceber quem melhor nos iria apoiar nestes tempos tão difíceis. Propúnhamos, por exemplo, um Alto Comissariado que fosse imigrante, porque acreditamos que, sendo imigrante, entenderá melhor os nossos problemas e dificuldades."

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Daqui a quatro anos…

Mário de Carvalho, presidente da Associação Caboverdiana de Lisboa, sublinha que é preciso mais informação e mobilização das comunidades para que os seus representantes possam ganhar visibilidade no xadrez político e nos centros de decisão.

"Nas autarquias, estamos a conquistar um espaço de certa visibilidade no seio dos partidos políticos. Mas, nas legislativas, o trabalho ainda é incipiente. É um processo que está a ser construído. Acredito que nas próximas eleições legislativas vamos ter mais cabo-verdianos em lugares de destaque. O objetivo é chegarmos lá por mérito."

Nestas legislativas, o cabo-verdiano Miguel Fortes aparece em 13º lugar como candidato pelo PS no distrito de Setúbal. Na lista da coligação Portugal à Frente (PSD/CDS), José Luís Tavares está no 41º lugar.

Ainda são poucos candidatos, comenta Mário de Carvalho. O movimento associativo, admite, pode fazer com que mais pessoas se interessem pela política.

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